A “tríplice monotonia” dos sistemas alimentares, ou seja, a concentração da produção, consumo e cultura alimentar em poucas opções de insumos, pode causar danos tanto à saúde dos seres humanos quanto aos ecossistemas locais. A homogeneidade do sistema agrícola não só altera as paisagens naturais, como podem ser responsáveis pela desnutrição do solo e consequentes secas, como no Cerrado brasileiro.

Necessidade de transformação
A busca por formas de reverter esse cenário é essencial, a fim de aumentar a biodiversidade local e, ao mesmo tempo, beneficiar a produção agrícola. Ludmila Rattis, pesquisadora no Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e parceira da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP-USP), comenta que o formação de sistemas agrícolas simplificados afetam diretamente a dinâmica do ambiente.
Baseado no uso de produtos químicos e maquinários para eliminação de agentes indesejáveis à plantação, os atuais sistemas agrícolas dificultam a conservação da biodiversidade. “Esta simplificação não existe em ecossistemas naturais, então tudo que cresce ou aparece a mais nestes sistemas agrícolas simplificados é classificado como praga. Como consequência, estabelece-se um processo parecido com uma corrida armamentista, na qual mais ‘pragas’ aparecem, exigindo a necessidade de mais agroquímicos e mais maquinários. O resultado é um sistema empobrecido, doente, dependente de mais e mais manejo e que produz alimentos de baixo valor nutritivo”, defende Ludmila.
Desmatamento e agropecuária lideram emissões de carbono no Brasil
Mesmo com a presença de sistemas tradicionais, que optam pela monotonia nas plantações, o modelo agrícola atual é diverso e permite a existência de sistemas com práticas mais sustentáveis. A pesquisadora afirma que modelos regenerativos são benéficos não só para a saúde dos seres humanos e do meio ambiente, como também podem ser benéficos economicamente às empresas agrícolas. “Existem evidências científicas desses benefícios. Mas carece de um planejamento de transição dos sistemas alimentares e precisamos de mais pesquisas em cada região produtora. Um ambiente natural vai oferecer uma diversidade maior de comida e abrigo para espécies nativas de animais”, defende Ludmila.
Ações práticas
Algumas medidas já têm sido adotadas para a transição dos sistemas alimentares em modelos mais sustentáveis. O Brasil, de acordo com a pesquisadora, é um exemplo, por adotar o plantio direto. A medida consiste em deixar a palha da última lavoura ou de uma lavoura de cobertura para proteger o solo do ressecamento e da degradação do carbono. Além disso, a prática protege os microrganismos que vivem na terra em que foi feito o plantio. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também tem contribuído para essa alteração, a partir de pesquisas que fomentam sistemas integrados de produção unindo, por exemplo, lavoura, pecuária e floresta.
Outras ações práticas têm sido adotadas no País e no mundo. “Existe a gradual substituição de agroquímicos por produtos biológicos que atacam pragas, como fungos que não são nocivos à saúde de quem consome o alimento. O plantio consorciado de mais de uma cultura e a rotação de culturas é um outro exemplo da maior diversidade em cultivos agrícolas”, diz Ludmila. Em adição a isso, a pesquisadora defende que as práticas devem ser adotadas sempre respeitando a vocação, necessidade e logística de cada região.
Fonte: Jornal da USP
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