Restauração de ecossistemas é a salvação contra às mudanças climáticas

A chuva intensa que devastou o estado do Rio Grande do Sul nos últimos dois meses evidenciou a urgência de restaurar ecossistemas naturais. No entanto, argumentos para essa necessidade já existiam há muito tempo: nos últimos cinco anos, o Brasil perdeu mais de 8 milhões de hectares de vegetação nativa, equivalente a duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro, segundo dados do último Relatório Anual do Desmatamento do MapBiomas. Mais da metade de toda a área desmatada em 2023 está na região do Cerrado.

Vista aérea de regiões alagadas no Rio Grande do Sul em 2024
Vista aérea de regiões alagadas no Rio Grande do Sul em 2024 — Foto: Cadu Gomes/Wikimedia Commons

A supressão de florestas tropicais pode alterar drasticamente o regime de chuvas, aumentando a temperatura em escala local e global. O aumento do desmatamento nos últimos meses está associado a fenômenos como a intensificação da atual temporada de estiagem no Pantanal. Dados do Serviço Geológico do Brasil alertam para a possibilidade de uma seca severa na região nos próximos meses.

Infelizmente, restaurar um ecossistema não é tão simples quanto degradá-lo. Cada bioma possui sua própria biodiversidade, com uma variedade de plantas, animais e microrganismos adaptados às condições específicas do local. Restaurar não é apenas recuperar o que foi perdido, mas também adotar medidas efetivas para reduzir e reverter as alterações que ameaçam a integridade e a resiliência dos ecossistemas naturais.

A restauração de ambientes parte do princípio de recompor, em primeiro lugar, o solo e as plantas, que são a base da cadeia alimentar. Espera-se que isso desencadeie um efeito dominó, com as espécies incorporadas ao sistema criando condições para a chegada de outras espécies, sejam animais ou plantas, aumentando a biodiversidade.

Como as cidades-esponja podem ajudar a prevenir enchentes nas cidades | Florestal Brasil

Do ponto de vista local, ter ecossistemas restaurados e funcionais garante o fornecimento de vários serviços ambientais, como o controle da erosão, que evita o assoreamento de rios e baixadas e o surgimento de voçorocas – grandes rachaduras na superfície –, vitais para a redução de enchentes e deslizamentos. Em escala regional, o restabelecimento da vegetação natural ajuda a amenizar a temperatura local, melhorando o microclima e a infiltração de água no solo, o que contribui para a maior perenidade das águas nos rios e maior controle de inundações.

A atividade de restauração também melhora a polinização, um processo crucial para a manutenção das culturas agrícolas, produção de alimentos e controle de pragas. Em escala global, o crescimento das árvores em projetos de restauração acelera a remoção de dióxido de carbono da atmosfera e o acúmulo de biomassa, contribuindo para o controle das mudanças climáticas.

O objetivo da restauração ambiental é recriar ambientes ecologicamente saudáveis e funcionais. Para alcançar esse objetivo, é essencial manter três características: estrutura, funcionamento e diversidade de espécies. Isso significa que, durante o processo de restauração, deve-se restabelecer uma estrutura diversificada, com árvores de diferentes alturas, arbustos e plantas herbáceas. O funcionamento se refere aos processos ecológicos dentro da floresta, como a ciclagem de nutrientes, polinização e regeneração natural da vegetação. Esses processos permitem a manutenção do sistema ao longo do tempo, sem a necessidade de intervenções humanas adicionais.

Embora a restauração esteja frequentemente associada às árvores, esse processo pode ser aplicado a qualquer tipo de sistema natural, seja terrestre ou aquático. Cada sistema exigirá métodos diferentes de acordo com suas características ambientais e a estrutura da vegetação local. As técnicas mais comuns para a recomposição de vegetação florestal são o plantio direto de mudas e sementes de espécies nativas. Em ecossistemas aquáticos, muitas vezes é necessário controlar processos erosivos e afastar fatores de degradação, como a descarga de poluentes e a proliferação de espécies invasoras.

Entre os mecanismos importantes nessa agenda estão a Política e o Plano Nacional de Restauração da Vegetação Nativa (Planaveg), que promovem a cadeia de insumos e serviços ligados à recuperação, além de fomentar a pesquisa e desenvolvimento para a inovação de técnicas de recuperação da vegetação nativa do país. O Comitê Nacional para Recuperação da Vegetação Nativa (Conaveg), do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), é responsável por propor planos e diretrizes, articular e integrar ações para prevenção e controle do desmatamento ilegal e recuperação da vegetação nativa.

A agenda ambiental não deve ser vista apenas como ideológica ou partidária. Pelo contrário, é necessário que diferentes esferas atuem em conjunto, com foco em soluções coletivas e de longo prazo. Ao nos preocuparmos com a origem sustentável dos produtos que consumimos, participarmos de iniciativas de restauração em nossa comunidade, doando tempo ou recursos, ou dialogarmos sobre a importância da conservação ambiental, damos passos em direção a um futuro mais sustentável.


Descubra mais sobre Florestal Brasil

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

View all posts by Arthur Brasil →

Comenta ai o que você achou disso...