ESG – Porque e como surgiu esse termo?

O ESG transcende a mera conformidade regulatória, transformando-se em um paradigma que redefine a maneira como as empresas operam.
Environmental, Social and Govenance / Ilustração: Renata Miwa

Existem muitas razões pelas quais acredita-se que uma empresa com práticas ESG é mais confiável ou é considerada mais sustentável em seus processos de produção e com menor risco de ocorrência de escândalos administrativos.

Fato que vem sendo tratado fortemente nos últimos anos, tendo em vista que, empresas que demonstrem maior interesse por pautas ambientais, tem uma melhor recepção de seus produtos por parte dos consumidores e consequentemente, maior lucratividade.

A sigla ESG tem origem no inglês e em uma tradução livre, significa; Ambiental, Social e Governança.

Milon Friedman – Estatístico e Economista

Na década de 1970, o economista Milton Friedman divulgou um manifesto que vale a pena ser analisado, no qual ele defendia aquilo que julgava ser o papel social de uma empresa. De acordo com o Economista; “Existe um e apenas um papel social da empresa – que é, usar seus recursos e se engajar em atividades destinadas a aumentar seus lucros.”

Penso que seja um ponto pacífico aqui, dizer que essa é uma visão antiquada e no mínimo descolada da realidade, ao menos se observarmos esse pensamento à luz das perspectivas atuais, momento em que já tem-se a noção de que o papel de uma empresa está longe de ser apenas um gerador de renda para os acionistas e sim muito mais próximo da comunidade à qual essa empresa está associada ou no caso de empresas globais, aos insumos que ela utiliza, aos trabalhadores que nela atuam e aos trabalhadores que atuam na produção de suas matérias primas.

Pois, uma empresa que tem como primícia a visão simplória do Sr Friedman, tem grandes chances de ser eliminada do mercado pelos concorrentes que em parte já tem uma consciência a respeito dessas questões e em outra parte, tem os que já sacaram que passar a imagem de que se importa com esses pontos, pode fazer com que o publico tenha uma percepção mais amigável a respeito da empresa.

Mas dito tudo isso, então, o lucro é de fato importante? Óbvio que sim!

O lucro continua sendo o item essencial essencial para o sucesso de uma empresa, mas é cada vez mais claro que ele depende da sustentabilidade ambiental, social, além de uma boa governança.

E ai chegamos no tema de fato, o ESG.

O termo ESG surgiu pela primeira vez em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), o Global Compact de 2004: Intitulado “Who Care Wins”: Connecting Financial Markets to a Changing World.

o ex-Secretário Geral da ONU propôs uma iniciativa conjunta de instituições financeiras para “desenvolver diretrizes e recomendações sobre como integrar melhor as questões ambientais (Environmental), sociais (Social) e de governança corporativa (Governance).

ASSISTA NOSSO VÍDEO SOBRE ESSE TEMA

https://www.youtube.com/watch?v=DH3JivZrZfI

Desde então, as empresas têm procurado adotar práticas ambientais, sociais e de governança mais eficientes, alinhando-se às análises e indicadores específicos dessas áreas. O objetivo é criar valor para os acionistas e obter uma vantagem competitiva no mercado em que operam.

O ESG transcende a mera conformidade regulatória, transformando-se em um paradigma que redefine a maneira como as empresas operam, atraem investimentos e interagem com suas comunidades.

Os índices de ESG refletem as iniciativas das empresas que geram impacto para remediar os danos ao meio ambiente, injustiças sociais e melhorar as suas práticas de governança, seja a empresa pertencente ao setor público ou mesmo pertencente ao setor privado.

E a titulo de curiosidade sobre o tema, de acordo com dados do Social Investment Forum´s (2006), os investimentos em empresas com responsabilidade social cresceram 258% desde 1995, variação maior do que a dos ativos administrados nos Estados Unidos. Os dados de 2006 da Mercer Investment Consulting reportam que de todos os investimentos do Reino Unido cerca de 47% são investimentos comprometidos com o Environmental, Social and Governance (ESG).

E pra ficar mais claro, vou resumir o que são essas vertentes;

Ambiental: demonstra o compromisso da empresa com redução de desperdícios, emissão de gases carbonos, poluição e ações em prol da reciclagem, reutilização de materiais e também de insumos

Social: Trata das ações em prol da diversidade e erradicação de discriminação, assédio e diferença salarial entre gêneros e a tomada de ações visando beneficiar a comunidade local.

Governança: Se trata da organização da empresa quanto a implementação de conselhos, estruturação e hierarquia da empresa, criação de políticas internas e canais de denúncia, entre outras.

Claro que cada um desses eixos da sigla, podem ser expandidos em outro momento e com claras exemplificações, no entanto, esse texto se propõe a uma visão mais geral para entendimento do tema e uma proposição de um contraponto ou um contrassenso a respeito desse tema, que por sinal certamente vai se manter presente em questões de concursos e vestibulares por um bom tempo.

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Inclusive porque, atualmente, essa tendência já está se tornando um comportamento comum entre os investidores de toda as partes do mundo para definirem suas carteiras de investimento, pois, acredita-se que uma empresa com práticas ESG é mais confiável e sustentável ao longo do tempo, com menor risco aparente em suas operações ou a diminuição de escândalos administrativos.

Segundo o Journal of Finance, o valor da empresa no mercado aumenta apenas pela menor exposição a possíveis riscos desse gênero, com potencial para uma diminuição drástica no seu valor em um curtíssimo período de tempo, como aconteceu com a Vale no Brasil em relação aos desastres de Mariana e Brumadinho que ocorreram em 2015 e 2019 respectivamente, e que foram resultados claros de muita negligência de diversos alertas técnicos que resultaram na morte de centenas de pessoas, somadas à degradação ambiental de extensas áreas, fato que pode ser notado por exemplo na decisão da 5ª Vara, com a juíza Vivianne Correa considerando que a Vale foi culpada pela tragédia de Brumadinho por conhecer os riscos de rompimento da barragem, pois considerou que a mineradora escolheu correr o risco e, assim escolhendo, agiu com negligência, sentenciando a empresa ao pagamento de 100 Milhões de Reais as famílias dos trabalhadores falecidos.

Desde os acontecimentos, a Vale tenta se provar uma empresa melhor, depois de muitas mudanças na sua forma de negócio e de indenizações. Porém, com a nova agenda ESG, ainda não se mostrou o suficiente para se manter bem posicionada entre os grandes players do mercado, como a JGP, uma das primeiras gestoras do Brasil que se especializaram em fundos ESG, e o principal fundo soberano da Noruega, que retirou a Vale de seus investimentos.

Sendo assim, me faz pensar sobre o que de fato é o ESG! Uma estratégia que visa ajudar empresas a de fato diminuírem suas emissões de poluentes, melhorar sua rotina laboral através de boas práticas enquanto como consequência dessas mesmas boas práticas, tem seu valor de mercado incrementado? Ou Uma forma de incrementar de forma instantânea o valor de mercado de empresas que se esforçam pra maquiar suas ações da maneira mais fiel `a uma empresa que da fato tem valores ambientais sendo considerados em sua rotina produtiva?

Se for a primeira, excelente! É assim que o mercado atua, com causas e consequências, no entanto, se for a segunda, temos um nome já bem consolidado pra esse tipo de ação. O Greenwashing! Inclusive temos um Mini Doc em nosso canal no YouTube explicando especificamente sobre esse ponto, sobre essa estratégia que apesar das tentativas em esconder, já são usadas a tempos por grandes grupos comerciais.

Ainda seguindo o exemplo da Vale após os desastres

Dessa forma, é possível perceber que a classificação da Vale como empresa ESG é ligeiramente controversa, uma vez que a observamos dentro e fora de investimentos sustentáveis ao mesmo tempo. Por exemplo,  A mineradora saiu do grupo de empresas mais sustentáveis da bolsa de valores brasileira a BOVESPA em 2019, em função das constantes críticas e falhas em relação à segurança de suas operações, Afinal, o funcionamento de uma mineradora conceitualmente, já fere o termo ambiental da abordagem ESG, contudo, se suas práticas foram sustentáveis e a empresa desempenhar um papel ecológico na operação, seja com medidas compensatórias e mitigadoras,  ainda pode obter uma nota boa, que de acordo com a MSCI (Morgan Stanley Capital International), a nota em ESG vai de AA até a CC, a primeira sendo a nota máxima positiva e a última sendo a extrema negativa. A análise leva em consideração a operação da empresa, o setor de atuação, e como ela se comporta em relação às suas responsabilidades.

As questões ambientais, sociais e de governança passaram a receber mais atenção das organizações. Essa tendência tem duas explicações. A primeira está relacionada com uma reparação histórica e contextual, em que as organizações ao desenvolver uma determinada atividade econômica específica, consequentemente impacta, em muitas vezes, de forma negativa, o meio ambiente e, consequentemente, prejudicando a comunidade onde está inserida.

A segunda, por seu turno, visa a geração de valor para a organização, isto porque as boas práticas relacionadas às questões ambientais, sociais e de governança passaram a ser avaliadas pelo mercado financeiro e as empresas que possuírem indicadores de ESG adequados estarão à frente de seus concorrentes e terão seus ativos melhores avaliados pelo mercado.

As empresas, então, tendem a ser avaliadas por seus stakeholders em relação ao seu desempenho no mercado competitivo e pelo seu desempenho em relação a conduta e valores não financeiros.

Claro que existem intervalos enormes entre a teoria e a execução dessas práticas, intervalos esses, que podem ser a raiz de profundos problemas estruturais nessas organizações, que podem mudar e se reorganizar ou manter os problemas, enquanto vende a imagem de que mudou suas ações em prol da lucratividade.

Esse é um tema complexo, e merece de leituras e embasamento para cada um dos itens abordados nesse texto, que claro, é um recorte do tema.

Comenta com a gente tua percepção sobre esse assunto.

Por aqui é isso, até a próxima.

Fontes:

 

Reure Macena

Engenheiro Florestal, formado pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), Especialista em Manejo Florestal e Auditor Líder - Sistema de Gestão Integrada (SGI). Um parceiro do Florestal Brasil desde o início, compartilhando conhecimento, aprendendo e buscando sempre a divulgação de informações que somem para o desenvolvimento Sustentável do setor florestal no Brasil e no mundo.

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