A agricultura familiar na Amazônia tem sido caracterizada pela prática dos sistemas agroflorestais seqüenciais, que consistem na agricultura rotacional que intercala períodos de cultivo com períodos de pousio, em que a vegetação secundária (capoeira) acumula nutrientes a serem disponibilizados aos cultivos subseqüentes, predominantemente via o preparo de área através da prática de derruba e queima.
No sistema de cultivo tradicional são realizados a limpeza da área com a queimada e o cultivo por apenas um ciclo. Passada esta fase, devido ao esgotamento de grande parte dos nutrientes disponíveis nas cinzas, a área é deixada em pousio para regeneração da capoeira e o agricultor avança para derrubada de outra área com capoeira.
Este sistema de cultivo necessita de pousios longos (sete a dez anos) para ser sustentável em termos produtivos (KATO et al., 2010). O crescimento populacional e, conseqüentemente, o aumento da densidade demográfica exercem pressão para redução do período de pousio para menos de sete anos, reduzindo a capacidade de regeneração da capoeira. Esse fato, aliado aos efeitos negativos exercidos pelo fogo no preparo de área para plantio, em face da perda de nutrientes, risco de incêndio, emissões de carbono à atmosfera, tem comprometido a sustentabilidade ambiental do sistema (MORAN 1990, HÖLSCHER et al. 1997a; NEPSTAD et al. 1999).
A predominância da adoção de pousios cada vez mais curtos e as perdas de nutrientes durante a queima colocam em risco a estabilidade do sistema em nível privado e de paisagem, pois considerando que quando os períodos de pousio eram longos, o sistema com base em capoeira exibia características estáveis.
Projeto Shift-Capoeira e a solução para os pequenos produtores
Percebendo o processo de minifundização das propriedades agrícolas e a consequente redução do período de pousio, a Embrapa Amazônia Oriental, as Universidades de Göttingen e Bönn (Alemanha) e vários outros parceiros nacionais e internacionais, através de financiamento proveniente de uma cooperação bilateral com o governo alemão, iniciaram no ano de 1991, o projeto SHIFT-Capoeira, dentro do programa SHIFT (Studies of Human Impact on Forest and Floodplains in the Tropics) (KATO et al., 2007).
A iniciativa consistiu no estudo do papel da capoeira nos sistemas agrícolas. Foram realizadas pesquisas diversas para o entendimento da influência a vegetação exercia sobre os cultivos, solos (física, química e biologia), acumulação de biomassa e nutrientes e formas de regeneração da vegetação secundária (ROUSSEAU; CARVALHO, 2007; DENICH et al., 2002a, b; VIELHAUER et al., 2001; KANASHIRO; DENICH, 1998; HÖLSCHER et al. 1997a, b). Como resultados observaram-se a perda de nutrientes no processo da queima, além do carreamento das cinzas pelo vento e escoamento superficial. Em uma capoeira de sete anos de idade e com 31 t/ha de matéria seca.
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A partir dessas pesquisas, foi proposto um sistema de preparo de área para os sistemas agroflorestais seqüenciais, baseado no corte e trituração da vegetação como forma de reduzir as perdas de nutrientes e manter o solo protegido, o que se mostrou positivo do ponto de vista nutricional, além de diminuir perdas por lixiviação e efeitos do vento.
A proposta permitiu até dois ciclos de cultivo da mandioca (dois a três anos) devido a cobertura formada pelo material triturado manter a umidade do solo e disponibilizar os nutrientes retidos em sua biomassa gradativamente com a decomposição.,
Para avaliar o desempenho de um sistema de cultivo adotado pelos agricultores com a tecnologia proposta, foram levantados os custos e rendimentos no cultivo de mandioca consorciada com feijão-caupi implantados no sistema de preparo de área com corte e trituração.
Fonte: Embrapa Amazônia Oriental – mauricio@cpatu.embrapa.br, celiambs@cpatu.embrapa.br, okato@cpatu.embrapa.br.
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