Este artigo foi escrito por Natasha Ferrari, traduzido e adaptado por Mauricio Boff e publicado originalmente no WRI Insights.
A Conferência Mundial sobre Restauração Ecológica terminou em Foz do Iguaçu (PR) no dia 1 de setembro. Aproveitamos a ocasião para conversar com especialistas em restauração sobre o que acontece no Brasil — como o exemplo brasileiro pode beneficiar todo o planeta, como os produtores rurais podem ganhar dinheiro fazendo restauração e também como as empresas estão dando uma pitada genuinamente brasileira para a nova economia da restauração.
Podemos ser a primeira geração da história da humanidade a deixar o planeta melhor do que encontramos — e, ao mesmo tempo, crescer economicamente?
A resposta é sim de acordo com Sean De Witt, diretor da Global Restoration Initiative, e Miguel Calmon, diretor de florestas do WRI Brasil. Segundo eles, a chave para a pergunta é considerar a restauração da paisagem, um tema que Lawrence MacDonald, vice-presidente de Comunicação do World Resources Institute (WRI), explorou no podcast do WRI (disponível apenas em inglês).
A restauração é o processo que reintroduz árvores e arbustos em paisagens degradadas e desmatadas para beneficiar o meio ambiente, a economia e as pessoas. Árvores e arbustos melhoram a qualidade da água e do solo, promovem a segurança alimentar, geram renda e empregos e fornecem biomassa para a geração de energia limpa.
“A restauração é sobre aproveitar o que as árvores fazem realmente bem”, diz Sean.
Agora, como tornar a restauração atrativa para proprietários de terras, produtores rurais ou investidores?
“Se você realmente espera que um produtor rural invista o seu tempo plantando árvores, devemos ser capazes de mostrar uma boa maneira dele ganhar dinheiro com isso”, observa Miguel.
Esta é a inspiração por trás do VERENA, um projeto do WRI Brasil e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) – e que tem o apoio financeiro da Children’s Investment Fund Foundation (CIFF). O VERENA tem como objetivo demonstrar a viabilidade econômica do uso de espécies nativas brasileiras para o reflorestamento em larga escala.
Por que espécies nativas?
O Brasil se comprometeu em restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Isso é mais do que um terço dos 30 milhões de hectares de florestas que foram degradadas e desmatadas no Brasil, uma área aproximadamente do tamanho da Itália. As árvores nativas são raramente plantadas embora existam cerca de 100 espécies de árvores nativas de alto valor comercial que poderiam ser utilizadas.
“As árvores nativas podem realmente melhorar a qualidade do solo e gerar renda para o país e os produtores rurais, além de ajudar na mitigação das mudanças climáticas”, afirma Miguel.
O VERENA, que está em seu segundo ano, mostra que produtores rurais podem gerar lucros consideráveis plantando espécies nativas. Miguel destaca que eles podem ganhar mais dinheiro com espécies nativas do que com as espécies exóticas mais comumente plantadas, como eucalipto e pinus.
Ao documentar casos bem-sucedidos de empresas, o VERENA demonstra que restaurar a produtividade e a biodiversidade em paisagens degradadas oferece retornos atrativos no longo prazo para investidores, produtores rurais e proprietários de terras. Restaurar a vegetação nativa – algumas espécies quase foram extintas – também restaura o orgulho local e o conhecimento florestal, o que, nas palavras de Sean, define um movimento de “restauração cultural”.
A Symbiosis Investimentos, empresa de reflorestamento criada em 2008 pelo ex-banqueiro e empresário Bruno Mariani, é um dos casos de sucesso analisados pelo VERENA. A empresa idealizou um projeto-piloto em que buscava atender a alta demanda de produtos de madeira sem perturbar os ecossistemas locais. Um consórcio de 22 espécies de árvores de alto valor do bioma Mata Atlântica foram plantadas em uma área degradada de 1.500 hectares. As árvores – muitas delas com sete anos de idade – prosperaram e três auditores externos aprovaram recentemente os planos de expansão da Symbiosis.
Louro Pardo (Cordia trichotoma) de três anos e meio na propriedade da Symbiosis, na Bahia (Foto: Miguel Calmon/WRI Brasil)
Miguel, que recentemente esteve no projeto-piloto, diz que as árvores nativas têm crescido com velocidade, o que promete retornos relativamente rápidos sobre o investimento.
“O sucesso em escala nacional vai depender do apoio do governo na promoção da árvore nativa, uma verdadeira revolução, que exigirá acesso a finanças e mercados, propagação de sementes e pesquisa e desenvolvimento de produtos”, destaca Sean.
Investidores privados estão ansiosos em participar. Em toda a América Latina, 19 investidores de impacto destinaram mais de US$ 1,5 bilhão em compromissos alinhados com a Iniciativa 20×20, uma iniciativa de restauração regional.
O entusiasmo de Miguel é contagiante. “Queremos fazer parte da nova geração da restauração”, diz ele.
Ouça abaixo a entrevista (disponível apenas em inglês) de Sean DeWitt e Miguel Calmon para Lawrence MacDonald:
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