Caminhões carregados de toras de árvores gigantescas e rebanhos de gado pastando em áreas recém-queimadas estão entre as imagens flagradas por sobrevoos realizados entre 13 e 17 de setembro no sul do Amazonas. Divulgados nesta quinta-feira (23) pela Aliança Amazônia em Chamas, os registros reforçam os indícios de que a região, integrante do maior e mais conservado estado em meio à floresta, é a nova fronteira do desmatamento.
A rota dos ambientalistas partiu de Porto Velho, em Rondônia, e seguiu até Lábrea, no sul do Amazonas, passando por áreas como a Terra Indigena Jacareúba (AM) e o Parque Nacional Mapinguari (AM e RO). Foram observadas extensas áreas desmatadas, com polígonos medindo de 1.550 a 2450 hectares. O valor equivale a cerca de 2 mil a 3 mil campos de futebol.
“Essa região tem se destacado pelo avanço veloz do desmatamento, que adentra cada vez mais em territórios bem conservados e vitais para mitigar a crise climática e evitar o colapso da biodiversidade no planeta”, avalia Cristiane Mazzetti, gestora ambiental do Greenpeace, organização que compõe a aliança ao lado de Amazon Watch e Observatório do Clima, em comunicado enviado à imprensa.
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Focos ativos de calor, pistas de pouso clandestinas e sinais de garimpo em áreas protegidas também foram mapeados pelo grupo. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) referentes ao período da expedição mostram que, entre 1º de janeiro a 18 de setembro de 2021, o município de Porto Velho apresentou 2.700 focos de queimada e o de Lábrea, 2.946. Esse último é, até o momento, o que mais apresentou focos de incêndio na Amazônia em 2021.
Soja, gado e especulações de terra pública
Em Candeias do Jamari, segundo município mais desmatado em Rondônia, também foram encontradas serrarias e muitos caminhões cheios de toras de árvores. A abundância de bois pastando em áreas recém-desmatadas na região preocupa os especialistas. Ali, já há registros de invasão até em Unidades de Conservação (UCs): a Flona Jacundá e a Estação Ecológica de Samuel.Essa situação é atribuída pela equipe à aprovação pelo governador Marcos Rocha de um projeto de lei que reduziu em 80% os limites da reserva extrativista Jaci-Paraná, o que pode ter impulsionado a exploração de outras UCs.
“Vimos lado a lado todas as etapas do processo de desmatamento: a extração da madeira mais valiosa, o desmatamento e posterior queima da vegetação que fica secando ao sol para o plantio de pasto e o gado ocupando áreas que até pouco tempo eram cobertas pela floresta. É uma incongruência derrubar e queimar a floresta com a maior biodiversidade do mundo, para dar lugar a duas espécies: o gado e a grama”, avalia Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.
A equipe avistou ainda grandes áreas preparadas para o cultivo de grãos no norte de Rondônia. A atividade avança cada vez mais na região e, segundo os pesquisadores, já adentrou o sul do Amazonas, com plantio de soja em Humaitá. Além disso, territórios devastados em anos anteriores que se encontram abandonados no presente, sem nenhuma atividade agropecuária, são vistos pelos especialistas como indícios de um outro problema na região. “Estão usando o desmatamento para especular com terra pública”, avalia Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).
Os dados obtidos pela expedição vão na contramão do que apregoou o presidente Jair Bolsonaro na última terça-feira (21), em discurso na ONU: a Amazônia continua, sim, a queimar — e muito. “Desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo acontecem na ilegalidade, não geram desenvolvimento para a região nem distribuem riqueza para os povos da floresta. Estamos literalmente queimando o futuro a troco de nada”, diz Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima.
Fonte: Revista Galileu | Um Só Planeta
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