As ondas de calor, que vêm se tornando mais longas, frequentes e intensas em todo o planeta, estão entre as ameaças mais graves da crise climática para a biodiversidade. Além de provocarem mortes em massa, algumas registradas com milhares de animais em poucos dias, novos estudos mostram que esses eventos extremos também comprometem silenciosamente a capacidade reprodutiva das espécies.

De acordo com a pesquisa do National Biodiversity Future Center (NBFC) e da Universidade de Pádua, na Itália, publicada na Global Change Biology, o calor extremo altera fisiologia, comportamento e reprodução de animais, gerando efeitos “crípticos” que nem sempre são visíveis, mas podem reduzir fertilidade, modificar processos de seleção sexual e desencadear mudanças populacionais que se estendem por gerações. De acordo com o estudo, isso interfere em todas as fases reprodutivas, desde a produção de gametas até o desenvolvimento dos filhotes.
Entre os efeitos observados estão:
- redução da fertilidade;
- alteração do comportamento sexual;
- mudanças em traços reprodutivos que influenciam o sucesso de acasalamento.
Esses processos, destacam os autores, ocorrem mesmo quando os episódios de calor não são letais.
Efeitos podem atravessar gerações
A pesquisa mostra que os impactos não se limitam à geração atingida pela onda de calor. O estresse térmico pode ser transmitido entre gerações, por mecanismos parentais e epigenéticos, afetando o desempenho dos descendentes.
A coordenadora do estudo pela Universidade de Pádua, Chiara Morosinotto, explica que:
“Se o estresse térmico sentido pelos pais leva a efeitos na prole que duram até a idade adulta, há uma grande chance de que esses efeitos sejam transferidos para os descendentes desses indivíduos, passando de uma geração para a outra. Por fim, com as ondas de calor se tornando cada vez mais comuns, é provável que os filhotes de pais expostos também experimentem diretamente ondas de calor ao longo da vida. Portanto, os danos causados pelas ondas de calor podem se acumular nos indivíduos e entre gerações.”
Riscos para seleção sexual e diversidade genética
Os pesquisadores alertam que esses efeitos podem alterar mecanismos de seleção sexual, favorecendo indivíduos mais tolerantes ao calor. Isso pode mudar quem se reproduz mais e como, reduzindo a diversidade genética e criando gargalos reprodutivos.
Segundo o artigo, essas mudanças influenciam tanto a competição entre machos quanto a escolha de parceiros, afetando a estrutura das populações ao longo do tempo.
Consequências para conservação e futuro das espécies
Embora muitas pesquisas climáticas se concentrem em mortalidade, os autores afirmam que ignorar os custos reprodutivos pode levar a uma grave subestimação dos riscos.
Os efeitos acumulados de ondas de calor — mesmo sem mortes em massa — podem resultar em:
- declínio populacional;
- menor capacidade de recuperação após eventos climáticos;
- impactos evolutivos duradouros.
“As evidências sobre o impacto das ondas de calor na biodiversidade estão surgindo em diversos grupos animais ao redor do mundo — de insetos a peixes, de ouriços-do-mar a aves, de caracóis a mamíferos. O artigo reforça a importância de identificar e quantificar melhor os custos das ondas de calor sobre a reprodução animal”, afirmou a Universidade de Pádua em um comunicado.
O estudo reforça a necessidade de mensurar esses efeitos para prever como eventos extremos afetarão a biodiversidade em cenários de aquecimento global. Essa análise é crucial para avaliar o impacto desses fenômenos em escalas demográficas e evolutivas, especialmente diante das mudanças climáticas em curso.
As informações citadas nesta matéria podem ser consultadas nos documentos originais disponíveis em:
– Universidade de Pádua: https://www.unipd.it/sites/unipd.it/files/2025-11-12_RESEARCH%20-%20TOO%20HOT%20TO%20BREED.pdf?utm_source=chatgpt.com
– PubMed: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/41221635/
Descubra mais sobre Florestal Brasil
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
