As últimas 11 ararinhas-azuis que ainda viviam na natureza — uma das espécies mais raras do planeta, extinta em vida livre desde 2020 — foram diagnosticadas com um vírus letal e sem cura. A informação foi confirmada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsável pela operação de recaptura e pelos testes sanitários.

As aves haviam sido repatriadas da Europa e estavam sob responsabilidade da empresa Blue Sky, na Bahia, como parte do programa oficial de reintegração da espécie ao meio ambiente. Em novembro, após uma ordem judicial, o ICMBio retomou a guarda das ararinhas e realizou exames que identificaram a contaminação generalizada pelo circovírus.
O circovírus é o agente causador da doença do bico e das penas, um quadro devastador para psitacídeos. Entre os sintomas estão falhas no empenamento, alterações de coloração das penas e deformações no bico. A doença não oferece risco a humanos, mas é fatal na maior parte dos casos para as aves, e não há tratamento disponível.
Segundo o ICMBio, a contaminação em massa poderia ter sido evitada. A investigação apontou falhas graves no manejo sanitário do criadouro: viveiros e comedouros sujos, ausência de isolamento adequado dos indivíduos doentes e falta de equipamentos de proteção individual para funcionários que manipulavam as aves. O instituto aplicou uma multa de R$ 1,8 milhão à empresa.
“Se as medidas de biossegurança tivessem sido atendidas com o rigor necessário e implementadas da forma correta, talvez a gente não tivesse saído de apenas um animal positivo para 11 indivíduos positivos para circovírus”, afirma Cláudia Sacramento, coordenadora da área de Emergências Climáticas e Epizootias do ICMBio, que lidera a resposta ao caso.
A origem da infecção ainda é desconhecida. A doença não é comum na região onde as aves eram mantidas, mas ocorre com mais frequência em populações de psitacídeos na Austrália. A preocupação agora é garantir que o ambiente local não tenha sido comprometido, colocando em risco outras espécies brasileiras.
As ararinhas-azuis seguem aos cuidados do ICMBio, mas não poderão mais voltar à natureza — um revés dramático para um dos projetos de conservação mais simbólicos do país.
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