A Terra, com seus 4,5 bilhões de anos, já enfrentou pelo menos cinco grandes extinções em massa, onde cerca de 75% das espécies desapareceram em curtos períodos geológicos. Atualmente, vivemos a sexta extinção, e muitos especialistas concordam que somos os culpados: nós, Homo sapiens.
“Estamos bem no meio dessa sexta grande onda de extinções”, diz Carlos Peres, cientista brasileiro e professor da Universidade de East Anglia, no Reino Unido. “O problema é que isso é imperceptível no dia a dia e a maioria das pessoas não está ciente.”
Um grupo de pesquisadores e conservacionistas, incluindo Peres, publicou um estudo no periódico Frontiers in Science para identificar “portos seguros” de biodiversidade insubstituível que precisam ser protegidos.
Cerca de 1,2% da área terrestre deve ser preservada para proteger a maioria das espécies raras ameaçadas de extinção. Essas espécies vivem em áreas limitadas e frequentemente em baixas densidades. Eric Dinerstein, principal autor do estudo e pesquisador da ONG Resolve, refere-se a esses lugares como “áreas abrigando concentrações de espécies raras que estão atualmente desprotegidas”.
Conservação necessária
Entre 2018 e 2023, 1,2 milhões de quilômetros quadrados de terra foram protegidos. Dinerstein e sua equipe usaram dados espaciais sobre biodiversidade para verificar a eficácia dessas áreas na proteção de espécies raras. Apenas 0,11 milhões de quilômetros quadrados (menos de 10% do espaço demarcado) cobriam os portos seguros das espécies ameaçadas.
Para planejar melhor as iniciativas de conservação, os cientistas identificaram áreas negligenciadas que ainda precisam de proteção. Usando dados do satélite Copernicus da União Europeia, eles localizaram 16.825 sítios, cobrindo cerca de 164 milhões de hectares, que precisam ser conservados.
Mariana Napolitano, diretora de estratégia do WWF-Brasil, lembra que em 2022 os países da ONU adotaram o Acordo Kunming-Montreal, comprometendo-se a deter e reverter a perda de biodiversidade até 2030, atingindo 30% de áreas conservadas.
Os locais em rosa no mapa abaixo mostram os imperativos de conservação, que totalizam cerca de 1,2% do globo.
Segundo Mariana, os resultados do estudo podem ajudar a definir estratégias de conservação, garantindo que as áreas protegidas sejam aquelas de maior valor para a proteção de espécies, serviços ecossistêmicos e modos de vida de povos indígenas e comunidades locais.
Custo da proteção
38% das áreas de imperativos de conservação já estão próximas de terras protegidas, facilitando sua absorção ou ampliação. Mas como isso pode ser feito na prática?
A equipe de cientistas criou uma base de dados com mais de 800 sítios protegidos após sua compra. Com esses dados e os preços de terras ao redor do mundo, estimaram que proteger todos os 16.825 portos seguros custaria US$ 34 bilhões (R$ 187 bilhões) anualmente pelos próximos cinco anos.
Embora seja uma grande quantia, ela representa apenas 0,2% do PIB dos Estados Unidos, ou 9% de todos os subsídios anuais à indústria de combustíveis fósseis global.
Florestas do Brasil – Inventário Florestal Nacional | Florestal Brasil
Proteger espécies ameaçadas não deve ser visto como um luxo, mas como uma necessidade para a sobrevivência da nossa própria espécie. Proteger a biodiversidade significa proteger florestas que sequestram carbono e retardam a crise climática.
Isso não significa que devemos conservar apenas 1,2% da área terrestre. “Esses locais são nossa preocupação imediata”, diz Dinerstein. Ele defende a adição dessas regiões aos cerca de 16% do globo já protegidos e a preservação contínua de ainda mais áreas.
“Precisamos proteger 50% da área terrestre para reverter a perda de biodiversidade, estabilizar o clima, prevenir o colapso dos ecossistemas e a propagação de pandemias”, afirma Dinerstein. “E o Brasil tem um papel crucial nisso.”
O papel do Brasil
O Brasil, juntamente com as Filipinas, tem o maior número de sítios de conservação imperativa, abrigando grande parte da biodiversidade mundial. Quase todos estão na Mata Atlântica, dos quais restam apenas 24% da área original. “O Brasil tem uma responsabilidade global e precisamos apoiar as organizações locais que se dedicam a proteger essas áreas”, afirma Dinerstein.
As áreas de conservação imperativa estão principalmente nos trópicos, e o Brasil, sendo o maior país tropical, abriga 3.342 dos 16.825 portos seguros de biodiversidade. “[O país] ainda possui grandes áreas relativamente intactas e de status jurídico incerto”, explica Carlos Peres. Essas áreas não estão protegidas e, sem ação, serão convertidas para exploração agropecuária.
Unir os dados dos imperativos de conservação a outras informações socioambientais é crucial para mostrar que a preservação não afeta apenas a biodiversidade. Mariana Napolitano destaca a importância das áreas conservadas na provisão de serviços ecossistêmicos, como proteção da água e manutenção dos solos, ajudando a mitigar as mudanças climáticas.
“Também é essencial reconhecer o uso sustentável dos territórios por comunidades tradicionais”, explica Napolitano. Proteger a Terra e sua biodiversidade requer esforços em várias frentes, além de conservar os portos seguros.
O mapa global do estudo é importante para que as iniciativas de criação ou expansão de áreas protegidas no Brasil priorizem a retenção de biodiversidade.
A importância do Brasil na proteção ambiental é enorme, não só por abrigar muitas espécies, mas também por ser um líder nas discussões globais sobre preservação. Um próximo passo crucial será a COP 30, conferência do clima que será realizada em Belém (PA) em 2025. A conservação dessas áreas não acontecerá sozinha: precisamos de boas políticas públicas para isso.
Fonte: Super
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