O estado enfrenta mais um período de chuvas intensas após anos de estiagem, indicando mudanças no sistema hidrológico com potenciais impactos em todo o país.
Segundo a meteorologista e sócia diretora da empresa MetSul, Estael Sias, a enchente histórica de 1941 sempre foi vista como o pior cenário para o Rio Grande do Sul em seus 23 anos de experiência.
No entanto, o estado registra, em maio, o quarto episódio de fortes chuvas e inundações em menos de um ano, ultrapassando a marca de oito décadas atrás. Na última sexta-feira, 3, a cheia do Guaíba, em Porto Alegre, superou essa marca, inundando o centro histórico e levando as autoridades a pedirem a evacuação de vários bairros.
Estael Sias expressa preocupação com a frequência cada vez maior desses eventos extremos, sugerindo que novas ocorrências podem acontecer em intervalos menores de tempo.
Veja também: Pampa tem 30% a menos de vegetação nativa do que tinha em1985 | Florestal Brasil
Além das características geográficas da região, que a tornam propensa a fenômenos climáticos, como o encontro entre sistemas polares e tropicais, as mudanças observadas também são atribuídas ao fenômeno El Niño, em curso desde meados de 2023, e às mudanças climáticas. Estudos realizados pela MetSul confirmam a relação entre alguns eventos extremos recentes e o aquecimento global.
Esses episódios extremos não estão limitados ao Sul do Brasil. Tragédias como as ocorridas em São Sebastião (SP) no ano passado e em Petrópolis (RJ) em 2022 alertam para a recorrência de desastres por inundações e deslizamentos em diferentes regiões do país.
Enquanto o Sul enfrenta chuvas intensas, outras regiões, como o Norte e o Centro-Oeste, enfrentam expectativa de clima mais seco. O aquecimento global tende a alterar o regime de chuvas em todo o país, impactando safras agrícolas, geração de energia e a saúde da Floresta Amazônica, afetando o clima global.
Marcelo Seluchi, coordenador geral de Operação e Modelagem do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), explica que as tempestades atuais se formam devido à onda de calor que afeta a porção central do país e às frentes frias sucessivas vindas da Argentina e Uruguai.
O solo raso do Rio Grande do Sul e as vazões de cheia maiores em comparação com outras regiões do país contribuem para as cheias extremas e a estiagem prolongada que tem afetado a região nos últimos anos.
Rodrigo Paiva, professor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, destaca que análises históricas indicam mudanças no sistema hidrológico, com perspectiva de aumento das cheias dos rios gaúchos.
Em relação às mudanças no padrão de precipitações extremas, como as observadas no Rio Grande do Sul, Paiva alerta que devem aumentar em quase todo o país.
Diante desse cenário, o governo do Rio Grande do Sul prioriza o resgate e atendimento das vítimas das chuvas, em conjunto com as forças nacionais de segurança. Medidas estão em andamento, incluindo a contratação de serviço de radar meteorológico pela Defesa Civil para a Grande Porto Alegre e melhorias na Sala de Situação, que monitora as chuvas e os níveis dos rios.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em visita ao estado, prometeu verbas para recuperação das consequências do desastre e o lançamento de um novo braço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado para obras em encostas.
Segundo o Palácio do Planalto, o governo reconheceu o estado de calamidade pública no Rio Grande do Sul e adotou medidas para auxiliar as autoridades locais, incluindo recursos financeiros e envio de equipes de saúde e segurança.
Fonte: Terra
Descubra mais sobre Florestal Brasil
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.