BNDES lança programa para impulsionar a silvicultura de espécies nativas

Com investimento de R$ 30,8 milhões, o BNDES anuncia projeto para desenvolver o cultivo sustentável de árvores tropicais e fortalecer a bioeconomia brasileira.

A silvicultura de espécies nativas acaba de ganhar novo impulso com o lançamento do programa BNDES Floresta Inovação. A iniciativa destina R$ 30,8 milhões a pesquisas sobre o cultivo sustentável de árvores tropicais, como pau-brasil, jatobá e mogno, unindo ciência, conservação e desenvolvimento econômico em uma agenda estratégica para a bioeconomia brasileira.

Batizada de BNDES Floresta Inovação, a iniciativa busca ampliar o conhecimento científico sobre espécies ameaçadas e, ao mesmo tempo, desenvolver técnicas que permitam seu uso econômico em bases sustentáveis. O programa será oficialmente lançado nesta sexta-feira (10), durante um seminário que discutirá o potencial das florestas brasileiras na bioeconomia.

Da recuperação ambiental ao mercado florestal

Com investimento total de R$ 30,8 milhões, dos quais R$ 24,9 milhões são recursos não reembolsáveis do Funtec, fundo tecnológico do banco, o projeto pretende unir ciência e mercado. A proposta é consolidar estudos que permitam tanto a restauração de áreas degradadas quanto o cultivo comercial de árvores tropicais — um passo inédito em escala nacional.

“Temos amplo conhecimento aplicado à produção de eucalipto e pinus. Agora, o desafio é fazer o mesmo com as espécies tropicais”, explica Tereza Campello, diretora socioambiental do BNDES. Segundo ela, as informações existentes sobre o plantio de espécies nativas ainda estão dispersas e precisam ser sistematizadas e disponibilizadas a todos os produtores e pesquisadores.

Estrutura e parcerias

Os estudos envolverão 30 espécies distribuídas entre os biomas Amazônia e Mata Atlântica. A Embrapa ficará responsável pelos projetos na região amazônica, enquanto a UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) coordenará as pesquisas na Mata Atlântica. O programa contará com 20 áreas experimentais em universidades e centros de pesquisa — sendo seis polos de referência com árvores de até 45 anos e outras 14 áreas destinadas ao plantio de novas mudas.

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“Esses polos funcionam como laboratórios vivos, onde podemos avaliar o desempenho e o potencial de uso das espécies selecionadas”, explica Silvio Brienza Junior, pesquisador da Embrapa Florestas.

Além de analisar o crescimento e as propriedades da madeira, as equipes vão estudar o aproveitamento de sementes, folhas e cascas para os setores de cosméticos, fármacos e alimentos. O cumaru, por exemplo, é valorizado pelo aroma semelhante à baunilha, o que lhe rendeu o apelido de “baunilha brasileira”.

Ciência, negócios e conservação

De acordo com Fátima Conceição Marquez Piña-Rodrigues, professora da UFSCar e coordenadora do projeto na Mata Atlântica, a iniciativa representa um marco para a silvicultura nacional.
“Esse programa rompe paradigmas ao propor o cultivo sustentável de espécies nativas, unindo ciência, mercado e recuperação ambiental. É um passo essencial para construir uma nova economia florestal no país”, afirma.

O projeto surgiu a partir de uma proposta da Fundação de Apoio Institucional ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FAI/UFSCar), inspirada em demandas da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, rede que reúne mais de 400 entidades e empresas engajadas na expansão da bioeconomia e da silvicultura de nativas.

Apoio da iniciativa privada

A iniciativa também conta com o apoio de empresas como a Vale, que mantém metas voluntárias de proteção e restauração de 500 mil hectares de florestas até 2030. A companhia tem investido fortemente em pesquisa genética, por meio do Instituto Tecnológico Vale (ITV) e do ICMBio, que integram o Consórcio Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB). O grupo trabalha na criação de um dos maiores bancos de DNA de espécies tropicais do mundo.

Além da pesquisa científica, a Vale fomenta negócios sustentáveis por meio do Fundo Vale, que já destinou R$ 430 milhões a 146 projetos de impacto ambiental, beneficiando 60 mil produtores e extrativistas. Um dos exemplos é a Belterra Agroflorestas, empresa criada em Canaã dos Carajás (PA), que recupera áreas degradadas com sistemas agroflorestais e será um dos destaques do evento do BNDES.

Em sua fazenda experimental, a Belterra cultiva cacau, banana, açaí e diversas espécies florestais, como mogno, jatobá e o imponente angelim-vermelho, que pode ultrapassar 80 metros de altura, sendo considerada a maior árvore da América do Sul.

As espécies estudadas

Entre as 30 espécies contempladas pelo projeto estão o pau-brasil, o jequitibá-rosa, o jatobá, o ipê-roxo, o angelim-vermelho, o cumaru e a castanha-da-Amazônia. Cinco delas ocorrem simultaneamente na Amazônia e na Mata Atlântica.

Aqui está a lista completa das 30 espécies contempladas pelo programa BNDES Floresta Inovação, divididas por bioma e destacando as cinco que aparecem em ambos (Amazônia e Mata Atlântica):

Espécies da Amazônia

  1. Andiroba (Carapa guianensis)
  2. Angelim-vermelho (Dinizia excelsa)
  3. Aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva) ⭐
  4. Castanha-da-Amazônia (Bertholletia excelsa)
  5. Copaíba (Copaifera multijuga)
  6. Cumaru (Dipteryx odorata)
  7. Freijó-cinza (Cordia goeldiana)
  8. Guanandi (Calophyllum brasiliensis) ⭐
  9. Ipê-amarelo (Handroanthus serratifolius)
  10. Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus) ⭐
  11. Jatobá (Hymenaea courbaril) ⭐
  12. Louro-pardo (Cordia trichotoma) ⭐
  13. Marupá (Simarouba amara)
  14. Mogno (Swietenia macrophylla)
  15. Morototó (Schefflera morototoni)
  16. Parapará (Jacaranda copaia)
  17. Paricá (Schizolobium parahyba)
  18. Quaruba-verdadeira (Vochysia maxima)
  19. Tatajuba (Bagassa guianensis)
  20. Ucuúba (Virola surinamensis)

Espécies da Mata Atlântica

  1. Araucária (Araucaria angustifolia)
  2. Aroeira-do-sertão (Myracrodruon urundeuva) ⭐
  3. Canafístula (Peltophorum dubium)
  4. Guanandi (Calophyllum brasiliensis) ⭐
  5. Guaritá (Astronium graveolens)
  6. Ipê-felpudo (Zeyheria tuberculosa)
  7. Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus) ⭐
  8. Jacarandá-da-bahia (Dalbergia nigra)
  9. Jatobá (Hymenaea courbaril) ⭐
  10. Jenipapo (Genipa americana)
  11. Jequitibá-rosa (Cariniana legalis)
  12. Louro-pardo (Cordia trichotoma) ⭐
  13. Pau-brasil (Paubrasilia echinata)
  14. Pau-marfim (Balfourodendron riedelianum)
  15. Vinhático (Plathymenia reticulata)

Espécies presentes nos dois biomas:

  • Aroeira-do-sertão
  • Guanandi
  • Ipê-roxo
  • Jatobá
  • Louro-pardo

Para Campello, o programa tem potencial de transformar o panorama da silvicultura brasileira:

“Assim como o eucalipto revolucionou o setor florestal no passado, a silvicultura de espécies nativas pode ser a base da nova bioeconomia tropical do século 21.”

Fonte:

Agência BNDES de Notícias

Agência Pará

G1 Amazônia


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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