O futuro está nas árvores

Carlos Aguiar e Paulo Hartung
Carlos Aguiar foi presidente da
Aracruz e da Fibria, articulou a criação da Ibá e atua na Royal Swedish
Academy of Engineering Sciences (Suécia)
Paulo Hartung é economista,
presidente-executivo da Ibá, membro do conselho do Todos Pela Educação e
ex-governador do Espírito Santo

O Brasil tem todas as condições para expandir seus plantios, sobretudo em áreas degradadas

Copas de árvores vistas de baixo
Foto: GETTY IMAGES

Neste rápido mundo da inovação, podemos afirmar que quase tudo o que é hoje feito a partir dos materiais fósseis poderá ser feito a partir das árvores cultivadas. O Brasil precisa entender isto e dedicar parte de sua inteligência e de seus recursos para inovação nesta direção, além de acabar com burocracias que atravancam esse segmento. Governos, universidades, fabricantes de equipamentos, usuários e investidores em árvores cultivadas precisam se unir para impulsionar o potencial de clima e tecnologias já disponíveis, e assim consolidar o Brasil como uma nação líder em sustentabilidade, em aplicações da biotecnologia, na produção de biomateriais e de madeira como fonte sustentável. Clima é economia na veia.

Esta talvez seja a forma mais à nossa mão para descarbonizar este país e contribuir para esse desafio que se impõe a todo o planeta. Até porque já temos conhecimento e posição de liderança mundial nesse segmento de base florestal.

O Brasil tem todas as condições para expandir seus plantios, sobretudo em áreas degradadas, pois tem alta tecnologia para produzir árvores resistentes a doenças e tolerantes a secas, com rápido crescimento, elevado rendimento e, sobretudo, sequestrando grandes quantidades de CO2, um dos gases responsáveis pelo aquecimento global.

O plantio de árvores é um vetor de soluções variadas de produtos, de geração de renda e comprovada capacidade de conservação. Por usar áreas previamente degradadas, o setor não compete com a geração de alimentos. Outro impacto positivo do cultivo das árvores é a conservação e uso eficiente da água.

As árvores cultivadas, como o pinus e o eucalipto, colocam o Brasil como referência mundial na produção de celulose e produzem matéria-prima para laminados de diversos tipos e de carvão vegetal, utilizado na indústria do aço, reduzindo os efeitos danosos de materiais de origem fóssil. Das árvores cultivadas também se produz mel, desinfetantes, aromatizantes, espessantes, solventes, vernizes, colas, borracha sintética, tintas para impressão, tecidos, ceras e graxas, papeis para impressão, higiênicos, sanitários, fraldas, embalagens, móveis, palets, caixotarias, etc, etc.

Dentre os componentes das árvores dois se destacam: a celulose e a lignina. A celulose produz diversos tipos de papéis fundamentais ao dia a dia, e com investimentos em inovação também se produzem diversos novos produtos, como por exemplo, tecidos como a viscose. O Brasil conta com unidades já instaladas para esse produto e um substancial aumento de capacidade previsto para esse mercado. O Brasil produz em escala piloto a nanocelulose que é a divisão da fibra de celulose de cerca de 1mm de comprimento em partes por bilhão, formando uma espécie de gel que pode ser aplicado nos papéis, no cimento, nos plásticos, nas tintas, nos tecidos, em substituição aos materiais oriundos do petróleo, dando resistência, viscosidade e outros predicados que adicionam valor. A indústria da cerveja está prestes a adotar as “garrafas de papel” na busca de sustentabilidade. A Carlsberg apresentou dois novos protótipos a partir de fibras de madeira de origem sustentável, para cumprir seu compromisso com zero emissão de carbono. Essa é uma tendência vista também na Coca-Cola Company, Absolut e L’Oreal.

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A lignina, que hoje já é usada pelas fábricas de celulose para a geração de energia elétrica verde, pode ser utilizada na geração de resinas de alta qualidade para a substituição daquelas derivadas do petróleo e fibras de carbono. Seus usos vão da indústria automobilística até a aviação. 


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Processos, como o da pirólise — um tipo de queima — de madeira, que em menos de 30 segundos a transforma em biocombustível, já estão em pleno desenvolvimento no Canadá, com pelo menos duas fábricas em operação, vendendo mais de 45 milhões de litros e substituindo 100% do óleo combustível usado em caldeiras de hospitais, universidades para aquecimento. Existe também uma fábrica na Holanda produzindo cerca de 25 mil toneladas por ano, em escala comercial, para as mesmas aplicações.

O setor já está investindo em novas aplicações e novos produtos de base florestal. Muitas ganharão mercado, podendo, inclusive conquistar espaço de destaque na pauta de exportação brasileira. Mas, para isso, será necessário um trabalho conjunto, com academia, fortalecendo os esforços de pesquisa e desenvolvimento, e com o governo estabelecendo o mercado de carbono e retirando barreiras da competitividade nacional, como é o caso da logística. As mudanças climáticas e a tendência de migração fazem cada vez mais que o futuro seja das árvores. Agora, precisamos pavimentar o caminho para que o Brasil lidere nesse movimento.


Texto originalmente publicado em: Folha Vitória


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Lucas Monteiro

Engenheiro Florestal com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Perícia e Auditoria ambiental . Formação de Auditor nos sistemas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 e FSC® (FM/COC). Experiência em Due Diligence Florestal, mitigação de riscos ambientais e Cadeia de suprimentos da Madeira para mercados internacionais (EUDR e Lacey Act).

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