O sítio construído por indígenas há mais de mil anos para observações astronômicas na Amazônia

O Amapá é lar de um sítio arqueológico único no Brasil, que tem despertado o interesse da comunidade científica desde sua descoberta no final do século 19. Localizado em uma região remota da Amazônia, o Sítio Rego Grande 1, também conhecido como “Stonehenge da Amazônia”, foi construído por povos indígenas há cerca de mil anos, segundo o Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa).

Sítio Rego Grande 1, em Calçoene — Foto: Rafael Aleixo/g1

Pesquisas realizadas desde 2005 indicam que o sítio, situado no município de Calçoene, funcionava como um observatório astronômico e local para cerimônias religiosas e funerais de figuras importantes da época.

De acordo com Lúcio Costa Leite, pesquisador do Núcleo de Pesquisa Arqueológica (NuPArq) do Iepa, o sítio se destaca por ser o mais impressionante e monumental já encontrado no país. “Alguns resultados de pesquisas apontam que esses locais foram usados por um longo período, sendo revisitados por diferentes grupos, o que sugere que era um lugar especial, de retorno, peregrinação ou devoção aos ancestrais”, explicou o pesquisador.

A estrutura do sítio é composta por 127 blocos de rocha granítica de diferentes tamanhos, organizados em diversas formações que totalizam 30 metros de diâmetro. Alguns desses blocos, que chegam a 4 metros de altura e pesam cerca de 4 toneladas, exibem sinais claros de formatação, como lascamentos nas bordas.

Sítio Rego Grande 1, em Calçoene — Foto: Rafael Aleixo/g1

Embora ainda não se saiba com certeza de onde as rochas foram extraídas, há áreas próximas ao igarapé Rego Grande com rochas semelhantes e marcas que indicam possível interferência humana.

Devido à diversidade de povos na região à época, o Iepa afirma que não é possível determinar com certeza qual grupo indígena construiu o sítio. No entanto, indícios como pinturas em peças de cerâmica apontam similaridades com o povo Arawak, cujos descendentes incluem os indígenas da etnia Palikur, que habitam a atual fronteira do Amapá com a Guiana Francesa.

Escavações realizadas pelo NuPArq revelaram que as rochas do sítio não tombaram com o passar dos séculos, indicando uma construção meticulosa. “As rochas foram posicionadas de maneira a permanecerem no lugar, com calçamento e profundidades diferentes, além de outros blocos de rocha ao redor que servem como suporte, evitando movimentação ao longo do tempo”, acrescentou Leite.

Sítio arqueológico em Calçoene — Foto: Rafael Aleixo/g1
Sítio arqueológico em Calçoene — Foto: Rafael Aleixo/g1

Cada rocha tem uma posição única no sítio, permitindo a observação dos solstícios de inverno (entre 21 e 23 de dezembro) e de verão (entre 21 e 23 de junho) através das sombras projetadas.

Segundo Leite, o fenômeno do megalitismo na Amazônia é notável, com diversos sítios ao longo do Amapá. O Sítio Rego Grande 1 é conhecido desde o final do século 19, quando o zoólogo suíço Emílio Goeldi explorou a região do Rio Cunani, em Calçoene.

Goeldi, que dirigiu o antigo Museu Paraense a partir de 1894, realizou expedições pela Amazônia, incluindo áreas ao norte do Amapá, que na época faziam parte do Pará.

Sítio AP-CA-18 (Rêgo Grande 1) no Amapá — Foto: NuPArq/Divulgação
Sítio AP-CA-18 (Rêgo Grande 1) no Amapá — Foto: NuPArq/Divulgação

O NuPArq destaca que os achados em Calçoene possuem características únicas, como poços funerários com câmaras laterais em forma de bota e placas de granito que se assemelham a mausoléus. As urnas funerárias encontradas, chamadas antropomórfas, contêm restos mortais e apresentam diferentes apliques e desenhos que podem estar relacionados aos indivíduos enterrados.

Embora o Sítio Rego Grande 1 seja frequentemente comparado ao Stonehenge no Reino Unido, Leite prefere evitar essa analogia, pois considera o sítio do Amapá uma criação autêntica dos povos da Amazônia.

Atualmente, há um projeto aprovado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para criar um parque no local, visando receber turistas e divulgar a história do sítio. No momento, o sítio é utilizado como base de pesquisas do Iepa e está fechado para visitas, exceto aquelas previamente agendadas. A proposta de criação do parque foi apresentada pelo NuParq/Iepa e aprovada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Fonte: G1


Descubra mais sobre Florestal Brasil

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

View all posts by Arthur Brasil →

Comenta ai o que você achou disso...