em seu entorno, minimizam danos ao alterar a velocidade e a direção dos
ventos, além de deixar as cidades mais bonitas. Se não forem bem
cuidadas, podem cair, causando ferimentos e mortes, interrompendo vias e
o fornecimento de eletricidade. Como exemplo, entre janeiro e maio
deste ano, na cidade de São Paulo, caíram 2.192 árvores, o que dá uma
média de 14,5 por dia. Para que os benefícios da floresta urbana superem
as desvantagens, é preciso que ela seja bem cuidada. É o que pretendem
três softwares desenvolvidos no Brasil para programar podas e cortes,
saber qual a idade da árvore e até indicar se uma espécie pode ser
plantada em determinado lugar.
Foto: IPT/Divulgação |
O que está em estágio mais adiantado é o Arbio, criado no Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT) para gerenciar
principalmente as árvores localizadas no sistema viário e em praças. “O
programa permite fazer inventários, ao cadastrar as plantas de uma
localidade, e o planejamento da arborização, ao definir os locais e as
espécies mais adequadas para o plantio”, conta o biólogo Sérgio
Brazolin, chefe do Laboratório de Árvores, Madeiras e Móveis do IPT,
coordenador da equipe que desenvolveu o software.
individualizadas de cada árvore, como localização, identificação
botânica (nome científico e popular), condições de entorno, abrangendo
as vias de tráfego, tipo de imóvel associado, condições da calçada,
canteiro, interferências dos fios de eletricidade e telefonia na copa,
situação do tronco e das raízes, dendrometria (medição da massa lenhosa)
e existência de doenças ou infestação de cupins.
sistema Geosite, que também facilita o monitoramento de árvores
urbanas. “Trata-se de um sistema integrado a informações geográficas,
que torna mais eficiente a gestão, em uma só ferramenta, de operações de
inspeção, poda e manejo de árvores em cidades”, afirma João Carlos
Tavares da Silva, coordenador de Desenvolvimento da empresa.
finalizando um software semelhante ao Arbio e ao Geosite, em termos de
funcionalidades e objetivos. “O programa poderá ser usado no
planejamento e na gestão das árvores, além de promover a interatividade
com a população”, afirma o coordenador do projeto na empresa, o
engenheiro florestal Guilherme Corrêa Sereghetti. Os três programas têm
entre seus potenciais usuários prefeituras, universidades,
concessionárias de energia, consultorias ambientais e condomínios e
organizações não governamentais.
Foto: Digicade/Divulgação Geosite |
técnicos treinados. A responsabilidade pela análise ou tomada de decisão
de manejo, no entanto, cabe a engenheiros florestais, biólogos ou
agrônomos. “O sistema móvel [software em smartphone] facilita a inspeção
da árvore pelo técnico e o armazenamento das informações coletadas”,
explica Brazolin.
Os softwares também podem ser alimentados com dados fenológicos das
plantas, como época da queda das folhas, da floração e da frutificação,
além de informações sobre pragas ou doenças. “Nosso programa
possibilitará a participação da população, que poderá solicitar poda ou
corte de uma árvore ou a inclusão de um exemplar ainda não cadastrado,
inclusive com envio de foto pelo celular”, conta Sereghetti, da CAA.
Exemplos de uso
Em Mauá, o Arbio integrará o Plano Diretor de Arborização Urbana, com
recursos de R$ 2 milhões do Fundo de Interesses Difusos da Secretaria de
Estado da Justiça e Defesa da Cidadania. O objetivo é manter atualizada
a base de dados sobre as árvores da cidade e fazer os plantios
adequados, além de executar podas corretas, evitando que as plantas
fiquem deformadas. Para operar o Arbio, a prefeitura conta com um
biólogo, dois engenheiros florestais e um engenheiro-agrônomo. Ainda
deverão ser contratados mais um biólogo e um engenheiro-agrônomo, além
de outros profissionais como fiscais e técnicos ambientais.
Na cidade de São Paulo, a Secretaria Municipal do Verde e do Meio
Ambiente utiliza um antigo sistema desenvolvido pelo IPT em 2004, o
Sistema de Gerenciamento de Árvores Urbanas (Sisgau). Segundo a
secretaria, existem cerca de 652 mil árvores na capital paulista, que
são monitoradas com informações passadas por engenheiros-agrônomos das
prefeituras regionais. Ele é utilizado para cadastrar informações
geográficas, fitossanitárias e intervenções de manejo realizados ao
longo da vida de cada árvore. Brazolin, do IPT, que participou da
produção desse sistema, afirma que o Sisgau não tem funcionalidades
presentes no Arbio como a de tentar prever ou gerenciar queda de árvore.
O Geosite, por sua vez, foi lançado em novembro do ano passado. “No
momento ele está sendo testado, por meio de prova de conceito, em
algumas prefeituras e por uma companhia de energia elétrica”, conta
Silva. O programa da CAA começou a ser desenvolvido em novembro de 2016 e
o primeiro protótipo está sendo finalizado. Os dois sistemas serão
comercializados em breve, mas os preços ainda não estão definidos.
Sistemas no exterior
No exterior, já existem sistemas semelhantes em uso. Um exemplo é o
Arbomapweb, criado na Espanha pela empresa Tecnigral, utilizado em
cidades como Madri e Córdoba. Ele integra ações georreferenciadas de
inventário, gestão e incidentes, fazendo planejamento, geração e
acompanhamento da floresta urbana.
Nos Estados Unidos surgiu o OpenTreeMap, um sistema de acesso via
internet com o qual é possível criar projetos de arborização urbana,
pagando US$ 164 ao mês. Ele foi desenvolvido por um pool de empresas,
com recursos do fundo de apoio para pesquisa e inovação do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). Além do inventário e fotos de
árvores de uma localidade, o software calcula os benefícios da floresta
urbana para a cidade como a quantidade de redução de dióxido de carbono
(CO2), um dos gases do efeito estufa, nível da qualidade do
ar e filtragem da água da chuva para o solo. É usado em vários países,
além dos Estados Unidos, como Reino Unido, México e Portugal.
Foto: http://blog.opentreemap.org |
De acordo com o biólogo Marcos Buckeridge, do Instituto de Biociências
da Universidade de São Paulo (IB-USP), que estuda a arborização em
cidades, o sistema de monitoramento da floresta urbana usado em Nova
York, chamado de New York City Street Tree Map, é um dos mais avançados
do mundo. “Eles têm um bom mapeamento árvore por árvore e possuem um
mecanismo de produzir um cálculo dos benefícios para a cidade”, comenta.
O software estima o valor financeiro que cada planta dá de retorno à
sociedade por meio de indicadores como, por exemplo, interceptação de
água das chuvas, remoção de poluentes do ar e redução de CO2 e outros poluentes.
Para Buckeridge, seria um bom início passar a incluir um planejamento de
arborização de forma mais séria e científica em planos futuros de uma
cidade como São Paulo. Ele lembra que as cidades sempre terão
características artificiais. “Mas elas podem pelo menos tentar ser mais
integradas à biosfera do que são hoje”, analisa.
Fonte: Revista Pesquisa Fapesp
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