Usinas propõe inundar 1.085 km² da Amazônia

Um trio de novas hidrelétricas que poderão ser erguidas
na Amazônia prevê a inundação de uma área equivalente à da cidade do Rio de
Janeiro, em uma das áreas ambientais mais sensíveis de toda a região, entre a
fronteira dos Estados do Mato Grosso, Rondônia e Amazonas.

Na última semana, conforme apurou o Estado, a empresa
paranaense de engenharia Intertechne Consultores, que assina projetos de
grandes hidrelétricas erguidas na Amazônia – como Belo Monte, Santo Antônio e
Teles Pires –, registrou pedido de autorização na Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) para estudar a viabilidade de três usinas. As hidrelétricas
seriam erguidas em meio a uma série de unidades de conservação ambiental e
terras indígenas, nos rios Aripuanã e Roosevelt.

O que chama a atenção nos três projetos são as imensas
áreas de vegetação que teriam de ficar debaixo d’água por conta da construção
das barragens, tudo para gerar um volume relativamente baixo de energia. 

AGARE VILHENA / RO 14/12/07 NACIONAL ESPECIAL DOMINICAL GARIMPO DE DIAMANTES / RONDÔNIA. Reserva indígina Rooselvelt, dos índios Cinta Larga, na REGIÃO Amazônica, em Rondônia. Rio Rooselvelt. FOTO EVELSON DE FREITAS / AE   


A usina de Sumaúma, segundo os estudos, teria capacidade
de gerar 458 megawatts (MW) de energia. Para isso, no entanto, inundaria 420
quilômetros quadrados de mata. A hidrelétrica de Quebra Remo entregaria mais
267 MW, desde que 233 km² de floresta fiquem submersos. A terceira usina, a de
Inferninho, prevista para o lendário Rio Roosevelt, onde vivem os índios
cinta-larga, poderia produzir 310 MW de energia, mas deixaria 432 km² de
vegetação cobertos por um lago artificial.

Passada a régua, as três usinas adicionariam 1.035 MW de
energia ao País, com o custo de inundar 1.085 km² da Amazônia, quase a dimensão
de toda a capital fluminense, com seus 1.250 km². Para se ter uma ideia do que
isso representa, a hidrelétrica de Belo Monte, com capacidade de 11.233 MW
previstos para serem retirados do Rio Xingu, possui um reservatório de 478 km².
Como previsto no projeto de Sumaúma, a hidrelétrica de Santo Antônio inundou
420 km², na região de Porto Velho (RO), no Rio Madeira, mas para gerar 3.568 MW
de energia, ou seja, oito vezes o que se promete conseguir com a nova usina.

Crítica.

Criticadas por organizações socioambientais, os projetos
hidrelétricos já foram analisados pela empresa espanhola Endesa e a estatal
Eletronorte, da Eletrobrás. Chegaram inclusive a serem incluídos como planos do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mas foram deixados de lado por
conta da complexidade em que estão metidos. Já se sabe que há diversas unidades
de conservação ambiental que seriam diretamente atingidas pelos lagos. Além de
diversas terras indígenas demarcadas no entorno da região.



O presidente da Intertechne, Antonio Fernando Krempel,
admite as dificuldades de avançar com os empreendimentos como estão, mas diz
que “é possível fazer uma abordagem diferente, reduzindo impactos”.

Krempel não detalhou quais seriam os novos impactos, mas
garantiu que já é possível dizer que os projetos têm condições de saírem do
papel. “Nossa intenção é realizar novos estudos e aprofundar. O que pretendemos
fazer é uma abordagem diferente em relação ao que havia nos estudos de
inventário”, disse. “Fizemos algumas simulações, ainda teremos que fazer alguns
levantamentos topográficos, mas sabemos que há alternativas viáveis.”

A empresa está disposta a gastar cerca de R$ 20 milhões
em cada estudo técnico. O prazo para que os levantamentos fiquem prontos é de
um ano e meio, em média. Apesar de ter atuado até hoje como uma empresa de
engenharia contratada por terceiros para realizar projetos de usina, a intenção
da companhia paranaense é entrar nas novas usinas como investidora, em
sociedade com companhias do setor elétrico.

(via André Borges, brasília,O Estado de São Paulo).



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