Em abril, o Greenpeace Brasil lançou o relatório “Ouro Tóxico – Como a exploração ilegal de ouro na Amazônia alimenta a destruição ambiental, as violações dos direitos indígenas e um comércio global obscuro”, trazendo à tona um panorama alarmante sobre o avanço do garimpo criminoso na região.

A atividade, presente desde o período colonial, passou por profundas transformações ao longo dos anos, mas seus impactos continuam a crescer. Segundo Júlia Castro, doutoranda em Antropologia pela USP, o cenário atual é de expansão descontrolada. “Ele começa a avançar sobre áreas protegidas, contamina rios com mercúrio, devasta a floresta, que é um dos grandes causadores das mudanças no clima”, afirma. O desmatamento intensivo e os conflitos violentos com povos indígenas e comunidades tradicionais também fazem parte dessa cadeia de destruição.
Evolução da prática, agravamento das consequências
O garimpo atual exige altos investimentos em maquinário pesado, logística e tecnologia de ponta, distanciando-se da imagem do garimpeiro solitário. Segundo Júlia, essa estrutura empresarial mantém relações de trabalho marcadas por exploração e falsas promessas de enriquecimento. Os trabalhadores, muitas vezes, vivem em condições degradantes, submetidos à lógica opressora dos “patrões” do ouro.
Árvores sentinelas: como a floresta pode ajudar a rastrear o garimpo ilegal na Amazônia
Dados do Greenpeace mostram que, entre 2023 e 2024, a atividade garimpeira não diminuiu, apenas migrou. As Terras Indígenas Yanomami, Munduruku e Kayapó registraram queda no garimpo ilegal, enquanto a Terra Indígena Sararé teve um aumento de 93%. Para Júlia, esse cenário foi agravado entre 2018 e 2022, período em que o discurso político favorecia abertamente o garimpo, provocando o enfraquecimento da fiscalização e um aumento sem precedentes da atividade ilegal.
Fiscalização falha e ouro ilegal no mercado formal
Apesar de a Constituição Federal garantir que as jazidas minerais pertencem à União e que as terras indígenas são inalienáveis, a fiscalização desses dispositivos legais é precária. A Agência Nacional de Mineração (ANM), uma das responsáveis pelo controle da atividade mineral, encontra-se enfraquecida, o que contribui para a impunidade e a continuidade dos crimes.
Outro fator preocupante é a lavagem do ouro ilegal, que entra no mercado formal por meio de documentos falsos e esquemas de fraude, dificultando o rastreamento da origem e alimentando uma cadeia global de comércio criminoso. Para conter esse ciclo, Júlia destaca a urgência de um sistema robusto de controle, transparência e responsabilização.
Fonte: Jornal da USP
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