Pesquisa realiza levantamento sobre todas as araucárias de Curitiba

Uma pesquisa liderada pelo professor Carlos Sanquetta – do Centro BIOFIX de Pesquisas em Biomassa e Carbono, do Departamento de Ciências Florestais da UFPR – realiza um levantamento detalhado sobre todas as araucárias existentes em Curitiba. O trabalho começou no fim de 2020 e já registrou quase 10 mil araucárias nos 11 bairros analisados até o momento.

A pesquisa pretende fazer um levantamento completo das araucárias em todos os bairros da capital paranaense: nas ruas, nos terrenos, nas áreas públicas. O estudo usa georreferenciamento para a localização das árvores, realiza medição do diâmetro, levanta as características de cada indivíduo e os danos sofridos.

Araucari-ando

O projeto de pesquisa foi batizado de “Araucari-ando”, unindo o nome da árvore à palavra caminhada. A ideia surgiu durante as longas caminhadas que o professor Sanquetta realizava diariamente pelo bairro em que mora, o Jardim das Américas. “O projeto Araucari-ando é uma conjunção de ideias, corpo e mente saudáveis, além da contemplação do verde urbano, especialmente da nossa árvore símbolo. A mente do pesquisador não se aquieta, sempre tentando usar a ciência para gerar conhecimento e benefício à sociedade”, diz o professor.

O trabalho científico está atrelado à prática de atividade física pelos participantes, com o reconhecimento da realidade de toda a cidade. “Enxergar a cidade, observar cada árvore, tocar, medir, analisar. Tudo isso com o sentimento do fôlego exigido na caminhada tem sido fantástico. Saio feliz para realizar essas atividades em conjunto, vibro, corro para o computador para inserir e analisar os dados. É divino”, comemora.

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Atualmente o projeto conta com a colaboração do estudante de mestrado, Luan Ferreira dos Santos, e da aluna de graduação em Engenharia Florestal, Greyce Maas.

Resultados parciais

Professor Sanquetta durante o levantamento dos dados. Na imagem, aparecem as informações sobre a araucária localizada na frente do Prédio Histórico da UFPR. Foto: Greyce Maas/BIOFIX UFPR.

As árvores foram georreferenciadas com uso do Google Earth Pro, identificado quadra por quadra. Por enquanto, 9.876 araucárias foram inventariadas, contabilizando um diâmetro médio de 38 cm, o que significa que na maioria são adultas. O grupo percebeu que a mortalidade entre as araucárias é baixa, bem como os danos causados a elas. Os mais comuns são pregos, fogo, batidas de carro e soterramentos, sendo que alguns destes podem levar à morte da árvore.

Os pesquisadores também avaliam o tipo de copa. O resultado parcial mostra que a maioria tem formato cônico (35%) e umbeliforme (30%), o que indica vigor e juventude da araucária. Outros 35% apresentavam copa caliciforme (35%), indicando senilidade.

O professor Sanquetta afirma que ficou feliz com a quantidade e a condição das araucárias encontradas nos bairros até o momento. “Curitiba tem muitas araucárias por toda a cidade, isso é único. Nenhuma outra capital ou cidade maior tem essa dádiva. É bom reconhecer que temos um excelente contingente de araucárias na cidade e que muitas araucárias jovens garantirão o futuro. Temos problemas como danos, mortalidade, falta de cuidados, mas os resultados atestam muito mais o lado positivo”.

Destaques

A Rua Flavio Dallegrave, nos arredores da linha do trem, é um dos pontos de Curitiba com maior número de araucárias. Foto: Carlos Sanquetta/BIOFIX UFPR.

Por enquanto, os locais com maior quantidade numérica de araucárias foram o Jardim Botânico, com destaque para o Campus da UFPR localizado no bairro, e a Rua Flavio Dallegrave, nos arredores da linha do trem. O centro foi a localidade com menor número e com araucárias pressionadas por prédios, construções e estacionamentos. Outra constatação é que a cidade conta com poucas araucárias jovens plantadas nas ruas e casas, a maioria está em áreas públicas

“Curitiba já tem boas iniciativas e, em geral, a população colabora zelando pelas araucárias. Porém, existem também más práticas que precisam mudar, com educação ambiental, ações mais próximas das comunidades pela ação do poder público e estratégias de gestão das árvores verdes aprimoradas. Podemos fazer muito pelas araucárias de Curitiba, plantando mais árvores, zelando pelas existentes e evitando danos. O poder público também pode melhorar suas ações com mais informações e boas práticas. Nós, da academia, também podemos e devemos fazer mais. O Araucari-ando é um exemplo disso”, resume o professor Sanquetta.

Bairros

O grupo já inventariou o centro, Juvevê, Centro Cívico, Jardim das Américas, Hugo Lange, Alto da Glória, Jardim Botânico, Alto da Rua XV, Cristo Rei, Cabral e Batel. O trabalho foi iniciado nos bairros Campina do Siqueira, Fazendinha, Ahú, Cajuru, Uberaba, Água Verde, Bacacheri, São Lourenço, São Francisco, Mercês, Jardim Social, Tarumã, Boa Vista, Bigorrilho e Bom Retiro.

Próximos passos

O grupo pretende finalizar mais dez bairros até o fim do ano, quantificar o estoque de carbono, o sexo das árvores, a produção de pinhão e criar um sistema para reunir as informações levantadas.

A previsão é que a pesquisa leve um ano e meio para ser concluída. O professor Sanquetta pretende escrever um livro em que vai apresentar os dados e a experiência da viagem por Curitiba.

Fonte: UFPR

Foto da capa: Lucas Carvalho


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Lucas Monteiro

Engenheiro Florestal com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Perícia e Auditoria ambiental . Formação de Auditor nos sistemas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 e FSC® (FM/COC). Experiência em Due Diligence Florestal, mitigação de riscos ambientais e Cadeia de suprimentos da Madeira para mercados internacionais (EUDR e Lacey Act).

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