Entre dados botânicos, histórias e modos de viver do território, o novo Catálogo de Plantas Secas Decorativas Comercializadas no Espinhaço Mineiro propõe um diálogo entre ciência, gestão pública e cultura popular da região, localizada na porção mineira da Serra do Espinhaço, cadeia montanhosa que atravessa o Estado de norte a sul. A área é marcada por grande diversidade biológica, paisagens de campos rupestres e comunidades tradicionais que vivem e manejam esses ambientes. “Mais do que um registro, é um chamado que une conhecimento e responsabilidade socioambiental, para que os recursos naturais caminhem lado a lado com o fortalecimento das identidades regionais”, afirmam os autores Renato Ramos da Silva e Paulo Takeo Sano. O catálogo está disponível para download gratuito neste link (o arquivo está em alta resolução, com 300 MB).

A publicação é uma parceria entre o Instituto de Biociências (IB) da USP e o Instituto Estadual de Florestas (IEF), e integra as ações do Plano de Ação Territorial (PAT) para a conservação de espécies ameaçadas da região e representa uma ferramenta para o fortalecimento da bioeconomia local. O objetivo principal é conciliar a conservação e a geração de renda.
Para Gabriela Brito, coordenadora do PAT Espinhaço Mineiro, que assina o prefácio, “esta publicação surge com o intuito de lançar um novo olhar sobre o uso das espécies vegetais da região, com um enfoque especial nas plantas secas decorativas, como as famosas sempre-vivas. Este catálogo não só destaca a importância dessas plantas, mas também busca ampliar o conhecimento sobre essa categoria ainda pouco explorada”, afirma, completando que o catálogo é peça fundamental para o compromisso central do PAT Espinhaço Mineiro, de conectar novas possibilidades de estratégias de conservação, integrando a proteção da biodiversidade com o desenvolvimento regional sustentável.

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Plano de Ação Territorial
Em 2020, o Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF/MG) firmou parceria com o projeto Pró-Espécies: Estratégia Nacional para a Conservação de Espécies Ameaçadas de Extinção, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e implementado pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), sendo a agência executora o WWF-Brasil. O objetivo era coordenar a elaboração e execução do Plano de Ação Territorial – PAT para conservação de espécies ameaçadas de extinção do território Espinhaço Mineiro.
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O plano foi desenvolvido em conjunto com diversos atores como uma estratégia integrada para a conservação e para o uso sustentável dos recursos naturais dos ecossistemas presentes na região da Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço. A proposta é conciliar a proteção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos com o desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais. Foi elaborado um conjunto de ações de conservação, com um planejamento partindo de um contexto territorial, visando a atender ao objetivo principal do PAT que é “aumentar a conservação dos hábitats, das espécies e da sociobiodiversidade no território Espinhaço Mineiro, com engajamento dos diversos atores sociais”.
O território do PAT abrange uma área com 105.251 km², perpassando os biomas Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica. São alvo do plano 24 espécies criticamente em perigo de extinção, sendo 19 espécies da flora, três espécies de peixes e duas espécies de invertebrados; entretanto, os efeitos positivos das ações do plano também serão refletidos em pelo menos 1.787 outras espécies ameaçadas presentes no território.

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Mercado alternativo
Segundo a publicação, o mercado de plantas secas externo está concentrado principalmente nos Estados Unidos e na Europa, onde esses materiais são revendidos. Com a recente emergência do uso das flores secas para montagem de arranjos de plantas secas no Brasil, houve uma mudança na proporção entre os destinos nacionais e internacionais. Enquanto o mercado externo prevalecia em volumes e valores de exportação, essa relação sofreu forte mudança, com uma equivalência atual de mercados.
Segundo os autores, tais mudanças acompanham discussões sobre a sustentabilidade do mercado de flores frescas, considerado como um produto de ciclo de vida curto, mas com alto investimento em cultivos em estufa, com alto consumo de insumos e itens descartáveis. “As flores secas nativas ou de origem cultivada constituem uma alternativa a esse cenário, contudo há que se observar a legislação para que o extrativismo, transporte e comércio sejam realizados de forma legal”, alertam.
Eles explicam que, devido às exigências da legislação ambiental, as espécies comercializadas devem estar identificadas com o nome científico, indicando sua presença ou não em listas de espécies ameaçadas de extinção. Esse, dizem, é um dos objetivos que esse catálogo busca suprir, constituindo bases para adequação e sustentabilidade das atividades, garantindo a conservação das espécies.

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A pesquisa
O levantamento de dados foi iniciado a partir de visitas a galpões e entrepostos de comércio em Diamantina e Contagem, em Minas Gerais. As amostras das partes de plantas comercializadas foram tratadas, seguindo um fluxo de ação regular, para a inclusão de informações básicas sobre cada uma delas. Junto das amostras dos materiais foram obtidos os nomes comerciais ou populares, com informações sobre a origem do material coletado. As fotografias foram organizadas por um banco de imagens. Outras espécies obtidas de publicações científicas e de sites especializados também foram acrescentadas.
A área de estudo compreende a Reserva da Biosfera da Serra do Espinhaço (RBSE), no território de Minas Gerais, desde a região central até o norte do Estado. Ali estão as zonas núcleo, compreendidas pelas Unidades de Conservação de Proteção Integral, com a zona de amortecimento e de transição no seu entorno. As plantas estão inseridas no Reino Plantae e os seus diferentes grupos estão representados no catálogo por Angiospermas, Gimnospermas, Líquens, Musgos, Samambaias e Licófitas. As espécies comercializadas foram classificadas quanto à sua origem, distribuição, e ocorrência natural, entre nativas, cultivadas e exóticas.
Confira o Catálogo de Plantas Secas Decorativas Comercializadas no Espinhaço Mineiro neste link.
Fonte: Jornal da USP
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