Tronco de 3,7 mil anos pode inspirar solução para crise climática

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, sugere que a descoberta de um tronco milenar enterrado sob o solo argiloso de Quebec, no Canadá, pode oferecer novas pistas para refinar estratégias de combate às mudanças climáticas. A análise do tronco foi apresentada em um artigo publicado na última sexta-feira (27) na revista Science.

Tronco de 3,7 mil anos pode inspirar solução para crise climática
Pesquisadores dizem que um solo argiloso pouco permeável contribuiu para a preservação deste tronco antigo. E isso pode ajudar o planeta; entenda — Foto: Mark Sherwood

As árvores, em seu ciclo de vida, absorvem dióxido de carbono durante a fotossíntese e liberam parte dele na respiração. No entanto, quando morrem e se decompõem, o CO2 armazenado é devolvido à atmosfera. O curioso sobre este tronco, com cerca de 3.775 anos de idade, é que ele reteve mais de 95% de seu dióxido de carbono original. Os cientistas acreditam que isso se deve à camada de solo argiloso pouco permeável que o cobria.

Compreender os fatores ambientais que preservaram o tronco pode contribuir para o aprimoramento de uma técnica emergente chamada “wood vaulting”. Essa prática consiste em enterrar madeira não comercializável — como árvores derrubadas por pragas ou incêndios, móveis antigos ou resíduos de construção — para interromper sua decomposição, reduzindo a liberação de CO2 na atmosfera. Dessa forma, novas árvores plantadas para capturar dióxido de carbono não contribuiriam, após sua morte, para o aumento das emissões de gases de efeito estufa.

Descoberta do tronco

O tronco milenar foi descoberto por acaso em 2013, justamente quando uma equipe de pesquisadores se preparava para iniciar um experimento com o conceito de “wood vaulting”. Naquela ocasião, o grupo havia viajado para Quebec com o objetivo de enterrar cerca de 35 toneladas métricas de madeira no subsolo. No entanto, durante as escavações, a cerca de dois metros de profundidade, eles encontraram o tronco.

“Quando o escavador retirou um tronco do solo e o lançou em nossa direção, os três ecologistas da Universidade McGill que convidei imediatamente identificaram como um cedro vermelho oriental”, recorda Ning Zeng, líder do projeto, em um comunicado. “A preservação estava surpreendente. Lembro-me de pensar: ‘Será que precisamos continuar com nosso experimento? A evidência já está aqui, e é melhor do que poderíamos criar.’”

Ning Zeng e outros pesquisadores descobriram este tronco preservado de 3.775 anos enquanto conduziam um projeto piloto de salto de madeira em Quebec, Canadá — Foto: Mark Sherwood

Após a descoberta, o tronco passou por testes de datação por carbono para confirmar sua idade. Em seguida, foi submetido a análises detalhadas de sua estrutura microscópica, composição química, resistência mecânica e densidade. Os resultados foram comparados com os de um tronco de cedro vermelho oriental recém-cortado.

Os testes mostraram que o tronco antigo havia perdido muito pouco dióxido de carbono. Isso levou os cientistas a formular a hipótese de que o tipo de solo que o cobria, composto por argila pouco permeável, foi o principal fator para sua impressionante preservação.

Importância do solo na preservação do CO2

Estudos anteriores já analisaram amostras antigas de madeira preservada, mas, segundo Ning Zeng, muitas dessas pesquisas negligenciam as condições do solo onde o material foi encontrado. “As pessoas costumam pensar: ‘Quem não sabe cavar um buraco e enterrar um pouco de madeira?’”, comenta Zeng. “Mas considere quantos caixões de madeira foram enterrados ao longo da história humana. Quantos realmente sobreviveram? Para preservar algo por centenas ou milhares de anos, é preciso ter as condições adequadas.”

O solo argiloso de Quebec, com sua permeabilidade extremamente baixa, desempenhou um papel crucial ao impedir ou retardar drasticamente a penetração de oxigênio até o tronco. Isso também manteve afastados fungos e insetos, decompositores comuns no solo.

Dado que solos argilosos são amplamente distribuídos, a técnica de “wood vaulting” pode ser uma solução climática viável e de baixo custo em várias regiões do mundo. “É uma descoberta empolgante, especialmente se combinada com outras estratégias de mitigação das mudanças climáticas, como a redução das emissões de gases de efeito estufa”, destaca Zeng.

Fonte: Galileu


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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