A pergunta que há mais de cinquenta anos divide a comunidade científica ganhou novos contornos com um estudo publicado em março de 2025 na revista Nature, liderado pelo biólogo brasileiro Thiago Gonçalves-Souza, da Universidade de Michigan, junto a 26 pesquisadores de oito países.

Desde os anos 1970, cientistas debatem qual o melhor modelo para proteger a biodiversidade: grandes blocos contínuos de floresta ou áreas de mesmo tamanho divididas em fragmentos menores. Há quem defenda que a soma de muitos fragmentos pode abrigar uma diversidade até maior de espécies, justamente por apresentarem características ecológicas distintas entre si.
“Mesmo que haja perda de espécies localmente, a heterogeneidade entre fragmentos poderia aumentar a diversidade total da paisagem”, explica Gonçalves-Souza. Essa visão, no entanto, é questionada por seu novo estudo, que analisou dados de 37 pesquisas conduzidas em paisagens de seis continentes.
A conclusão foi clara: a diversidade de espécies nos fragmentos florestais é, em média, 12% menor que em grandes áreas contínuas, mesmo quando se soma toda a biodiversidade dos fragmentos. “A perda local é tão significativa que nem a variação entre os fragmentos consegue compensar”, afirma o biólogo. “A biodiversidade da paisagem como um todo também é reduzida.”
A pesquisa reacendeu o debate com cientistas como a canadense Lenore Fahrig, defensora da importância dos pequenos fragmentos. Em nota à Mongabay, ela questionou a metodologia do estudo e alertou que os resultados podem ser mal interpretados, levando à desvalorização de áreas menores importantes para a conservação.
Na prática, a discussão é especialmente relevante para biomas como a Mata Atlântica, onde 97% da vegetação restante está dividida em fragmentos com menos de 50 hectares. Com apenas 24% de sua cobertura original preservada, encontrar grandes blocos de floresta se tornou raro, restrito a áreas como a Serra do Mar.
Segundo Luís Fernando Guedes Pinto, diretor da Fundação SOS Mata Atlântica, essa fragmentação dificulta a sobrevivência de espécies mais exigentes. “Grandes felinos como a onça-pintada precisam de milhares de hectares para se reproduzir. Sem áreas extensas, não há espaço para populações saudáveis.”
Além disso, as bordas desses fragmentos — locais de contato com cidades, estradas ou lavouras — são mais vulneráveis a invasões, queimadas e alterações de temperatura e umidade, prejudicando espécies sensíveis. “Essas bordas não servem de habitat para muitas espécies”, diz Pinto.
Para gestores ambientais, compreender onde a biodiversidade é maior é fundamental para direcionar os recursos escassos da conservação. Mas o pesquisador Lucas Ferrante (USP e UFAM) alerta que a resposta não está apenas no tamanho da área protegida.
“Depende do objetivo. Se a meta é conter o avanço do desmatamento na Amazônia, precisamos de grandes unidades de conservação. Mas se for proteger espécies ameaçadas, temos que ver onde elas estão — e muitas vivem apenas em pequenos fragmentos.”
Gonçalves-Souza concorda: fragmentos menores têm sim valor e devem ser restaurados. Um bom exemplo é a Mata Atlântica, que, em 2024, teve mais área regenerada do que desmatada pela primeira vez. “Sem investir na restauração, a perda de biodiversidade será ainda mais severa.”
Fonte: Mongabay
Descubra mais sobre Florestal Brasil
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.