Serviços Ecossistêmicos e Valorização da Regulação das árvores urbanas

O conceito de Serviços Ecossistêmicos (SE) englobam os bens e serviços derivados das funções ecossistêmicas utilizados pela humanidade, fornecendo funções reais de suporte à vida, benefícios que as pessoas obtêm.

SERVIÇOS ECOSSISTEMICOS

Os serviços ecossistêmicos resultam de interações complexas entre espécies e seu ambiente abiótico, padrões complexos de uso e utilização, e diversas percepções dos beneficiários. Além do sequestro de carbono, um dos serviços reguladores, o ecossistema fornece recursos provisórios, como alimentos, rações, combustível, fibras e habitat, além de serviços culturais, como estéticos, recreativos e espirituais, e serviços de apoio, como formação do solo, fotossíntese e ciclagem de nutrientes.

As árvores nas áreas urbanas desempenham um papel crucial ao oferecer todas as categorias de serviços ecossistêmicos. Elas são fundamentais para alcançar as metas climáticas, atuando como guardiãs do sumidouro de carbono e contribuindo para sua conservação e aprimoramento. Além disso, as árvores desempenham um papel essencial no armazenamento e sequestro de carbono, conforme evidenciado por estudos.

A eficácia das árvores não se limita apenas à esfera carbono. Pesquisas indicam que elas desempenham um papel significativo na remoção de partículas ambientais, incluindo poluentes SO 2 , contaminantes NO2, poluentes PM 10 e PM 2,5. Além disso, as árvores contribuem para a redução de ruído, melhoria da qualidade do ar, conservação de energia e oferecem espaços recreativos. Essas maravilhas verdes também desempenham um papel crucial na mitigação da ilha de calor urbana e na gestão de águas pluviais intensas.

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Ao mesmo tempo, é importante reconhecer que o plantio e a manutenção da vegetação não são isentos de impactos ambientais. Há uma liberação de carbono de volta à atmosfera devido ao consumo de recursos energéticos e mão de obra associados a essas atividades. A realização de práticas como poda, remoção de árvores, reparação de propriedades danificadas, lidar com lesões causadas pela vegetação e os impactos de incêndios florestais, assim como a remoção de folhas, envolvem a mobilização de pessoas e equipamentos, contribuindo para uma pegada de carbono mais ampla.

Estudos demonstraram que o sequestro anual e o armazenamento de carbono pelas árvores podem atingir quantidades significativas, avaliadas em milhões de toneladas e em valores financeiros na casa dos bilhões de dólares. Além disso, as árvores desempenham um papel fundamental na liberação de oxigênio por meio da fotossíntese. É importante notar que, durante a decomposição, ocorre a liberação de dióxido de carbono, o que, por sua vez, consome oxigênio. As estimativas da produção de oxigênio estão diretamente relacionadas às estimativas do sequestro de carbono. Portanto, quantificar o sequestro e o armazenamento de carbono exclusivamente nas árvores pode ser traduzido em valor financeiro, considerando, por exemplo, o preço das licenças de emissão de CO2 após considerar a relação entre a massa atômica de CO2 e C.

Existem diversas abordagens para atribuir valor aos serviços ecossistêmicos prestados pelas árvores urbanas. A monetização desses ativos municipais pode ser realizada através de diferentes métodos, como a abordagem de mercado, abordagem de custo, custos de substituição, valor compensatório, custo do método de reparação e método de fórmula de tronco. Alternativamente, pode-se adotar uma perspectiva social, utilizando métodos como a disposição a pagar (DAP) ou o método de avaliação contingente. Essa abordagem monetária tem o potencial de oferecer suporte à gestão florestal urbana, embora ainda não tenha sido completamente explorada pelos decisores urbanos.

Ao longo das décadas, uma variedade de métodos e técnicas tem sido empregada para quantificar o valor das árvores e seus benefícios. Métodos de fórmulas tribais, como CAVAT, Szczepanowska, Conselho de Avaliadores de Árvores e Paisagens, Helliwell, Método Padrão de Avaliação de Árvores (STEM sigla em inglês), Burnley, entre outros, são utilizados como meio direto de compensação. Essas fórmulas avaliam o tamanho da árvore (por exemplo, diâmetro à altura do peito – DAP – ou volume da copa), sua condição e estabelecem uma localização ou expectativa de vida para determinar seu valor. Fatores como expectativa de vida e valor estético podem incrementar o valor base, enquanto a presença de morte na copa da árvore pode reduzi-lo.

O método de substituição é amplamente adotado na prática de avaliação de árvores urbanas, sendo especialmente popular nos Estados Unidos, onde é oficialmente utilizado para apoiar as decisões de planejamento. O valor de “substituição” de uma árvore é considerado a parte mais objetiva e substancial da avaliação, sendo a base para diversos métodos de avaliação de árvores em diferentes países. Na legislação polonesa, por exemplo, o valor de substituição é utilizado para resolver reclamações relacionadas a árvores, conforme estabelecido no Código de Processo Civil.

Outra abordagem para quantificar o valor das árvores é destacar os serviços anuais que elas fornecem aos ecossistemas. O I-Tree Eco é uma ferramenta amplamente reconhecida para ilustrar esses serviços ecossistêmicos e tem sido aplicado em 130 países. Desenvolvido pelo Serviço Florestal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o modelo I-Tree Eco é utilizado nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália e Canadá para avaliar os serviços ambientais proporcionados pela vegetação urbana. A importância do tamanho das árvores é enfatizada, pois influencia significativamente os serviços ecossistêmicos, como a redução da poluição, a promoção dos benefícios para a saúde e a diminuição da desigualdade espacial. Muitos estudos se concentram no serviço ecossistêmico regulatório, medido facilmente com dados de sensoriamento remoto e o modelo I-Tree Eco. Em contraste, a pesquisa sobre biodiversidade em florestas demanda grandes conjuntos de dados e só recentemente começou a atrair mais atenção dos pesquisadores.

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A saúde geral das árvores desempenha um papel crucial tanto na Valorização da Regulação (VR) quanto no fornecimento de Serviços Ecossistêmicos (SE), sendo a vitalidade um indicador fundamental. Estudos confirmam que o sequestro de carbono é afetado negativamente quando a vitalidade das árvores diminui. A avaliação da vitalidade pode ser realizada por meio de medições de fluorescência da clorofila no tronco e folhas, além de métodos visuais que consideram o tamanho da copa, densidade da copa, número de galhos mortos e crescimento epicórmico.

Diversos fatores, como idade, localização e condições do local, influenciam a vitalidade das árvores. O estresse hídrico e altas temperaturas também desempenham um papel, embora não sejam incluídos nos cálculos de Serviços SE e VR. A idade das árvores é crítica para a produção de biomassa e pode afetar a taxa de produção de oxigênio, sendo que geralmente a produção diminui com o envelhecimento. Florestas em estágios climáticos estáveis podem sequestrar menos carbono em comparação com florestas em vegetação sucessional em constante crescimento, impactando também a produção de oxigênio.

A especificidade do local, incluindo as condições do sistema radicular e o desenvolvimento da copa, é determinante para o crescimento das árvores. Atividades humanas, como habitação, comércio, transporte, recreação e agricultura, influenciam os padrões das árvores urbanas, variando de acordo com o uso do solo, como áreas residenciais, recreativas e de infraestrutura. Nas cidades, três grupos de árvores urbanas são mais comuns: árvores de rua, árvores em áreas residenciais e árvores de parques.

Árvores urbanas

As árvores urbanas enfrentam mais estresse em comparação com aquelas que crescem em seu ambiente natural. Por isso, as árvores nas ruas de muitas cidades têm diretrizes de manutenção específicas, requerendo cuidados intensivos e proteção. Enquanto as árvores de parques podem desfrutar de condições de crescimento mais favoráveis, sua longevidade é muitas vezes maior do que as árvores de rua, exigindo, no entanto, atenção especial em relação à poda para garantir a segurança dos usuários do parque e suas propriedades. Árvores em áreas residenciais multifamiliares, muitas vezes de propriedade privada, são mantidas por entidades privadas designadas por cooperativas ou proprietários, estando sujeitas a requisitos específicos em relação a tamanho, floração, entre outros, e a manutenção é custeada pelos residentes, seguindo regulamentos e legislação local. A falta de manutenção ou preocupações excessivas com a segurança podem afetar a expectativa de vida das árvores.

Fonte: Comparação dos cálculos de Serviços Ecossistêmicos e Valor de Reposição realizados para árvores urbanas – ScienceDirect

Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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