Onça-pintada está criticamente ameaçada de extinção na Caatinga

O maior felino das Américas é responsável por garantir o equilíbrio ecológico na cadeia alimentar. Em questão da conservação, o status muda conforme o bioma no qual a onça vive.

Onça-pintada (Panthera onca) em foto de junho de 2012. Espécie é o maior felino das Américas e está vulnerável no Brasil. — Foto: WWF / AFP

A população do maior felino das Américas está caindo. A onça-pintada, um carnívoro que pode chegar a até 135 kg e 75 cm de altura, já é considerada oficialmente extinta nos Estados Unidos e está sob ameaça em outros países. No Brasil, a espécie é vulnerável, mas o status de avaliação muda conforme o bioma no qual ela vive. A situação é mais delicada na caatinga, onde o animal está criticamente ameaçado de extinção.
Ao todo são 1.173 espécies que vivem sob risco de extinção no Brasil. A caatinga abriga 182 desses animais – 46 são espécies endêmicas, ou seja, só ocorrem nesta parte do mundo.
Para ajudar na preservação da onça-pintada na caatinga, o governo federal criou em abril de 2018 o Parque Nacional do Boqueirão da Onça, com 347 mil hectares, e uma APA (Área de Proteção Ambiental), de 505 mil hectares.

A onça é um animal de topo de cadeia

Conhecida cientificamente como Panthera onca, a onça-pintada é uma das prioridades da Lista Vermelha (Red Listem), da União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN). No Brasil ela está presente em todos os biomas e está ameaçada.

Onça-pintada, o maior felino das Américas — Foto: Igor Estrella/G1
Embora o número de onças-pintadas seja igualmente crítico na mata atlântica e na caatinga, a situação é pior por o bioma não ser alvo de conservação.

No caso das onças, que são territorialistas, a preservação do ambiente está diretamente ligada à manutenção da espécie, que pode ocupar até 495 km². Mas, segundo pesquisadores, 50% da área de vegetação nativa da caatinga já foi devastada. Além disso, a escassez da cobertura vegetal pode afetar as nascentes da região, tornando o acesso à água ainda mais difícil para a onça. A estimativa é de que existam menos de 250 indivíduos na região.

É uma espécie ecologicamente importante porque é topo da cadeia alimentar. A extinção desta espécie leva ao aumento de outras, que antes eram suas presas, e provoca o desequilíbrio ambiental”, diz Rogério Cunha, coordenador substituto do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros (CENAP), ligado ao Ministério do Meio Ambiente”.

Um exemplo, conta Cunha, foi o que aconteceu no Oeste de São Paulo. Um estudo de impacto ambiental sobre a construção de uma hidrelétrica mostrou que as onças-pintadas, que antes viviam na região, foram mortas por fazendeiros após atacar o gado. Com o sumiço das onças, aumentaram as capivaras, que antes eram suas presas.

As onças foram acompanhadas com coleiras de monitoramento. Com isso, vimos que as que foram para as áreas secas após o alagamento começaram a atacar o gado, porque as presas que ela comiam morreram afogadas no lago da hidrelétrica. Os fazendeiros passaram a matar as onças. A população de capivaras aumentou de forma assombrosa porque não tinha mais onças para caçá-las, passaram a comer as plantações, aumentaram os casos de febre maculosa transmitida pelo carrapato-estrela, que se hospeda na capivara. Foi um efeito cascata”, explica Cunha.

Onça-pintada (Panthera Onca) em foto tirada em 2012, no México. No Brasil, a espécie é considerada vulnerável, mas o status de avaliação muda conforme o bioma em que ela vive — Foto: WWF / AFP

Ameaças
A devastação ambiental e o avanço da agricultura são ameaças constantes para as onças em todos os biomas. Conforme a presença humana avança sobre as áreas nativas, a onça recua para se afastar do convívio.
“Ela é muito sensível à presença humana. Precisa de grandes áreas nativas bem preservadas para sobreviver. É um animal solitário e territorialista que precisa do seu espaço”, diz Cláudia Bueno de Campos, bióloga e coordenadora do Programa Amigos da Onça, do Instituto para a Conservação dos Carnívoros Neotropicais – Pró-Carnívoros.
Na caatinga, a criação extensiva dos rebanhos de ovinos, caprinos e bovinos traz um novo agravante: o confronto com os humanos, que temem o ataque das onças aos animais.
“São rebanhos criados soltos na caatinga, para se alimentar da própria mata nativa, principalmente na época de seca. E, como eles andam bastante, isso pode fazer com que os animais sejam perdidos pelos criadores, seja por doença, ataque de cobra, furto de outros criadores, ou até mesmo o ataque das onças. Mas, por causa da fama que os predadores naturalmente têm, a culpa de todas as perdas sempre sobra para elas”, diz.
Um projeto da Pró-Carnívoros tenta estimular a população a fazer a criação semi-intensiva, com áreas delimitadas para o rebanho. Mas o desafio é longo. A cultura da caça atinge até os mais jovens, que veem na morte do animal um ato de bravura.


Onça-pintada está presente em quase todos os biomas do país, mas status de conservação muda em cada área. — Foto: Roberta Jaworski / G1
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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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