O reconhecimento de como a natureza pode ajudar a combater a crise climática tem aumentado. Da proteção às florestas já existentes ao plantio de novas árvores, as florestas oferecem benefícios significativos em termos de mitigação climática. Somando-se a essas vantagens, uma nova pesquisa mostra que deixar as florestas se regenerarem por conta própria pode ser uma arma secreta no combate às mudanças climáticas.
Especialistas do WRI, da The Nature Conservancy e de outras instituições mapearam taxas potenciais de captura de carbono a partir da “regeneração natural das florestas”, um método de restauração diferente do plantio ativo de árvores, no qual as árvores crescem novamente em terras anteriormente desmatadas para agricultura ou outros usos.
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Os resultados, publicados na revista Nature e disponíveis no Global Forest Watch, mostram que deixar as florestas se regenerarem de forma natural tem o potencial de absorver até 8,9 bilhões de toneladas métricas de dióxido de carbono da atmosfera por ano até 2050 – e ainda manter pastagens nativas e os níveis atuais de produção de alimentos.
É o equivalente a absorver 23% das emissões globais de CO2 da atmosfera todos os anos.
Essa quantidade se soma ao carbono que as florestas existentes já absorvem atualmente – em torno de 30% das emissões anuais de CO2.
Benefícios de conciliar reflorestamento e regeneração natural
Embora a descarbonização dos combustíveis fósseis e outras emissões industriais permaneçam como peças essenciais do quebra-cabeça da redução de emissões, a natureza também desempenha um papel fundamental. As Nações Unidas declararam os anos 2020 como a “Década da Restauração de Ecossistemas”, convocando esforços de restauração massivos para áreas degradadas a fim de ajudar na mitigação das mudanças climáticas.
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É uma mensagem poderosa, mas com frequência a “restauração florestal” é entendida apenas como sinônimo de “plantar árvores”. Por exemplo: uma análise atenta de alguns compromissos nacionais assumidos no Desafio de Bonn, no programa REDD+ da ONU, nas contribuições nacionalmente determinadas do Acordo de Paris e em outros acordos mostra que quase metade da área destinada para restauração atualmente prevê o plantio de árvores comerciais. Conciliar o reflorestamento ativo de espécies comerciais com a regeneração natural das florestas poderia ser uma abordagem mais eficaz em termos de carbono e biodiversidade.
O mapa gerado para o recente estudo da Nature pode ajudar a identificar locais onde a regeneração natural das florestas tem mais potencial de mitigação climática, para que a opção seja considerada junto a iniciativas de plantio. São muitas as vantagens de deixar as florestas se regenerarem por conta própria: em geral é mais barato e tem mais chances de beneficiar a fauna nativa. O novo mapa, analisado junto a outras informações sobre o cenário socioeconômico local e usos alternativos da terra, pode fornecer um contexto para otimizar a decisão de onde deixar a natureza assumir a liderança.
Estimativas anteriores do IPCC sobre o sequestro de carbono são baixas
Esse último estudo mostra que as taxas potenciais de captura de carbono a partir da regeneração florestal são muito mais altas do que o estimado anteriormente.
Durante décadas, ecologistas coletaram em campo dados de diversos locais ao redor do mundo sobre a velocidade com que diferentes áreas retornam ao estado de floresta depois do abandono da atividade agrícola ou outros distúrbios. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) faz um compilado periódico dessas medições por tipo geral de ecossistema a fim de gerar taxas padronizadas. Muitos países partem desses valores para estimar a quantidade de dióxido de carbono que suas florestas removem da atmosfera a cada ano à medida que fazem seus inventários de gases de efeito estufa e definem seus compromissos de mitigação climática.
O novo estudo descobriu que esses padrões gerais do IPCC subestimam as taxas de sequestro de carbono em florestas jovens em 32% globalmente e em até 50% no caso de florestas tropicais. Foi possível chegar a esses resultados porque o novo mapa compreende a variabilidade espacial nas taxas ao longo de uma paisagem muito melhor do que as coletas de campo; simplesmente não é possível ou economicamente viável medir o carbono diretamente em todos os lugares.
Utilizando os padrões do IPCC, muitos governos podem estar subestimando os benefícios da regeneração natural das florestas em termos de captura de dióxido de carbono e, consequentemente, subestimando também seu poder enquanto solução para as mudanças climáticas.
Onde a regeneração natural das florestas tem o maior potencial de remoção de carbono?
As taxas pelas quais as florestas jovens removem dióxido de carbono do ar variam em magnitude ao redor do mundo; países tropicais no oeste e no centro da África apresentam as taxas mais altas, enquanto países na Europa Central e no Oriente Médio têm as mais baixas.
E embora as taxas de acúmulo de carbono em geral sejam mais altas em climas mais quentes e úmidos, elas podem variar consideravelmente em escala local – só na Colômbia registra-se uma variação de tripla.
Ao harmonizar medições detalhadas de carbono coletadas em diferentes partes do mundo e combiná-las com métodos de última geração de machine learning (aprendizado de máquina), o novo mapa considera de que forma 66 variáveis ambientais diferentes influenciam as taxas de crescimento florestal – tudo, desde a topografia até a variação diária de temperatura e a textura do solo.
Essas novas informações geoespaciais agora estão no Global Forest Watch, disponíveis para governos, organizações da sociedade civil e empresas.
As florestas podem ajudar com a mitigação das mudanças climáticas – e mais
Deixar que áreas anteriormente florestadas se recuperem naturalmente pode contribuir para a remoção dos 730 bilhões de toneladas de dióxido de carbono que o IPCC afirma que precisam ser retiradas da atmosfera até o fim deste século se quisermos evitar os piores efeitos das mudanças climáticas. Além da mitigação das mudanças no clima, aumentar a cobertura florestal também pode trazer outros benefícios, como prevenir inundações, regular a precipitação, desacelerar a perda de biodiversidade e ajudar a manter economias e modos de vida tradicionais.
Com um entendimento mais detalhado do potencial das florestas de capturar dióxido de carbono, lideranças podem fazer avaliações mais rápidas sobre a melhor forma de usar a terra para obter o maior retorno climático.
Fonte: WRI
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