O homem que ‘batizou’ a nossa natureza

O Brasil na Europa era dito como uma grande terra cheio de riquezas,com isso, dois naturalistas bávaros, o botânico Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868) e o zoólogo Johann Baptist von Spix (1781-1826) desembarcaram no porto do Rio de Janeiro, em 1817, com uma missão: estudar e dar nome às coisas. 

No caso, é sobre a natureza brasileira, onde não havia quase inventário nenhum. Durante três anos, entre 1817 e 1820, eles percorreram mais de 14 mil quilômetros pelo interior do país saindo do Rio de Janeiro e passaram pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas. 
Essa viagem é considerada a maior expedição científica de exploração da flora brasileira até hoje, contabilizando mais de 22 mil espécies de plantas coletadas, estudadas e catalogadas. 

Segundo especialistas, é quase a metade de todas as espécies da flora brasileira conhecidas até hoje. Os estudos de von Martius e von Spix foram tão completos que devemos a eles a divisão natural do território brasileiro em cinco biomas como conhecemos até hoje: Mata Atlântica, Amazônia, Caatinga, Cerrado e Pampa”.

Esses relatos se transformariam depois no livro Viagem pelo Brasil, onde ambos narram a jornada.
No sertão nordestino, por exemplo, von Martius descreve sua aflição ao atravessar a caatinga seca que, segundo ele, não passava de uma região pobre de águas e de florestas ralas: “cactáceas de formas esquisitas defendem os seus últimos hálitos de vida com espinhos venenosos, bromélias cujas folhas afuniladas às vezes escondem um mísero gole de água turva.” Ele não esconde a aflição ao atravessar “caatingas medonhas” entre os rios Paraguaçu e São Francisco, no começo de 1818, assediado pela falta de água dia e noite.

Eles aprenderam a viajar viajando, sem uma rota definida e percorrendo espaços que não tinham a menor ideia da existência”, explica Diener. 

Mas a sensibilidade do naturalista sabia diferenciar, pelo clima e tipo de vegetação, quando adentravam em regiões diferentes, o que ajudou na composição posterior dos “reinos da flora” do país, como von Martius chamou os biomas brasileiros. Enquanto a Mata Atlântica era “exuberante e luxuosa”, a floresta amazônica, por sua imponência, tinha uma aspecto “intimidante”. Em Minas Novas, em Minas Gerais, adentraram em uma região de “árvores baixas, de galhos retorcidos e folhagem larga”, que depois seria conhecida como Cerrado brasileiro.
A rota era traçada de maneira empírica e de acordo com o que iam encontrando pelo meio do caminho onde, além da flora e da fauna, também travaram contato com viajantes, comerciantes, populações locais e, claro, índios, que também foram estudados.
Divulgação/Editora Capivara
De volta a Munique, em 1820, uma das grandes preocupações dos naturalistas bávaros era catalogar e publicar o quanto antes os resultados da viagem ao Brasil, pois outras naturalistas podiam fazer o mesmo, já que havia grande expedições atrás de classificar a grande diversidade.
Em 1823, a dupla lançou o primeiro volume de Viagem pelo Brasil. Outros dois volumes seriam lançados em 1828 e 1831, mas sem a colaboração de Spix, já falecido. Pelo trabalho realizado na América do Sul, os dois naturalistas foram agraciados no seu retorno com títulos de nobreza e incorporaram “von” aos seu nomes. Martius, então, tornou-se von Martius.
O mais importante trabalho publicado de von Martius viria depois com a Flora Brasiliensis (Flora Brasileira), uma monumental obra dividida em 15 volumes e 40 partes publicados a partir de 1840 e dedicados à flora brasileira. No total, são 22.767 espécies de plantas reunidas, descritas e analisadas. 
Divulgação/Editora Capivara


No decorrer dos anos em que estudou o Brasil, Martius contou com o auxílio de 65 cientistas, de vários países, para a elaboração dos volumes do Flora, cuja última parte foi publicada bem depois da sua morte, em 1906. A troca de informações e correspondência com botânicos e estudiosos, inclusive do Brasil, o ajudaram a compor o mapa dos “reinos de flora”, os biomas brasileiros.


“Os cientistas o ajudaram com informações sobre lugares que ele conheceu pouco ou talvez nem conheceu, como os pampas”, explica Diener. “Ele tinha uma capacidade imensa de reunir e associar informações sobre flora, fauna, clima, hidrografia e outros elementos da natureza para uma classificação natural dos espaços, que são os biomas”, completa o coautor de von Martius.
“O interesse dele era enciclopédico e estrondoso para a época. Quase metade das plantas brasileiras que conhecemos hoje no Brasil foram classificadas por von Martius”, explica Diener. No inventário elaborado pelo naturalista e os cientistas que o ajudaram na elaboração do Flora, Diener destaca os mais diversos tipos de palmeiras. “A palmeira é a planta que define a paisagem do que ele chama de América Tropical”, completa o historiador.
Ele compara o legado de von Martius ao de outro naturalista famoso, o britânico Charles Darwin (1809-1882), pai da teoria da evolução e autor do livro A Origem das Espécies. “A importância de Martius para a botânica é a mesma de Darwin para a origem das espécies”, afirma Stéfano.
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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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