Cerca de 75% das plantas não catalogadas, correm risco de extinção

plantas não catalogadas em risco de extinção
Estudo diz que mais de 75% das espécies de plantas ainda não catalogadas do planeta já estão ameaçadas de extinção. — Foto: Pexels

A necessidade urgente de preservar a biodiversidade se torna cada vez mais evidente, à medida que os impactos devastadores das ações humanas e das mudanças climáticas sobre a natureza se agravam. Um marco significativo nessa busca pela conservação foi o Acordo Global de Biodiversidade Kunming-Montreal, celebrado na COP-15 no ano passado.

No entanto, quando nos voltamos para o reino das plantas e fungos, uma questão aparentemente simples desafia os especialistas: quantas espécies desses organismos existem no mundo? A preocupação em torno desse dilema ganha ainda mais relevância agora, à luz de um novo estudo que revela que mais de 75% das espécies de plantas ainda não catalogadas no planeta já estão ameaçadas de extinção.

A quinta edição do estudo intitulado “Estado das Plantas e Fungos do Mundo” foi divulgada pela equipe de pesquisa do Kew Gardens, o prestigioso jardim botânico real do Reino Unido. Este compêndio reúne análises provenientes do trabalho de mais de 200 pesquisadores internacionais e engloba 25 artigos científicos de vanguarda, oferecendo uma visão abrangente das pesquisas mais recentes sobre a biodiversidade vegetal e dos fungos.

De acordo com os autores dessa revisão, o fato de continuarmos a descobrir um grande número de novas plantas e fungos a cada ano é uma realidade que se desenrola em meio à perda de biodiversidade e às mudanças climáticas. Isso indica que temos um longo caminho a percorrer, e que organismos de valor inestimável podem estar desaparecendo antes mesmo de serem compreendidos pela humanidade.

“Em um momento em que as plantas e os fungos estão cada vez mais ameaçados, é imperativo agir rapidamente para preencher as lacunas de conhecimento e identificar prioridades para a conservação”, declara o Professor Alexandre Antonelli, Diretor de Ciência do Royal Botanic Gardens (RBG), à Euronews.

O estudo aponta que aproximadamente 350 mil espécies de plantas “vasculares,” ou seja, aquelas com tecidos especializados para o transporte de água e nutrientes, já são conhecidas pela ciência. A maioria esmagadora das espécies de plantas se encaixa nessa categoria. O grande desafio reside no fato de que cerca de 100 mil delas ainda não receberam uma denominação formal, e os cientistas temem que essas espécies estejam sob ameaça iminente. As estimativas mais recentes do Kew Gardens sugerem que três em cada quatro plantas vasculares não catalogadas já podem estar em risco de extinção.

Esse número alarmante foi obtido ao relacionar dados da Lista Global de Plantas Vasculares (World Checklist of Vascular Plants – WCVP) com a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. Essa análise revelou uma ligação evidente: mais de 77% das espécies descritas em 2020 preenchem os critérios para serem consideradas ameaçadas, o que indica que o perigo é igualmente real para aquelas que ainda não foram descobertas.

Outra descoberta preocupante se concentra nas plantas com flores, onde os pesquisadores afirmam que 45% de todas as espécies conhecidas podem estar sob ameaça de extinção, com as delicadas orquídeas figurando entre as mais vulneráveis.

Diante desse cenário crítico, os cientistas argumentam que é prudente considerar novas espécies como ameaçadas até que se prove o contrário. Eles sustentam que muitas espécies recentemente catalogadas possuem áreas de distribuição extremamente restritas (muitas vezes limitadas a um único local) e estão sofrendo declínios populacionais e/ou perdas de habitat significativas.

“Se a nossa recomendação for adotada, ela tem o potencial de contribuir significativamente para a proteção de dezenas de milhares de espécies ameaçadas que ainda não foram catalogadas. Estas espécies seriam tratadas como ameaçadas assim que fossem identificadas por nós”, destaca Matilda Brown, pesquisadora especializada em Avaliação e Análise de Conservação no Kew Gardens.

Os cientistas enfatizam a necessidade premente de iluminar as chamadas “manchas escuras de biodiversidade” no planeta, que são áreas onde falta informação sobre a diversidade e distribuição das plantas. Entre os 32 locais identificados como carentes de dados, cerca de 44% estão localizados na região da Ásia tropical, delineando claramente as áreas que exigem um trabalho de campo mais intensivo.

A importância de nomear e proteger todas as plantas é evidente. Conhecer uma espécie permite aos pesquisadores compartilhar informações, avaliar seu estado de conservação para determinar se está em risco de extinção e explorar seu potencial benefício para a humanidade. As plantas e os fungos sustentam a vida na Terra, fornecendo alimentos, medicamentos, vestuário e matérias-primas para diversos produtos.

Felizmente, dois avanços significativos estão aprimorando a precisão na identificação de espécies vegetais e fúngicas, conforme relatado pela Euronews. Em primeiro lugar, a World Checklist of Vascular Plants (WCVP) foi finalmente compilada pelo botânico belga Rafaël Govaerts após 35 anos de pesquisa. Ele compartilha: “Há mais de 160 anos, Charles Darwin sonhava com uma lista abrangente de espécies de plantas de todos os cantos do globo. Este também tem sido o meu sonho, motivado pela destruição desenfreada das florestas tropicais e da biodiversidade em geral, que testemunhei desde quando era estudante.”

Em segundo lugar, as análises de DNA em amostras de solo em todo o mundo têm proporcionado um influxo de informações valiosas sobre a diversidade de fungos. Até o momento, apenas 155 mil espécies de fungos receberam uma nomenclatura formal. No entanto, há muito tempo os pesquisadores suspeitam que o reino dos fungos é tão diverso, se não mais, do que o das plantas e dos animais.

Graças, em parte, aos avanços tecnológicos, os cientistas estimam que existam cerca de 2,5 milhões de espécies de fungos em todo o mundo. Isso significa que mais de 90% das espécies de fungos permanecem desconhecidas para a ciência, e apenas 0,02% delas tiveram seu nível de ameaça global de extinção avaliado. Este é, sem dúvida, um avanço significativo, mas também destaca a extensão do trabalho que ainda está por vir.

Fonte: Um só Planeta

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