Os pesquisadores estudaram 97 espécies de aves e 831 de plantas frutíferas, em 126 localidades dos seis continentes, usando dados de estudos conduzidos em diversos países. As informações incluíam características como o tamanho da abertura do bico da ave, a frequência de alimentação e o tamanho dos frutos ingeridos.
“O trabalho fez uma análise ampla e conseguiu identificar uma variação até então desconhecida no comportamento alimentar das aves”, destaca a bióloga Camila Ribas, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que não participou do estudo.
No entanto, ela ressalta que a distribuição é um dado impreciso para aves. “É comum encontrar espécies fora da distribuição antes atribuída a elas, o que acaba ampliando a área de ocorrência conhecida”, relata. Outro problema é que a classificação das aves nem sempre é bem resolvida – duas populações podem ser vistas como espécies separadas ou uma única, conforme a definição aplicada por cada pesquisador.
A bióloga considera que estudos com bancos de dados são importantes e podem permitir novas sínteses de processos naturais. “No entanto, é importante fazer trabalho de campo para aumentar a quantidade de informações e melhorar sua qualidade.”
Migração das plantas
Segundo a bióloga Carine Emer, pesquisadora do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro e do Instituto Juruá, na Amazônia, e coautora do artigo, o comportamento das aves pode ter implicações ecológicas importantes. “A tendência é que, com as mudanças climáticas, o ambiente fique cada vez mais estressante para as aves”, antecipa.
Segundo ela, ao passar a selecionar frutos maiores, as aves podem acabar deixando de lado as espécies que produzem frutos menores, que também são importantes na composição das florestas e perdem a carona que pode levá-las para longe da árvore-mãe. Entre as funções ecológicas desempenhadas pelas aves está essa dispersão de sementes, depositadas com as fezes depois de digeridos os frutos. Se essa parceria entre plantas e dispersores falha, algumas plantas podem não conseguir se estabelecer em outras regiões, o que também pode prejudicar a recuperação de áreas degradadas que dependem do aporte de sementes a partir dos locais onde a biodiversidade se mantém.
Outro fator que afeta a dispersão de sementes são as quedas acentuadas da população de animais, processo chamado de defaunação. A redução mundial de dispersores de sementes já diminuiu a capacidade das plantas de se adaptar às mudanças climáticas em 60%, segundo outro artigo publicado na revista Science em janeiro de 2022. Isso acontece em grande parte porque os animais são responsáveis pelo transporte das sementes de 90% das espécies de árvores das florestas tropicais.
Artigos científicos
MARTINS, L. P. et al. Birds optimize fruit size consumed near their geographic range limits. Science. v. 385, n. 6706. 19 jul 2024.
FRICKE, E. C. et al. The effects of defaunation on plants’ capacity to track climate change. Science. v. 375, n. 6577. p. 210-4. 13 jan 2022.
Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.
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