Pássaros são importantes na regeneração de florestas tropicais

A remoção do carbono da atmosfera é considerada uma via essencial no enfrentamento das mudanças climáticas. Dentro dessa estratégia, a revitalização das florestas emerge como uma solução eficaz para alcançar esse objetivo, devido à habilidade das árvores, especialmente das pertencentes às florestas tropicais, em absorver esse carbono. Esse serviço ecossistêmico prestado pelas árvores e florestas foi um dos motivos que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a designar esta como a Década da Restauração dos Ecossistemas.

Foto: Jacubempa (Penelope superciliaris) | Arthur Brasil.

Conscientes desse desafio e do potencial das árvores para contribuir com a absorção de carbono, cientistas em todo o mundo têm se empenhado em compreender melhor as dinâmicas envolvidas na revitalização das florestas, visando tornar o processo mais eficiente e econômico.

Basicamente, existem duas formas de promover a recuperação dessas áreas. Uma delas envolve a intervenção direta nas etapas de germinação de sementes, preparação do solo, plantio de mudas nativas e monitoramento de seu crescimento nos primeiros anos, demandando conhecimento e investimento por parte dos proprietários de terra. A outra, mais simples e econômica, consiste em proteger um fragmento florestal existente, permitindo a regeneração natural das espécies ali presentes.

Sabe-se, por exemplo, que entre 70% e 90% das espécies de árvores tropicais dependem, de alguma forma, da ação de diversas espécies animais para a dispersão de suas sementes. Portanto, um maior entendimento das relações ecológicas que influenciam o processo de restauração natural pode auxiliar na definição das melhores estratégias a serem adotadas e em como implementá-las. Um estudo recentemente publicado na revista Nature Climate Change, conduzido por pesquisadores da Unesp, Suíça e Reino Unido, buscou quantificar o papel das aves nesses processos. Os dados da pesquisa mostram, por exemplo, que paisagens fragmentadas restringem o deslocamento dessas aves dispersoras de sementes, resultando em uma redução da capacidade regenerativa das áreas e, consequentemente, em uma diminuição de até 38% em sua capacidade de absorver carbono.

Biólogos investigam sobre a chances de sobrevivência de espécies diante do aquecimento do Planeta | Florestal Brasil

Um dos autores do estudo é o biólogo Marco Pizo, professor do Instituto de Biociências da Unesp, localizado no campus de Rio Claro. Ele destaca a importância do artigo ao fornecer orientações para as atividades de restauração florestal, utilizando o conhecimento acumulado sobre a dispersão de sementes por aves. “Nos últimos anos, a ciência tem enfatizado que uma das principais estratégias para mitigar o aquecimento global é promover a restauração florestal, especialmente nos trópicos. E nada melhor do que contar com a colaboração natural desses dispersores de sementes”, afirma o professor. “O artigo faz uma excelente conexão entre esses dois aspectos. Além disso, ele sugere que, se uma paisagem mantiver pelo menos 40% de cobertura florestal intacta, é vantajoso permitir que a restauração ocorra naturalmente, pois os dispersores estarão ativos. No entanto, se essa porcentagem for menor que 40%, uma intervenção mais direta pode ser necessária.”

Para alcançar esses resultados, os pesquisadores desenvolveram modelos alimentados por dados sobre a fisiologia e os padrões de movimento das aves, além de um artigo científico com dados detalhados sobre a interação de mais de 200 espécies de aves da Mata Atlântica com os frutos que consomem. Esses modelos consideraram diferentes níveis de fragmentação florestal. Com base nesses dados, o estudo concluiu que a atuação das aves frugívoras na regeneração natural pode ser eficaz em fragmentos que estejam a uma média de 133 metros de distância uns dos outros, pois as aves são capazes de se deslocar entre essas áreas.

Considerando a atual situação da Mata Atlântica, essa análise sobre a capacidade regenerativa dos fragmentos se torna ainda mais relevante. Este bioma, que abriga 70% da população brasileira, sofreu uma intensa devastação nos últimos anos, restando agora pouco mais de 20% da floresta original. No entanto, um estudo recente conduzido por pesquisadores da Unesp destaca que 97% desse remanescente está altamente fragmentado, constituído por fragmentos menores que 50 hectares.

Os pesquisadores destacam que a restauração em fragmentos de pequenas dimensões é possível, mas isso geralmente implica uma participação maior de aves de pequeno porte. Essa característica pode limitar a capacidade regenerativa do fragmento, já que as aves menores tendem a dispersar sementes menores, resultando em espécies de árvores com menor densidade e menos potencial de sequestro de carbono. Em geral, árvores de maior densidade, como o jatobá, possuem maior capacidade de armazenar carbono do que aquelas de menor densidade, como a embaúba, devido à estrutura de sua madeira, que contém mais carbono.

“Permitir que essas grandes aves frugívoras se movimentem livremente pelas paisagens florestais é fundamental para a recuperação saudável das florestas tropicais”, destaca Carolina Bello, pós-doutoranda na ETH Zurich e principal autora do estudo. “Este trabalho evidencia que, sobretudo nos ecossistemas tropicais, a dispersão de sementes realizada pelas aves desempenha um papel crucial na determinação das espécies capazes de se regenerar”, acrescenta a pesquisadora, que realizou seu doutorado no Instituto de Biociências em Rio Claro, assim como Danielle Ramos, outra autora, que atualmente está associada à Universidade de Exeter, no Reino Unido.

O artigo reconhece algumas limitações do estudo, uma vez que diversos fatores, como a presença de predadores e animais que se alimentam de plantas e sementes, podem influenciar a interação entre as aves e os frutos, assim como a viabilidade das sementes em germinar, crescer e se tornar árvores. No entanto, a pesquisa oferece informações importantes sobre quais áreas possuem potencial para a regeneração natural e quais exigem estratégias ativas de reflorestamento. Estudos anteriores indicam que, em áreas onde os animais podem dispersar livremente as sementes, a regeneração natural geralmente é mais econômica do que o plantio ativo, reduzindo os custos de implementação em até 77%.

Em certas regiões do oeste do estado de São Paulo, explica Marco Pizo, o custo para plantar um hectare de floresta pode variar entre R$ 20 mil e R$ 30 mil, devido à presença do capim-braquiária, uma planta invasora comum na região. “Portanto, quando discutimos restauração, especialmente em larga escala, precisamos considerar os custos. E os dispersores de sementes estão aí para reduzir esses custos”, ressalta.

Fonte: Jornal da Unesp


Descubra mais sobre Florestal Brasil

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

View all posts by Arthur Brasil →

Comenta ai o que você achou disso...