Dama-escarlate (Stigmatodon vinosus): nova espécie de bromélia de cor vinho é descoberta no Espírito Santo

Encontrada em um inselberg de Nova Venécia, a Stigmatodon vinosus tem brácteas cor de vinho e já é considerada criticamente ameaçada de extinção.

A nova espécie de bromélia no Espírito Santo foi descoberta em um afloramento rochoso isolado no município de Nova Venécia, e está chamando atenção no meio científico pela sua cor vinho intensa e extrema raridade. Batizada de Stigmatodon vinosus, a planta cresce em paredes verticais de granito e pertence à família das Bromeliaceae. Além da beleza única, a espécie enfrenta um destino preocupante: por existir apenas em um ponto do estado e fora de área protegida, já foi classificada como Criticamente em Perigo (CR) pela IUCN. A descoberta, publicada em 2025 na revista Phytotaxa, reforça a importância dos inselbergs como refúgios de biodiversidade no Brasil e o papel urgente da conservação dessas paisagens rochosas.

nova espécie de bromélia no Espírito Santo
Stigmatodon vinosus. A, B. Habitat hiperepilítico em paredes rochosas verticais. C. Indivíduo florido. D. Vista frontal do inflorescência e flor. E, F. Vistas posterior e lateral da inflorescência, mostrando brácteas florais vínicas durante a antese. G. Detalhe de brácteas florais durante a frutificação. (Fotos: A por V.C. Manhães; C-F por E.K. Gozzer; B, G por D.R. Couto)

A Stigmatodon vinosus foi encontrada em um inselberg, termo usado para designar montanhas de rocha exposta que se erguem abruptamente na paisagem. Esses ambientes são conhecidos por abrigar altos níveis de endemismo, ou seja, espécies que só existem ali e em nenhum outro lugar do mundo.

O local da descoberta — uma formação rochosa quase vertical — impôs desafios logísticos à equipe de pesquisadores. Mesmo assim, o esforço compensou: o pequeno grupo de indivíduos observados revela uma planta perfeitamente adaptada à escassez de solo e à alta exposição solar, características típicas desse tipo de ecossistema.

A; B. Visão geral da localidade-tipo de Stigmatodon vinosus, mostrando o inselberg da Pedra da Fortaleza. C. Detalhe do vegetação característica do inselberg. D, E. Paredes rochosas verticais da Pedra da Fortaleza, habitat de plantas vasculares hiperepilíticas, incluindo S. Vinosus. (Fotos: A, D de J.V. Lacerda; B, E por D.R. Couto; C por V.C. Manhães).

Embora a descoberta seja motivo de celebração para a botânica brasileira, ela também acende um alerta vermelho. A Stigmatodon vinosus foi classificada como “Criticamente em Perigo” (CR) segundo os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). A espécie é conhecida apenas em um único ponto do Espírito Santo, fora de qualquer unidade de conservação, o que a torna extremamente vulnerável.

Entre as ameaças potenciais estão o avanço de atividades de mineração, o desmatamento no entorno dos afloramentos, incêndios florestais e até mudanças climáticas locais, que podem alterar o regime de umidade essencial para a sobrevivência da planta. Devido à sua localização restrita, qualquer impacto antrópico pode significar a extinção total da espécie.

Descoberta de uma nova espécie de Bromélia na Mata Atlântica

Além de seu valor científico, a nova bromélia vem despertando o interesse do público pela sua beleza singular. Apelidada pela imprensa de “dama-escarlate”, a planta exibe inflorescências elegantes, com brácteas de cor vinho intenso e flores rosadas, contrastando com o tom cinza das rochas onde cresce. A combinação de delicadeza e resistência faz da espécie um verdadeiro símbolo da biodiversidade capixaba — frágil, rara e ao mesmo tempo resiliente.

nova espécie de bromélia no Espírito Santo
A. Vista frontal da corola mostrando anteras e estigma. B. Vista lateral da corola. C. Detalhe de a bráctea floral. D. Detalhe da cor sépala. E. Sépala preservada em álcool. F. Pétala com estame antesepálico e antepétalo. G. Frente visão do estigma. H. Detalhe dos apêndices das pétalas. Eu. Vista lateral do estigma. J. Ovário. K. Vista frontal da antera. L. Vista dorsal da antera. (Fotos: A–B, G por E.K. Gozzer; C-D por V.C. Manhães; E, F, H–L por E.M. Leme). Bares: A–F = 10 mm; H, K–L = 5 mm; G, I-J = 2 mm

O gênero Stigmatodon pertence à família das Bromeliaceae, subfamília Tillandsioideae, e compreende plantas predominantemente epífitas ou rupícolas, muitas delas endêmicas do Sudeste brasileiro. Com a inclusão da S. vinosus, o gênero ganha uma nova representante adaptada a ambientes extremamente secos e rochosos, ampliando o conhecimento sobre a evolução das bromélias em áreas de altitude e condições extremas.

Os pesquisadores destacam ainda que descobertas como esta reforçam a importância dos inselbergs como refúgios ecológicos pouco estudados, mas essenciais para a conservação de espécies raras. O Espírito Santo, embora pequeno territorialmente, continua se mostrando um dos estados com maior diversidade vegetal do país.

A equipe responsável pela descoberta recomenda ações imediatas de proteção para a área onde a espécie ocorre, incluindo a criação de uma unidade de conservação específica ou acordos de uso sustentável que envolvam os proprietários locais. Também sugerem monitoramento contínuo, coleta de sementes e estudos sobre sua reprodução e dispersão, de modo a evitar que a Stigmatodon vinosus siga o destino de outras espécies extintas antes mesmo de serem compreendidas pela ciência.

“Essas plantas sobrevivem em condições extremas, mas não resistem à indiferença humana”, destacou um dos pesquisadores durante o anúncio da descoberta. “Elas são um lembrete de que a beleza da natureza está muitas vezes escondida em lugares improváveis — e pode desaparecer sem deixar rastros se não agirmos agora.”

Fonte: A wine-bracteate new species of Stigmatodon (Bromeliaceae, Tillandsioideae) from Espírito Santo state, Brazil


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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