Uma investigação conduzida pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) explorou áreas de restauração florestal, coletando informações sobre o potencial de projetos de reflorestamento alinhados a uma abordagem bioeconômica. Os pesquisadores desenvolveram modelos de crescimento e delinearam cenários para a produção de madeira a partir de 10 espécies de árvores nativas da Mata Atlântica. Essas espécies não apenas indicaram viabilidade econômica (comercialização da madeira), mas também contribuíram para a restauração do ecossistema atlântico.
A maioria dessas espécies é protegida por lei e não é mais vendida legalmente no mercado, pois são endêmicas da Mata Atlântica e do Cerrado e não possuem estoques comerciais viáveis disponíveis em áreas naturais. No entanto, alguns deles alguns deles como por exemplo o Jatobá e Ipê-amarelo ainda são explorados na Amazônia.
Para este estudo foram escolhidas 10 espécies:
Pau-marfim (Balfourodendron riedelianum (Engl.) Engl.), Jequitibá-rosa (Cariniana legalis (Mart.) Kuntze), Cedro-rosa (Cedrela fissilis Vell.), Araribá (Centrolobium tomentosum Guillem. ex Benth), Guarantã (Esenbeckia leiocarpa Engl.), Jatobá (Hymenea courbaril L), Canafístula (Peltophorum dubium (Spreng.) Taub.), Ipê-amarelo (Handroanthus impetiginosus Mattos), Guaritá (Astronium graveolens Jacq.) e Cabreúva (Myroxylon peruiferum Lf)
Mediram todos os indivíduos dessas espécies nos locais de estudo através do DAP e classificou a qualidade do fuste em (1) caule reto (melhor qualidade); (2) caule reto com pequeno número de caules ramificados ou tortos e não ramificados (alta qualidade); (3) caule torto e sem ramificação (baixa qualidade); (4) caule torto e ramificado (pior qualidade – não comercial). Foram amostrados 172,5 indivíduos de cada espécie e um total de 1.725 árvores
O pesquisador analisou 13 áreas de plantação de restauração que abrigavam as espécies escolhidas para a análise. Além disso, foram selecionadas zonas com árvores de idades variadas, entre 6 e 96 anos, a fim de estabelecer uma linha do tempo representativa do desempenho de seu crescimento. Essa abordagem permitiu estimar a produtividade e o retorno econômico das espécies ao longo do tempo.
Para realizar esse cálculo, foi adotado dois métodos, sendo o primeiro:
Utilizando o DAP estimado para cada idade para fornecer uma análise de série temporal sobre a idade das árvores e os incrementos de área diamétrica e basal, as espécies foram classificadas em crescimento rápido, intermediário, lento e superlento, com base no tempo necessário para atingir um DAP 35 cm – tamanho de DAP tradicionalmente empregado para decidir sobre o corte de madeira em serrarias.
O segundo método foi através da Exploração Orientada pelo Crescimento (Growth-Oriented Logging – GOL), que envolve a criação de uma escala utilizando o potencial produtivo e o tempo de crescimento da espécie. Segundo Krainovic, o GOL direciona o corte de árvores com base em seu crescimento, selecionando o momento ideal para orientar as decisões de manejo. Essa abordagem permite estabelecer um cenário otimizado focado na qualidade da madeira, indicando o momento mais propício para a colheita.
Resultados
Com base no tempo necessário para atingir um DAP de 35 cm para a colheita, as espécies foram classificadas como de crescimento rápido (<50 anos), intermediário (50-70 anos) e lento (>70 anos;). Quando a abordagem GOL foi usada, as espécies foram agrupadas em quatro classes de taxa de crescimento (rápido: <25 anos; intermediário: 25–50 anos; lento: 50–75 anos; e super lento: 75–100 anos;) . A abordagem GOL recomendou ciclos de colheita mais curtos de fustes mais finos para aumentar a relação produtividade/tempo de madeira para a maioria das espécies. Para recomendações de uma primeira colheita mais rápida, a abordagem resultou em um tempo médio de colheita 16% menor e uma área basal 16,5% menor, enquanto a recomendação de colheita tardia resultou em um tempo 23,4% maior e uma área basal 30% maior.
Abaixo podemos observar as espécies atingindo o DAP de 35 conforme a idade.
Nessa outra demonstra a época ideal de corte para as espécies.
Parâmetros gerais para a exploração na tabela abaixo.
O cenário otimizado (utilizando as 30% maiores árvores de cada local) teve o tempo de colheita reduzido em 25% e a área basal média aumentada em 38%. Representou uma antecipação média de ∼13 ± 13 anos na idade ideal de colheita e um aumento de 48% na área basal (295 cm 2 /árvore). Como exceções a esta tendência, C. legalis. e H. courbaril tiveram seu período ideal de colheita prolongado, mas a área basal de colheita aumentou mais de 50%, enquanto C. fissilis teve redução de 36,6% na área basal de colheita (646,6 cm 2 /árvore) mas uma antecipação de 47 anos em tempo de colheita (51% mais rápido que o GOL). Metade das espécies atingiu DAP de 35 cm na idade ideal de colheita recomendada pela GOL no cenário otimizado, enquanto 90% atingiu DAP de 35 cm antes dos 60 anos, exceto uma espécie de alta densidade de madeira (E. leiocarpa Engl. ).
O pesquisador destaca que as informações proporcionadas pelo GOL preenchem uma lacuna de conhecimento na elaboração de projetos de reflorestamento com espécies nativas. Ao compreender a projeção de crescimento dessas árvores nativas, aumenta-se a viabilidade e atratividade dessas iniciativas, criando um contexto de conciliação entre florestas multifuncionais e retorno econômico.
O estudo também realizou uma estimativa da produtividade em um contexto com condições ideais para o crescimento das espécies, considerando a aplicação de técnicas silviculturais. Isso demonstra a otimização do retorno financeiro que pode ser alcançado por meio do manejo adequado dessas áreas, abrangendo desde o início da cadeia de infraestrutura, como o manejo ao longo do tempo, a marcação de matrizes, o espaçamento ideal entre as mudas e as condições do solo. Segundo Krainovic, todos esses fatores contribuem para maximizar os resultados potenciais.
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Fonte: Jornal da USP; Potential native timber production in tropical forest restoration plantations – ScienceDirect
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