A chuva intensa que devastou o estado do Rio Grande do Sul nos últimos dois meses evidenciou a urgência de restaurar ecossistemas naturais. No entanto, argumentos para essa necessidade já existiam há muito tempo: nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu mais de 8 milhões de hectares de vegetação nativa, equivalente a duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro, segundo dados do último Relatório Anual do Desmatamento do MapBiomas. Mais da metade de toda a área desmatada em 2023 está na região do Cerrado.
A supressão de florestas tropicais pode alterar drasticamente o regime de chuvas, aumentando a temperatura em escala local e global. O aumento do desmatamento nos últimos meses está associado a fenômenos como a intensificação da atual temporada de estiagem no Pantanal. Dados do Serviço Geológico do Brasil alertam para a possibilidade de uma seca severa na região nos próximos meses.
Infelizmente, restaurar um ecossistema não é tão simples quanto degradá-lo. Cada bioma possui sua própria biodiversidade, com uma variedade de plantas, animais e microrganismos adaptados às condições específicas do local. Restaurar não é apenas recuperar o que foi perdido, mas também adotar medidas efetivas para reduzir e reverter as alterações que ameaçam a integridade e a resiliência dos ecossistemas naturais.
A restauração de ambientes parte do princípio de recompor, em primeiro lugar, o solo e as plantas, que são a base da cadeia alimentar. Espera-se que isso desencadeie um efeito dominó, com as espécies incorporadas ao sistema criando condições para a chegada de outras espécies, sejam animais ou plantas, aumentando a biodiversidade.
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Do ponto de vista local, ter ecossistemas restaurados e funcionais garante o fornecimento de vários serviços ambientais, como o controle da erosão, que evita o assoreamento de rios e baixadas e o surgimento de voçorocas – grandes rachaduras na superfície –, vitais para a redução de enchentes e deslizamentos. Em escala regional, o restabelecimento da vegetação natural ajuda a amenizar a temperatura local, melhorando o microclima e a infiltração de água no solo, o que contribui para a maior perenidade das águas nos rios e maior controle de inundações.
A atividade de restauração também melhora a polinização, um processo crucial para a manutenção das culturas agrícolas, produção de alimentos e controle de pragas. Em escala global, o crescimento das árvores em projetos de restauração acelera a remoção de dióxido de carbono da atmosfera e o acúmulo de biomassa, contribuindo para o controle das mudanças climáticas.
O objetivo da restauração ambiental é recriar ambientes ecologicamente saudáveis e funcionais. Para alcançar esse objetivo, é essencial manter três características: estrutura, funcionamento e diversidade de espécies. Isso significa que, durante o processo de restauração, deve-se restabelecer uma estrutura diversificada, com árvores de diferentes alturas, arbustos e plantas herbáceas. O funcionamento se refere aos processos ecológicos dentro da floresta, como a ciclagem de nutrientes, polinização e regeneração natural da vegetação. Esses processos permitem a manutenção do sistema ao longo do tempo, sem a necessidade de intervenções humanas adicionais.
Embora a restauração esteja frequentemente associada às árvores, esse processo pode ser aplicado a qualquer tipo de sistema natural, seja terrestre ou aquático. Cada sistema exigirá métodos diferentes de acordo com suas características ambientais e a estrutura da vegetação local. As técnicas mais comuns para a recomposição de vegetação florestal são o plantio direto de mudas e sementes de espécies nativas. Em ecossistemas aquáticos, muitas vezes é necessário controlar processos erosivos e afastar fatores de degradação, como a descarga de poluentes e a proliferação de espécies invasoras.
Entre os mecanismos importantes nessa agenda estão a Política e o Plano Nacional de Restauração da Vegetação Nativa (Planaveg), que promovem a cadeia de insumos e serviços ligados à recuperação, além de fomentar a pesquisa e desenvolvimento para a inovação de técnicas de recuperação da vegetação nativa do país. O Comitê Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (Conaveg), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), é responsável por propor planos e diretrizes, articular e integrar ações para prevenção e controle do desmatamento ilegal e recuperação da vegetação nativa.
A agenda ambiental não deve ser vista apenas como ideológica ou partidária. Pelo contrário, é necessário que diferentes esferas atuem em conjunto, com foco em soluções coletivas e de longo prazo. Ao nos preocuparmos com a origem sustentável dos produtos que consumimos, participarmos de iniciativas de restauração em nossa comunidade, doando tempo ou recursos, ou dialogarmos sobre a importância da conservação ambiental, damos passos em direção a um futuro mais sustentável.
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