Tarifaço dos EUA não exclui totalmente madeira brasileira, e ameaça o setor florestal da Amazônia aos plantios do sul do país

Madeira tropical e produtos de florestas plantadas são atingidos por medida protecionista de Trump; empresas suspendem produção e setor projeta perdas bilionárias
O setor florestal brasileiro está no centro de uma nova crise comercial internacional. Em decreto assinado no dia 30 de julho, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, determinou tarifas de 50% sobre centenas de produtos brasileiros, com validade a partir de 6 de agosto. Apesar de isenções para parte da celulose e do papel, produtos de madeira tropical e madeira processada mecanicamente – como compensados e molduras – foram mantidos na lista de taxação, afetando diretamente as exportações da Amazônia e das florestas plantadas no Sul do país.

Confira a lista completa no ANEXO I do documento publicado no site oficial da Casa Branca

Setor florestal é protagonista nas exportações

De acordo com dados da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (APRE) e do Ministério do Desenvolvimento, o setor florestal é o líder nas exportações do agronegócio brasileiro para os EUA, com receitas superiores a US$ 3,7 bilhões em 2024, à frente de cafés (US$ 2 bilhões), carnes (US$ 1,4 bilhão) e sucos (US$ 1,1 bilhão).

As florestas plantadas de pinus e eucalipto, presentes principalmente no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, representaram 86,5% das exportações de produtos de madeira aos Estados Unidos no ano passado, com um total de US$ 1,37 bilhão.

Segundo a APRE, os produtos processados mecanicamente – como madeira serrada, molduras, portas e compensados – não foram contemplados pelas isenções anunciadas por Trump, o que deve trazer impacto severo à economia florestal do Sul do país.

Amazônia e a madeira tropical

Embora menos citada nos dados agregados, a cadeia produtiva de madeira tropical da Amazônia também deve sentir os reflexos do tarifaço. Produtos como ipê, jatobá, cumaru e outras madeiras nobres, já enfrentando barreiras regulatórias com a entrada em vigor da EUDR (regulamento antidesmatamento da União Europeia), agora sofrem também pressão do mercado norte-americano, com perda de competitividade e risco de retração das exportações.

A ausência de diálogo técnico entre os governos e o fim de mecanismos bilaterais de cooperação, como o antigo Comitê de Florestas Tropicais Brasil-EUA, agravam a vulnerabilidade do setor amazônico, que já enfrenta desafios logísticos, ambientais e reputacionais.

Único item do capítulo 44 ficou isento da tarifa de 50%

A nova tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros atinge quase toda a pauta do setor de madeira, com uma única exceção identificada no Capítulo 44 da NCM:

NCM 4407.29.02

Descrição internacional (HTS Code):
Tropical wood, nesoi, sawn or chipped lengthwise, sliced or peeled, whether or not planed, sanded or end-jointed, of a thickness exceeding 6 mm

Tradução oficial (RFB):
Madeira tropical, não especificada nem incluída em outra parte, serrada ou fendida longitudinalmente, cortada em folhas ou desenrolada, mesmo aplainada, lixada ou unida de topo, de espessura superior a 6 mm

✅ Situação: ISENTO da nova tarifa de 50%

Este item permanece liberado do novo imposto de 50% e representa um importante respiro para parte do setor de madeira tropical amazônica que exporta tábuas e pranchas serradas em estado bruto ou beneficiadas (aplainadas/lixadas), mas sem transformação industrial adicional.

Outros produtos podem ter alívio temporário

Apesar da abrangência da medida, a Ordem Executiva norte-americana prevê exceção para produtos já submetidos à Seção 232 (investigações anteriores por segurança nacional).

O que isso significa?

Se algum produto de madeira do Brasil já está sendo investigado ou tarifado sob a Seção 232, a nova tarifa de 50% não será aplicada a ele por ora.

 Exemplo:

  • Compensados e molduras brasileiros de pinus já enfrentam barreiras sob essa seção, o que os torna, momentaneamente, isentos do novo aumento tarifário.

Esse cenário, embora provisoriamente positivo para alguns segmentos, não representa segurança jurídica ou comercial no longo prazo, exigindo ação estratégica das empresas e articulação urgente do governo brasileiro junto à OMC e em canais diplomáticos bilaterais.

NCM / HTS Code Descrição Situação frente à tarifa de 50% Observações
4407.29.02 Madeira tropical serrada, fendida, cortada ou desenrolada, mesmo aplainada, espessura >6mm ISENTO Único item do Capítulo 44 explicitamente isento da nova tarifa
4407.10.00 Madeira de coníferas, serrada ou fendida, espessura >6mm TAXADO Afetado diretamente pela nova medida
4412.10.00 Painéis compensados, mesmo revestidos TAXADO Pode ter alívio temporário se estiver sob Seção 232
4418.20.00 Portas e batentes de madeira TAXADO Alvo direto da nova tarifa dos EUA
4415.10.00 Caixotes, caixas, engradados e paletes de madeira TAXADO Exceto se coberto por investigação anterior (Seção 232)
4411.12.00 Painéis de fibra de madeira (MDF) TAXADO Sem isenção prevista, sujeito à tarifa
9403.60.00 Móveis de madeira (ex: móveis de escritório) TAXADO Produto com forte impacto no mercado de móveis do sul do Brasil

Veja também

Suspensão de atividades e risco de demissões

Duas grandes indústrias do Paraná já anunciaram férias coletivas para centenas de funcionários: a Millpar, em Guarapuava e Quedas do Iguaçu, afastou 640 dos 1.109 empregados. Já a BrasPine, com unidades em Jaguariaíva e Telêmaco Borba, colocou em férias 1.500 dos 2.500 trabalhadores.

A preocupação do setor é que a taxação inviabilize a continuidade de contratos internacionais, levando a demissões em massa e paralisações de linhas produtivas. “O impacto é bem grande para o setor florestal paranaense”, afirmou Ailson Loper, diretor-executivo da APRE.

Brasil busca resposta na OMC e diversificação

O governo brasileiro apresentou protesto formal à Organização Mundial do Comércio (OMC) e anunciou que poderá aplicar tarifas recíprocas com base na nova Lei da Reciprocidade Comercial, sancionada em julho.

Além disso, especialistas recomendam ao setor florestal que busque diversificar mercados compradores, investir em rastreabilidade e sustentabilidade, e fortalecer o consumo doméstico de madeira e papel. “A crise mostra que estamos excessivamente dependentes de poucos mercados e precisamos urgentemente ampliar nossa base de clientes e valor agregado”, comentou um analista da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).


Fontes


Descubra mais sobre Florestal Brasil

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Comenta ai o que você achou disso...