Amazonas deverá ter seca pior do que em 2023

Ano passado, o estado do Amazonas enfrentou a pior seca de sua história, e especialistas preveem que este ano será ainda mais severo. Faltando poucos dias para a região entrar no período de estiagem, os rios do bioma já mostram sinais preocupantes.

Imagem acima: Comunidade ribeirinha às margens do rio Purus, no sul amazonense, durante a seca de 2023. Crédito: João Maciel de Araújo.

O nível do Rio Negro, em Manaus, por exemplo, diminuiu mais de um metro esta semana em comparação com o ano passado. Já o nível do rio Solimões caiu 26 centímetros entre segunda (17) e terça-feira (18).

O meteorologista Francis Wagner Correia informou ao G1 que a vazante precoce está relacionada à diminuição das chuvas na região. “O padrão de chuvas está bem abaixo da média desde outubro do ano passado em grande parte da bacia amazônica, especialmente na porção central e norte da bacia, afetando os rios em toda essa área”, explicou.

Essa situação impacta fortemente as comunidades ribeirinhas, que dependem da água dos rios para abastecimento. Além da falta de água, enfrentam dificuldades de circulação, já que o transporte na região central da Amazônia depende totalmente do modal fluvial.

Como o AmazonFACE prevê o futuro | Florestal Brasil

A Defesa Civil do Amazonas orienta essa população a estocar água e alimentos. “Estamos falando de um cenário crítico iminente, e um dos problemas que tivemos no ano passado, entre outros, foi o isolamento. Estamos muito preocupados, especialmente com as pessoas mais vulneráveis, como os ribeirinhos, que somam cerca de 4.547 comunidades dispersas no estado”, destacou o coronel Francisco Máximo, secretário da Defesa Civil do Amazonas.

A seca também afeta as empresas locais. A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) emitiu uma nota sobre o tema. “É crucial que o poder público tome medidas urgentes para mitigar os impactos da iminente estiagem, que se aproxima rapidamente e promete ser a mais severa da história. Há o risco real de uma crise econômica, ambiental e social sem precedentes, cujas consequências serão desoladoras”, enfatizou José Jorge do Nascimento Júnior, presidente da entidade.

Diante deste cenário, o G1 informou que um esquema especial para distribuição de insumos e encomendas está sendo planejado. Durante a seca, se a navegação de grandes embarcações nos terminais portuários fluviais em Manaus se tornar inviável, será montado um porto flutuante em Itacoatiara. Lá, balsas transportarão os contêineres até a capital.

Rio Negro, na Amazônia, durante seca de 2023 — Foto: Michael Dantas / AFP

“A cada empresa caberá encontrar sua solução logística. Algumas trarão estoques antecipadamente, outras postergarão. Há uma diversidade de soluções, mas o foco é estar preparado para o pior cenário possível, com até dois meses de seca”, comentou Augusto César Barreto Rocha, coordenador da comissão de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.

Resposta da Amazônia à seca

Pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e do Reino Unido descobriram que a resposta da Amazônia à seca varia conforme os diferentes ambientes florestais e as propriedades das árvores locais. Em artigo publicado na revista científica Nature, eles descrevem que, na região sul da floresta, principalmente sobre formações rochosas conhecidas como Escudo Brasileiro – com solo relativamente fértil e florestas com árvores mais baixas – a resposta à seca foi determinada pelo acesso às águas subterrâneas.

As árvores com acesso a lençóis freáticos rasos “ficaram verdes” durante a seca, enquanto aquelas com lençóis freáticos mais profundos sofreram mais escurecimento da folhagem e morte.

Seca no Amazonas em 2023
Seca no Amazonas em 2023 — Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Em contraste, o norte da Amazônia, dominado pelo Escudo das Guianas – com árvores altas, raízes profundas e solo menos fértil – mostrou-se mais resistente, independentemente da profundidade do lençol freático.

Segundo os pesquisadores, essa nova compreensão das diferenças regionais fornece uma base para decisões de conservação e melhores previsões das respostas das florestas às mudanças climáticas futuras.

“É como se tivéssemos colocado em foco uma imagem borrada”, disse a autora principal Shuli Chen, doutoranda em Ecologia e Biologia Evolutiva na Universidade do Arizona. “Quando falamos sobre a Amazônia estar em risco, falamos como se fosse uma coisa só. Esta pesquisa mostra que a Amazônia é um mosaico rico em que algumas partes são mais vulneráveis à mudança do que outras, e explica por quê. Isso é crucial para compreender e proteger o sistema”, concluiu.

Fonte: Um só Planeta


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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