O dado, apresentado durante a COP30 em Belém, representa uma das análises mais amplas já realizadas sobre o uso e a ocupação das terras brasileiras. O estudo revela um panorama complexo: embora o país mantenha a maior parte de seu território com cobertura natural, parte significativa dessas áreas não está protegida por lei nem destinada a usos definidos, especialmente na Amazônia.

Atribuição e uso das terras no Brasil
O levantamento da Embrapa Territorial mostra que o uso agropecuário ocupa 31,3% do território nacional, enquanto 65,6% correspondem à vegetação nativa — que inclui florestas, campos e outras formações naturais.
A distribuição é a seguinte:
- Áreas destinadas à preservação e conservação da vegetação nativa em imóveis rurais: 29,0%
(reservas legais, áreas de preservação permanente e excedentes de vegetação em propriedades privadas); - Terras Indígenas, Áreas Militares e Unidades de Conservação de Proteção Integral: 19,7%;
- Unidades de Conservação de Uso Sustentável: 6,5%;
- Vegetação nativa em terras devolutas e não cadastradas: 10,4%, que correspondem a áreas públicas não destinadas, mas ainda cobertas por vegetação natural.
Esses números refletem a soma entre áreas legalmente protegidas e áreas ainda em estado natural, sem uso consolidado.
Terras não destinadas: o elo frágil da conservação
As terras públicas não destinadas representam um dos maiores desafios ambientais e fundiários do país.
São áreas sem registro de propriedade, sem destinação legal e frequentemente localizadas na Amazônia Legal.
Apesar de manterem cobertura nativa, essas terras não estão sob nenhum regime de proteção formal — o que as torna alvos de grilagem, desmatamento ilegal e conflitos fundiários.
Segundo o estudo, essas áreas somam cerca de 10,4% do território nacional, equivalentes a aproximadamente 88 milhões de hectares.
A ausência de destinação coloca em risco uma porção considerável da vegetação natural brasileira, que pode rapidamente ser convertida para uso agropecuário sem um processo regularizado.
Uso agropecuário: eficiência e desafios
O levantamento também dimensiona o espaço ocupado pela agropecuária:
- Lavouras: 10,8% do território;
- Pastagens: 19,4%;
- Silvicultura (reflorestamentos comerciais): 1,1%.
Esses números mostram que o agronegócio brasileiro utiliza menos de um terço do território nacional, ao mesmo tempo em que mantém expressiva cobertura nativa dentro das propriedades rurais, especialmente em biomas como o Cerrado e a Amazônia.
A Embrapa destaca que produtores rurais preservam cerca de 29% da vegetação nativa do país dentro de seus imóveis cadastrados no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (SiCAR).
O Brasil e a narrativa internacional
Os dados reforçam o papel do Brasil como um dos países com maior proporção de cobertura vegetal nativa do planeta.
Contudo, o desafio atual vai além da conservação passiva: é preciso garantir que as áreas não destinadas sejam regularizadas, protegidas e integradas à política fundiária nacional, evitando que se tornem zonas de expansão ilegal do desmatamento.
Além disso, a consolidação dessas áreas é fundamental para o cumprimento das metas brasileiras de neutralidade climática até 2050, especialmente no contexto de iniciativas internacionais como o Fundo Floresta Viva e o Tropical Forests Forever Fund, discutidos na COP30.
O estudo da Embrapa Territorial traz um recado claro: o Brasil ainda é, em sua maioria, um país verde, mas a segurança dessa vegetação depende de políticas públicas consistentes.
Manter a floresta em pé exige mais do que dados — exige destinação, fiscalização e valorização econômica da conservação.
Fonte: Embrapa Territorial; Agência Gov; CNA Brasil.
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