Reunindo importância cultural, biológica e geológica, os Sítios Naturais Sagrados (SNSs) têm atraído cada vez mais interesse de pesquisas acadêmicas e de políticas públicas de preservação. As áreas que ostentam os SNSs são identificadas mundialmente como lugares consagrados por povos nativos ao longo da história.
Os Sítios Naturais Sagrados da Amazônia referem-se a áreas que possuem profundo significado espiritual e cultural para os povos indígenas e comunidades locais da região amazônica. Esses locais geralmente incluem rios, montanhas, florestas e outras formações naturais consideradas sagradas, servindo como espaços para rituais, cerimônias e conexão com os espíritos ancestrais.
Na Amazônia, os sítios naturais sagrados estão intimamente ligados ao conhecimento ecológico tradicional e à preservação da biodiversidade. Eles desempenham um papel crucial na identidade cultural dos povos indígenas e, muitas vezes, são protegidos por leis e práticas costumeiras. No entanto, esses locais enfrentam ameaças, como desmatamento, mineração e outras formas de degradação ambiental, tornando a sua proteção fundamental tanto para o patrimônio cultural quanto para a conservação ambiental.
Na região amazônica, o Sítio Natural Sagrado da Cachoeira de Iauaretê está relacionado à origem de povos indígenas do Alto Rio Negro e foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro em 2006 pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Entre estes povos habitam os Desana (Umükori Mahsã) e Tukano (Yepamahsã).
“Suas narrativas míticas e bahsese [repertório de expressões utilizados por especialistas indígenas] estão repletas de referências geográficas que delineiam rotas de lugares especiais relacionados à origem do mundo e de seus primeiros ancestrais”, descreve Cisnea Menezes Basilio em seu estudo intitulado Geologia dos Lugares Sagrados dos Povos Umükori Mahsã (Desana) e Yepamahsã (Tukano) em São Gabriel da Cachoeira, Amazonas, Brasil. Cisnea é indígena da etnia Desana – seu nome bahsese é Wisú.
Wametisé
Os wametisé (lugares sagrados) são descritos por esses povos em narrativas míticas conhecidas como Kihti ukuse, que a pesquisadora utilizou em seu estudo como fonte de relatos. Junto de informações bibliográficas e trabalhos de campo, a análise revelou uma interconexão entre a cosmologia indígena e a geodiversidade local. A pesquisadora explica que a abordagem proporciona acesso às narrativas indígenas, incorporando estratégias de geoconservação para salvaguardar o patrimônio geocultural dos povos indígenas do Alto Rio Negro e promover a conservação e preservação sustentável dessas áreas.
Cisnea (Wisú) é mestra em Geociências pelo programa de pós-graduação em Geociências pela UFAM e membro do Grupo de Estudos de Geociências e Meio Ambiente Amazônico Sustentável da UFAM. Atualmente, coordena o Núcleo de Desenvolvimento e Integração da Faixa de Fronteira do Estado do Amazonas (NIFFAM), vinculado à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (SEDECTI).
Fonte: Jornal da USP
Descubra mais sobre Florestal Brasil
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.