Setor florestal prevê investir R$ 61,9 bilhões até 2028, diz Ibá

Empresas estão otimistas com demanda crescente por madeira e seus produtos, como celulose

Setor florestal prevê investir R$ 61,9 bilhões até 2028, diz Ibá
Empresas estão otimistas com demanda crescente por madeira e seus produtos, como celulose

O setor florestal acaba de mostrar sua força na 5ª Expoforest, feira realizada em uma floresta de eucaliptos em Guatapará (SP), de 9 a 11 de agosto, e que atingiu R$ 1 bilhão em negócios, o dobro do esperado pela organização e o triplo do faturamento do evento anterior, de 2018. Com quase 10 milhões de hectares de florestas cultivadas, o setor acelera os investimentos para dar conta da demanda crescente no mercado externo e interno pela madeira e seus produtos, como a celulose.

Segundo o diretor-executivo da Ibá (Indústria Brasileira de Árvores), embaixador José Carlos da Fonseca Jr., o segmento tem uma carteira de investimentos de R$ 61,9 bilhões até 2028, entre implantação de florestas, novas plantas industriais e modernização das unidades já existentes, além de P&D e logística.

Fonseca Jr. diz que só a Suzano prevê investir R$ 22,2 bilhões no Projeto Cerrado, que deve entrar em operação em 2024. A fábrica em Ribas do Rio Pardo (MS) terá capacidade para produzir 2,55 milhões de toneladas de celulose por ano.

A Klabin tem investimento previsto de R$ 12,9 bilhões em Ortigueira (PR), que vai elevar a capacidade anual da companhia para 4,7 milhões de toneladas de celulose e papel.

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Já a Bracell anunciou investimento de R$ 2,5 bilhões em abril deste ano para construir uma nova fábrica de papel tissue (sanitário) em Lençóis Paulista (SP), onde já tem uma unidade que produz celulose. Outros R$ 2,5 bilhões estão sendo investidos em outra planta, voltada para processamento de insumos químicos usados no processo produtivo de celulose. Recentemente a companhia também aportou mais de R$ 8 bilhões no projeto Star, dedicado para produção de celulose kraft e celulose solúvel.

A Dexco, em joint venture com a austríaca Lenzing, inaugurou unidade no Triângulo Mineiro neste ano para produzir 500 mil toneladas de celulose por ano, com aporte de mais de R$ 6 bilhões. Toda produção da unidade dos próximos 25 anos já foi comprada pela empresa austríaca para abastecer o mercado têxtil mundial.

“Mesmo no período de forte recessão, entre 2016 e 2019, o setor teve investimentos de R$ 18 bilhões. Temos tido em média a abertura de uma nova fábrica a cada ano e meio, mesmo em meio ao processo de desindustrialização do país. Esse contraste já demonstra a força da indústria de base florestal”, disse o embaixador, em entrevista à Globo Rural, lembrando que o país é o segundo maior produtor de celulose do mundo, atrás apenas dos EUA, e o maior exportador da matéria-prima.

Fernando Campos, diretor-presidente no Brasil da Ponsse, fabricante de máquinas florestais da Finlândia que trouxe ao Brasil o protótipo da primeira máquina florestal elétrica, diz que o setor vive um crescimento muito acelerado e já representa 5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Gustavo Zacante, diretor de B2B e responsável pelo setor florestal da Lavoro Agro, a maior distribuidora de insumos do país para o segmento, diz que o interesse pelo investimento no florestal explodiu na feira deste ano.

“Há uma tendência de crescimento do setor, especialmente, para os próximos cinco anos, como uma forma, inclusive, de trabalhar cada vez mais com sustentabilidade. Para isso, estamos investindo em analistas e consultores especializados em um dos ramos que mais crescem dentro do florestal, que é a silvicultura.”

Ricardo Malinovski, consultor de florestas e organizador da Expoforest, conta que há 20 anos os interessados em comprar e conhecer novas tecnologias do cultivo e colheita florestal visitavam especialmente as feiras da Suécia, mas o crescimento do setor no Brasil atraiu o olhar dos experts estrangeiros. Neste ano, a Expoforest recebeu visitantes de 43 países, boa parte deles dos países nórdicos, que têm tradição no cultivo de florestas.

Eduardo Nicz, CEO da japonesa Komatsu no Brasil, destacou o surgimento constante no país de novas tecnologias embarcadas para o setor florestal. “São tantos lançamentos que a Expoforest deveria ser bienal e não a cada quatro anos.” A empresa mostrou na feira a primeira plantadeira comercial de árvores do mundo.

Sustentabilidade

O diretor da Ibá diz que, além dos 9,3 milhões de hectares de florestas cultivadas, as companhias conservam outros 6,05 milhões de hectares. Ele explica que o sucesso brasileiro se deve à busca global por soluções mais sustentáveis e ao desejo dos consumidores por produtos de origem renovável, reciclável e biodegradável.

“O setor produz mais de 5 mil bioprodutos, entre livros, móveis, painéis de madeira, copos e canudos de papel, roupas. Isso dá à indústria a característica de fornecedora de produtos capazes de substituir materiais de origem fóssil e uso único.”

Fonseca Jr. garante que o crescimento da área plantada ocorre principalmente em áreas antes degradadas, reforçando o compromisso do setor com a conservação ambiental. Um exemplo de expansão sustentável de áreas de árvores plantadas, diz, é o estado do Mato Grosso do Sul, que lançou em 2019 a primeira versão do Plano Estadual de Desenvolvimento Sustentável de Florestas Plantadas.

O incentivo a novos investimentos em florestas plantadas em áreas degradadas por pasto no MS resultou em um salto de 600 mil hectares em 2012 para 1,073 milhão de hectares em 2021.

“É importante ressaltar que nosso crescimento de capacidade foi muito maior. A produtividade do eucalipto, por exemplo, saltou de 10 m³ por hectare por ano na década de 1970 para 38,9 m³/ha/ano em 2021. Isto é uma das bases do conceito da bioeconomia, que estimula a produzir mais, utilizando menos recursos naturais”, disse Fonseca Jr.

O embaixador ressalta que um dos fatores que levou a este avanço é a tecnologia aplicada às árvores cultivadas, por meio do trabalho de melhoramento tradicional. Pelo cruzamento de diferentes espécies, as companhias conseguem desenvolver clones mais resistentes a fenômenos climáticos, como aumento da temperatura ou secas, além de desenvolverem árvores que darão origem a fibras mais adequadas para o produto que será fabricado a partir da matéria-prima. O desenvolvimento de um novo clone de eucalipto ou pinus demanda de 10 a 15 anos.

Carbono

Entre áreas plantadas e conservadas, o setor estoca hoje cerca de 4,5 bilhões de CO2 equivalente, segundo a Ibá. A expansão das florestas possibilita um aumento constante do sequestro de carbono através das árvores cultivadas que, enquanto crescem, removem o gás da atmosfera através do processo de fotossíntese.

“Como uma indústria com os dois pés na bioeconomia, que sequestra CO2 da atmosfera e oferece amplas alternativas aos produtos de origem fóssil, o setor tem grande potencial como futuro gerador de créditos de carbono”, destaca Fonseca Jr.

O diretor do Ibá diz que estudos estimam que o mercado florestal tem potencial de gerar receitas de R$ 128 bilhões ao Brasil, mas o setor aguarda o avanço da regulamentação do mercado de carbono pelo Congresso, diferenciando os tipos voluntário e regulado.

Pequenos produtores

Plantar florestas não é atividade rentável apenas para as grandes indústrias de papel e celulose. Segundo o embaixador, vem crescendo a adesão dos pequenos produtores ao plantio florestal.

Segundo o Relatório Anual da Ibá de 2022, R$ 112,2 milhões do total de R$ 331 milhões investidos pelo setor no ano passado em pautas socioambientais foram destinados para o programa de fomento florestal, que impactou positivamente quase 2 milhões de pequenos produtores, diversificando o uso da terra e gerando uma renda extra.

De acordo com o executivo da Lavoro, o segmento florestal teve um boom a partir de 2020 e se mostrou rentável, como uma opção de diversificação para o produtor. “Muitas empresas estão em busca de área e fomentam agricultores de culturas como soja, feijão e milho, com programas de benefícios para quem trabalha com a silvicultura. O desafio, no futuro, vai ser a produção de mudas para dar continuidade e força para essa plantação”, destacou Zacante.

Malinovski concorda e diz que houve um grande avanço no preço pago ao produtor desses programas de fomento, que há poucos anos recebia R$ 60 pelo metro cúbico de floresta em pé e hoje recebe de R$ 120 a R$ 180. Segundo ele, já há empresas fixando o preço mínimo de compra futura do eucalipto. Ou seja, o produtor planta hoje e já sabe quanto vai receber pelo metro cúbico daqui a 7 anos.

O consultor lembra que o eucalipto está atualmente com alta demanda e usos bem variados no Brasil. Na região sul, por exemplo, usa-se folha de eucalipto para secar o fumo. Na produção de lúpulo, o eucalipto é plantado como cortina de proteção da cultura.

Na Expoforest, a Embrapa e a Rede ILPF instalaram uma área dinâmica com gado e árvores para demonstrar a integração da pecuária com o eucalipto, com o manejo florestal sustentável, visando atender setores como celulose, papel e energia. Por realidade virtual, os visitantes do estande, voltado especialmente aos pequenos agropecuaristas, “visitaram” uma fazenda com sistemas integrados de Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF).

Fonte: Globo Rural


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Reure Macena

Engenheiro Florestal, formado pela Universidade do Estado do Pará (UEPA), Especialista em Manejo Florestal e Auditor Líder - Sistema de Gestão Integrada (SGI). Um parceiro do Florestal Brasil desde o início, compartilhando conhecimento, aprendendo e buscando sempre a divulgação de informações que somem para o desenvolvimento Sustentável do setor florestal no Brasil e no mundo.

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