A nova avaliação global do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) traz um recado direto: a inação frente à crise climática e ambiental já cobra um preço alto — e pode custar milhões de vidas nas próximas décadas. Lançado nesta terça-feira (9), em Nairóbi, o Panorama Ambiental Global (GEO7) reúne a análise de 287 cientistas de 82 países e consolida evidências de que os impactos já sentidos em todo o planeta se intensificarão sem transformações profundas em sistemas econômicos e sociais.

O GEO7 é a principal avaliação periódica sobre o estado do meio ambiente no mundo. Ao mesmo tempo em que detalha riscos, também aponta caminhos capazes de reduzir mortes, prevenir pobreza extrema e gerar benefícios econômicos que podem alcançar US$ 20 trilhões ao ano até 2070.
Transformações urgentes e sem precedentes
Para Robert Watson, copresidente da avaliação, a mensagem central do relatório é inequívoca: apenas mudanças estruturais e abrangentes serão capazes de reverter a trajetória atual. Ele destaca que a transição precisa atingir cinco sistemas essenciais — finanças, economia, energia, materiais e alimentação — e envolver toda a sociedade.
Segundo o cientista, essa transformação terá de ser “integrada, rápida e inovadora”. E não pode ficar restrita aos ministérios do meio ambiente. “É para cada ministro, em cada governo no mundo”, afirma, defendendo um esforço global articulado.
Vidas em risco e custos que já se acumulam
Os impactos ambientais já impõem perdas profundas. O relatório estima que seguir as recomendações pode evitar 9 milhões de mortes prematuras relacionadas à poluição, além de retirar 200 milhões de pessoas da subnutrição e 150 milhões da pobreza extrema.
Mas alcançar tais metas exige investimentos vultosos: o GEO7 calcula um custo anual de US$ 8 trilhões para que o planeta consiga neutralizar as emissões até 2050 e avançar na conservação da biodiversidade.
Para a diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, qualquer comparação entre custo e benefício revela que a inação sai muito mais cara. Ela lembra que os efeitos das mudanças climáticas já devem reduzir 4% do PIB anual global até 2050, além de provocar mortes e intensificar a migração forçada.
Os eventos extremos e o aumento contínuo da temperatura representam hoje um prejuízo estimado em US$ 143 bilhões por ano. Somam-se a isso perdas associadas à saúde: somente a poluição do ar consumiu US$ 8,1 trilhões em 2019, enquanto danos causados por substâncias tóxicas em plásticos respondem por mais US$ 1,5 trilhão anual.
Diante desse cenário, Andersen é categórica: os investimentos necessários não são mais uma opção, mas uma rota inevitável. E garantem retornos expressivos. “Os benefícios macroeconômicos globais aparecem em 2050 e crescem para US$ 20 trilhões ao ano até 2070”, afirma.
Além de soluções práticas, o relatório propõe repensar o próprio modelo de tomada de decisão adotado pelas nações. Uma das recomendações é ir além do PIB como medida de bem-estar econômico, incorporando indicadores que considerem também saúde humana e capital natural.
A transição para modelos circulares e a descarbonização acelerada fazem parte do conjunto de mudanças estruturais defendidas pelo Pnuma.
O documento chega em um momento em que países buscam consolidar os compromissos assinados durante a COP30, realizada em Belém. Para a diretora do Pnuma, o relatório deve servir como motivação para transformar promessas climáticas em políticas concretas — e ampliá-las.
Com contribuições de mais de 800 revisores, o GEO7 busca orientar governos, empresas e sociedade no enfrentamento da crise ambiental que, segundo seus autores, já não admite adiamentos. A mensagem final do relatório é clara: investir agora em um planeta estável salva vidas, reduz desigualdades e gera prosperidade. Ignorar o problema pode custar muito mais.
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