A Antártica é, sem dúvida, um dos lugares mais inóspitos do planeta. Com seus mares congelados, clima severo e superfícies quase inteiramente cobertas de gelo, a flora da região é extremamente limitada.
No entanto, o continente está enfrentando mudanças climáticas significativas, e uma das evidências mais notáveis é o aumento de áreas verdes em sua superfície. Diante dessas rápidas transformações e da falta de informações detalhadas sobre a vegetação local, pesquisadores decidiram criar o primeiro mapa de base, utilizando satélites para documentar essas mudanças.
Este mapa de vegetação aprimora os dados geoespaciais disponíveis sobre a vegetação em toda a Antártica, fornecendo uma ferramenta essencial para futuros planejamentos de conservação e avaliações biogeográficas em larga escala. Analisando um vasto conjunto de imagens do satélite Sentinel-2, capturadas entre 2017 e 2023, os pesquisadores apresentaram um mapa de alta resolução (10 m) da vida fotossintética em habitats terrestres e criosféricos do continente Antártico, incluindo arquipélagos e ilhas ao sul de 60°S.
O mapa revela que a maior parte da vegetação está concentrada na Antártica marítima, que possui um clima mais quente e úmido do que a Antártica continental. A vegetação cobre um total de 44,2 km², representando apenas 0,12% da área livre de gelo do continente.
A vegetação é diversificada, incluindo plantas vasculares, briófitas, algas verdes e líquenes em áreas sem gelo. Contudo, a forma mais comum é a neve verde, uma alga que cresce na neve e ocupa 7,5% da área total de vegetação detectada.
Reflexões para o futuro
Nas últimas décadas, as temperaturas da superfície na Península Antártica ocidental aumentaram cerca de três vezes mais rápido do que a média global. Isso tem levado a pequenas, mas significativas, mudanças na distribuição e nos padrões de crescimento da vegetação terrestre, especialmente das duas únicas plantas com flores nativas.
Dado o cenário atual de aquecimento, sem mudanças drásticas, o derretimento do gelo poderá expandir a quantidade de terra livre de gelo em 25% no continente e em 300% na Península Antártica. Isso abriria espaço para o estabelecimento de novas formas de vida, evidenciando a necessidade urgente de informações claras para monitorar e documentar essas mudanças no futuro.
Principais conclusões do mapa
A maior parte da vegetação está concentrada na Antártica marítima (84,8%), abrigando 83% das plantas verdes (vasculares, briófitas e algas), 98% dos líquenes e 70% das algas verdes.
Embora as algas verdes da neve ocupem apenas 7,5% da área total de vegetação detectada, elas têm um padrão de distribuição semelhante ao da vegetação terrestre em todo o continente. “Encontramos essas algas também em manchas isoladas sobre plataformas de gelo, muitas vezes próximas a colônias de pinguins-imperadores, como nas plataformas de gelo Larsen, perto da colônia Dolleman, e Ronne, perto das colônias Smith e Gould”, explicam os pesquisadores.
Cerca de 40% da vegetação verde e dos líquenes em áreas livres de gelo foram detectados a menos de 5 km de Áreas Importantes para Aves (IBAs) na Antártica, como em Seabee Hook, no Cabo Hallett, e na Ilha Shirley, nas Ilhas Windmill, onde existem grandes colônias de Pinguins de Adélia.
Essas descobertas confirmam a relação espacial entre a vegetação e as colônias de aves, sugerindo que futuros estudos de mapeamento poderiam explorar essas associações biogeográficas em maior detalhe, auxiliando na identificação de novas IBAs ainda desconhecidas.
Fonte: Tempo.
Artigo: Walshaw, C. V. et al. A satellite-derived baseline of photosynthetic life across Antarctica. Nature Geoscience, v. 17, 2024.
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