Quase 2.500 espécies de animais e plantas em risco de extinção no Brasil

O sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), sagui com 25 centímetros (cm) de comprimento e parte do corpo coberta de pelo branco, vive uma situação dramática. Na cidade de Manaus, é predado por cachorros e gatos; nas matas próximas, é capturado para ser vendido como animal de estimação. Seu hábitat está diminuindo por causa do desmatamento e da competição por alimento com o sagui-de-mãos-douradas (Saguinus midas), que expandiu sua distribuição geográfica para a região onde antes só vivia o saium-de-coleira.

Sauim-de-coleira, espécie da Amazônia cada vez com menos espaço para viver. ferraz76 / iNaturalist

Estima-se que a população do sauim-de-coleira deve ter diminuído 80% desde 1997. Por essa razão, a espécie foi classificada como criticamente em perigo, categoria que representa o maior risco de extinção, quando há grandes reduções das populações, na atualização mais recente da Lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), divulgada em junho.

As equipes e organizações de 160 países ligadas à IUCN avaliaram 18.391 espécies de plantas e animais do Brasil e classificaram 2.475 como ameaçadas de desaparecimento – dessas, 515 estão criticamente em perigo. Quatro delas não existem mais na natureza, apenas exemplares em cativeiro, como a ararinha-azul (Cyanopsitta spixii); e 16 foram extintas (ver tabela).

“Como em muitos outros países, a biodiversidade no Brasil está em declínio, embora em ritmo menos acentuado que em outros lugares”, comentou Craig Hilton-Taylor, diretor da unidade da Lista vermelha da IUCN, para Pesquisa FAPESP.

Na lista deste ano, Austrália, Bangladesh, França, Japão, Arábia Saudita e Iêmen apresentaram queda acentuada da biodiversidade, que se mostrou estável no Afeganistão, Angola, Bélgica, Costa do Marfim, Peru e Suíça. Em poucos países, como a Polônia, a biodiversidade aumentou, como resultado de políticas de conservação ambiental.

A IUCN calcula o estado de conservação da biodiversidade examinando os eventuais declínio, estabilidade ou aumento das populações de espécies mais conhecidas de animais e plantas. O risco de extinção aumenta quando a população é pequena, está em declínio ou ocupa uma região geográfica restrita.

A lista deste ano incorporou cerca de 6 mil espécies à versão anterior, de 2023, aumentando para 163.040 espécies de animais, plantas e fungos avaliados. A IUCN verificou que 28% desse total, o equivalente a 45.321 espécies de plantas e animais, está ameaçado de extinção no mundo e 908 espécies já foram extintas.

Espécies que geram poucos filhotes por ninhada e demoram para chegar à maturidade sexual recompõem suas populações mais lentamente e têm risco mais alto de extinção. É o caso, no Brasil, da baleia-jubarte (Megaptera novaeangliae), cujas fêmeas começam a se reproduzir aos 5 anos, engravidam a cada dois anos e têm um filhote por vez.

“As baleias quase desapareceram da costa brasileira, mas a população se recompôs lentamente após a proibição da caça na década de 1980”, diz a bióloga Rosana Junqueira Subirá, do Centro de Sobrevivência de Espécies (CSE) Brasil, braço da IUCN no país.

A tartaruga-verde saiu da lista de espécies ameaçadas. Mariusz Potocki / iNaturalist

Lista nacional

“A metodologia da IUCN é a mesma que usamos para fazer a Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção”, diz a bióloga Mariella Butti, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

A lista mais recente do ICMBio, de 2022, avaliou 15.651 espécies de animais do Brasil e classificou 1.254 como ameaçadas, das quais 360 como criticamente em perigo. Seis espécies de pequenas aves, mamíferos e anfíbios foram classificadas como extintas e uma de ave, o mutum-do-nordeste (Pauxi mitu), não existe mais na natureza, apenas em cativeiro. Eventuais diferenças com a classificação da IUCN se explicam porque o ICMBio tende a ser mais cauteloso para considerar uma espécie como extinta.

“Nas listas vermelhas as espécies só são declaradas extintas quando as evidências são consideradas conclusivas”, ressalta Butti. O cuidado é necessário para evitar que espécies que permanecem escondidas em regiões pouco acessíveis sejam declaradas extintas, o que desestimularia a busca por essas populações remotas.

É o caso da rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis), ave de pelagem castanha, com 16 cm de comprimento, avistada pela última vez em 1941 no Cerrado do sul de Goiás. Em julho de 2015, porém, 12 exemplares dessa espécie foram vistos em uma mata no município de Botumirim, em Minas Gerais, por essa razão depois transformada em uma unidade de conservação.

Baleia-jubarte: populações voltaram a crescer após proibição da caça. Wwelles14 / WIKIMEDIA

Classificação dinâmica

As listas vermelhas ajudam a orientar medidas para reduzir o risco de extinção das espécies. Em 2022, como resultado do trabalho das equipes do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Tartarugas Marinhas e da Biodiversidade Marinha do Leste (Tamar/ICMBio) e do Projeto Tamar, uma organização não governamental, quatro das cinco espécies brasileiras de tartarugas marinhas apresentaram uma melhora no estado de conservação e a tartaruga-verde (Chelonia mydas) saiu da lista de espécies ameaçadas.

“Dependendo da espécie, a recuperação pode ser muito rápida”, comenta Subirá. Ela cita como exemplo o grama-brasileiro (Gramma brasiliensis), peixe ornamental marinho roxo e amarelo, com cerca de 6 cm, que entrou na lista de espécies ameaçadas em 2003 por ser muito capturado por aquaristas. Como sua pesca foi proibida em 2005 e seu ciclo reprodutivo é rápido, a população se recuperou sozinha e a espécie saiu do risco de extinção.

A arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus), com até 1 m de comprimento, saiu da lista em 2014, depois de ficar ameaçada por décadas, graças a um programa de conservação do Instituto Arara Azul que coibiu a caça e o comércio ilegal, protegeu as palmeiras usadas por essas aves para construir ninhos e promoveu a educação ambiental. “Agora, com os incêndios do Pantanal, talvez volte para a lista”, afirma Subirá.

Animais ameaçados podem se tornar símbolos de populações locais, favorecendo sua preservação. Na ilha de Moleques do Sul, próxima a Florianópolis, em Santa Catarina, um preá (Cavia intermedia) foi usado em projetos educativos como forma de sensibilizar os alunos para a conservação da natureza. Restam cerca de 40 indivíduos. “Essa espécie não existe em nenhum outro lugar do mundo”, ressalta Butti, do ICMBio.

A guarajuba, redescoberta em 2017. Lucas Moraes (CNCFlora / JBRJ)

Plantas

O risco de extinção das plantas é avaliado pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que produz o Livro vermelho da flora do Brasil, também baseado na metodologia da IUCN, com 7.524 espécies avaliadas, das quais 3.213 ameaças de extinção e 684 criticamente em perigo.

As equipes do Jardim Botânico ainda não classificaram nenhuma espécie de planta como extinta, mas avaliam o possível desparecimento de cinco espécies de árvores da Mata Atlântica.

“A guarajuba (Terminalia acuminata) chegou a ser considerada extinta na natureza por mais de 15 anos, mas foi redescoberta em 2015”, observa o botânico Eduardo Fernandez, do Centro Nacional de Conservação da Flora, no Jardim Botânico. A árvore da Mata Atlântica do Rio de Janeiro chega a 30 m de altura, está na categoria em perigo e é alvo de programas de recuperação populacional.

Entre as espécies de plantas ameaçadas de extinção está o pau-brasil (Paubrasilia echinata), muito derrubado ilegalmente para a confecção de instrumentos musicais, dezenas de bromélias, cactos e orquídeas, impactados pela coleta predatória para o mercado ilegal de plantas ornamentais.

Outro exemplo é a jueirana-facão (Dinizia jueirana-facao), uma árvore que pode passar de 50 m de altura, com menos de 50 indivíduos conhecidos no município de Linhares e Sooretama, no Espírito Santo. “A jueirana surpreendeu os botânicos por ter sido identificada em 2017, em uma área relativamente bem estudada”, relata Fernandez. A árvore é uma espécie próxima do angelim-vermelho (Dinizia excelsa), considerada a árvore tropical mais alta do mundo, que vive nas florestas do Amapá.

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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