Entenda os protestos de agricultores na Europa

Nas últimas duas semanas, manifestações de agricultores têm se difundido por toda a Europa. Na França e na Bélgica, inúmeros bloqueios foram instalados em estradas e acessos a mercados de alimentos, incluindo um porto de contêineres crucial.

protestos de agricultores na Europa
Protesto nas proximidades do parlamento europeu, em Bruxelas. Foto: Pier Marco Tacca/Guetty

Na Bélgica, produtores expressaram sua insatisfação atirando ovos e pedras no Parlamento Europeu, erguendo uma barricada em chamas próximo ao prédio na última quinta-feira (1º). Além disso, protestos têm ocorrido na Espanha, Itália, Portugal, Grécia e Alemanha.

As causas atribuídas a esses eventos incluem a queda nos preços de venda dos alimentos, o aumento dos custos, regulamentações rigorosas, endividamento, desafios relacionados às mudanças climáticas e a presença de importações estrangeiras a preços competitivos.

Uma reportagem do The Guardian ressalta que os custos com energia, fertilizantes e transporte aumentaram em vários países da União Europeia, especialmente após a invasão russa na Ucrânia, em fevereiro de 2022.

protestos de agricultores na Europa
Autoestrada na França, a A10, bloqueada por tratores em 1 de fevereiro, que ocorrem desde 29/1. Foto: Christian Liewig – Corbis_Getty

Simultaneamente, os preços ao produtor (o valor inicial recebido pelos agricultores por seus produtos) diminuíram quase 9%, em média, entre o terceiro trimestre de 2022 e o mesmo período do ano anterior, de acordo com dados do Eurostat, o Gabinete de Estatísticas da UE.

Quanto às importações, a questão mais significativa se concentra na Europa Central e Oriental, regiões que têm sido inundadas por produtos agrícolas baratos da Ucrânia. A UE, desde a invasão russa, abriu mão de cotas e taxas sobre essas importações, resultando em preços mais baixos.

Esse contexto tem reacendido discussões sobre competição desleal, com foco especial nas negociações para um abrangente acordo comercial entre a UE e o Mercosul. Os agricultores europeus expressam preocupações quanto à perspectiva de uma competição injusta, especialmente no que diz respeito a produtos como açúcar, cereais e carne.

protestos de agricultores na Europa
Os protestos dos agricultores, muitos deles produtores independentes convocados pelas redes sociais, têm afetado desde a madrugada desta terça (6) inúmeras estradas principais e secundárias da Espanha| Foto: EFE/Santi Otero

As alterações climáticas têm desencadeado fenômenos extremos, como secas, inundações e incêndios, globalmente, impactando a produção de alimentos. Nesse contexto, estão sendo implementadas novas regulamentações com o objetivo de reduzir a contribuição do setor agrícola, responsável por 11% das emissões de gases de efeito estufa na União Europeia, para o aumento das temperaturas.

Um ponto de conflito para os manifestantes é a estratégia “do prado ao prato” adotada pelo bloco, como parte do Acordo Verde Europeu, que visa atingir a neutralidade de emissões até 2050. Conforme reportado pelo The Guardian, as metas incluem a redução pela metade do uso de pesticidas até 2030, a diminuição em 20% da utilização de fertilizantes, a destinação de mais terras para usos não agrícolas e o aumento para 25% da produção orgânica em todas as terras agrícolas.

Os agricultores argumentam que muitas dessas políticas ambientais são percebidas como injustas, irreais, economicamente inviáveis e, em última análise, autodestrutivas.

Hoje no mundo: Incêndio florestal no Chile ameaçam Reserva Mundial da Biosfera

Os governos europeus estão adotando medidas para conter as paralisações. Na Alemanha, houve um ajuste nos planos de redução dos subsídios ao diesel. Na França, o aumento do imposto sobre o diesel foi revogado, outras medidas foram adiadas, e foi prometido um auxílio de 150 milhões de euros.

A Comissão Europeia propôs a implementação de um “travão de emergência” para limitar as importações agrícolas da Ucrânia. Além disso, propôs isentar os agricultores, este ano, da obrigação de deixar 4% de suas terras sem produção.

Em adição, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro irlandês, Leo Varadkar, estão se mobilizando para evitar a assinatura do acordo comercial proposto entre a União Europeia e o Mercosul em sua forma atual.

Fonte: Um só Planeta; Forbes; Gazeta do povo.

Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

View all posts by Arthur Brasil →

Comenta ai o que você achou disso...