Uma revisão de estudos científicos, publicada na revista Journal of Mountain Science neste mês, mostrou um cenário preocupante para a biodiversidade de campos rupestres. Tais campos são ecossistemas montanhosos brasileiros conhecidos por suas altas biodiversidades e endemismo e apresentam uma vegetação que, apesar de adaptada a condições extremas como solos pobres e alta irradiação solar, enfrenta ameaças crescentes devido à ação humana.

No artigo Germination niche of campo rupestre plants: effects of increased temperature and darkness, pesquisadores da UFMG, da Universidade de Brasília (UnB), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), da Universidade Nacional de Córdoba, na Argentina, e do Centro de Investigaciones sobre Desertificación, da Espanha, revelam como o aquecimento global e as alterações no uso do solo podem impactar a germinação de plantas nos campos rupestres.
Segundo o estudo, o aumento da temperatura e os impactos no ambiente favorecem a germinação de plantas invasoras, enquanto espécies nativas são prejudicadas. A redução na capacidade de germinação das espécies nativas põe em risco a produção de alimentos, os polinizadores e as interações que mantêm a complexa rede da vida no topo das montanhas. A pesquisa também indica que mudanças na temperatura pode alterar o quadro de espécies que conseguem crescer nos ambientes delicados dos campos rupestres.
“No alto das montanhas, um leve aumento de temperatura pode ajudar as sementes a germinar, melhorando a sua capacidade de brotar. Porém, se a temperatura aumenta mais do que o esperado pelas plantas nativas do topo das montanhas, essas plantas, que não estão acostumadas àquela condição, podem não se adaptar a tempo”, explica Geraldo Wilson Fernandes, coordenador do Centro de Conhecimento em Biodiversidade (Biodiv) e professor do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG.
Acesso à luz e tamanho das sementes
Outra constatação feita pelos pesquisadores diz respeito ao fato de que o manejo do solo pelo homem pode influenciar diretamente no nascimento de novas plantas, selecionando somente aquelas mais aptas a germinar na ausência de luz. Segundo Fernandes, há risco de perda da camada natural e de soterramento do solo quando ele é revolvido por máquinas agrícolas ou por outras atividades. “O processo pode atrapalhar a germinação de algumas sementes que precisam de luz. Mostramos que a ausência dessa luz reduz a germinação de espécies nativas em até 90%, com impacto mais severo entre as endêmicas. Já as invasoras não foram afetadas pela escuridão, indicando maior adaptação a distúrbios do solo, como os causados por atividades humanas.”
Os pesquisadores também investigaram as relações entre as mudanças climáticas e o tamanho das sementes. Foi constatado que sementes pequenas, mais sensíveis à luz e à temperatura, podem germinar rapidamente, mas também podem perder a capacidade de germinação quando são soterradas. As sementes grandes, apesar de demorarem mais para germinar, são mais resistentes.
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Segundo o professor do Departamento de Biologia Geral da Unimontes, Walisson Kenedy-Siqueira, “as sementes maiores aguentam melhor as mudanças do ambiente, podendo gerar brotos mais vigorosos. De forma alarmante, o estudo mostrou a necessidade de realizarmos monitoramento contínuo de áreas perturbadas, de desenvolvermos estratégias de restauração ecológica que considerem as necessidades específicas de germinação das espécies nativas e de criarmos políticas públicas para reduzir impactos antrópicos resultantes de atividades como mineração e expansão urbana desordenada”, sugere.
Wallison acrescenta que os resultados apresentados no artigo expõem a vulnerabilidade do campo rupestre. “A conservação desse ecossistema requer ações urgentes para mitigar os efeitos combinados das mudanças climáticas e da perda de habitat”, conclui.
Autores: Walisson Kenedy-Siqueira, Ramiro Aguilar, Fabian Borghetti, Bruno Moreira e Geraldo Wilson Fernandes
Disponível on-line e publicado em 15 de julho
Fonte: UFMG
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