Mudanças climáticas: frio no Brasil, aquecimento na Europa e as perdas do Agro

Segundo climatologista, o aquecimento da temperatura média do planeta acelera a circulação de ar entre a América do Sul e a Antártida, favorecendo eventos como o frio extremo que atinge o Brasil nesta semana.

Forte geada atinge a cidade de Caxias do Sul (RS), nesta quarta-feira (28). A temperatura mínima registrada foi de 1ºC, e há previsão de neve. Foto: LUCA ERBES/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

A onda de frio extremo que chega ao Sul e Sudeste do Brasil nesta semana poderá fazer com que alguns brasileiros questionem se o planeta está, de fato, aquecendo. Sim, está — e há fortes indícios de que a onda de frio seja ela mesma intensificada pelas mudanças climáticas em curso.

A onda deve derrubar as temperaturas nos estados do Sul, Sudeste e de parte do Centro-Oeste até o próximo domingo (1º/8).

Nas serras catarinense e gaúcha, as mínimas previstas são de -10ºC, com sensação térmica de até -25ºC, enquanto Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Campo Grande, São Paulo, Belo Horizonte e Vitória devem registrar as menores temperaturas do ano.Será a segunda onda de frio intenso a atingir a região em menos de um mês. Em 30 de junho, várias cidades do Sul e Sudeste tiveram as menores temperaturas dos últimos anos — marcas que agora poderão ser batidas pela nova onda.

O frio extremo atinge o sul do Brasil enquanto, no Hemisfério Norte, vários países registram recordes de calor e de volume de chuvas.

No Canadá, os termômetros na cidade de Lytton mediram 49,6ºC no fim de junho — marca que superou em 4,6ºC a temperatura mais alta registrada no país até então.

Praia do Canadá com moluscos mortos após onda de calor no fim de junho de 2021 — Foto: Chek News/Reuters
Praia do Canadá com moluscos mortos após onda de calor no fim de junho de 2021 — Foto: Chek News/Reuters

 

Poucas semanas depois, chuvas muito acima dos padrões inundaram cidades na Alemanha e na China. Os eventos extremos nos três países provocaram centenas de mortes.

Danos e destroços de enchentes perto do rio Ahr, na cidade de Bad Neuenahr, em foto de 18 de julho de 2021 na Alemanha — Foto: Thomas Frey/DPA via AP
Danos e destroços de enchentes perto do rio Ahr, na cidade de Bad Neuenahr, em foto de 18 de julho de 2021 na Alemanha — Foto: Thomas Frey/DPA via AP

 

A temperatura da Terra já subiu cerca de 1,2ºC desde o início da era industrial, e as temperaturas devem continuar aumentando a menos que os governos ao redor do mundo tomem medidas para reduzir as emissões. Porém, o aumento das temperaturas médias não quer dizer que ondas de frio não continuarão a ocorrer — nem mesmo que elas não possam se intensificar em situações específicas.

É o caso da massa polar que chega ao Brasil nesta semana, diz à BBC News Brasil o geógrafo e climatologista Francisco Eliseu Aquino, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

O tempo atipicamente frio no Brasil já fez com que os preços internacionais de café e açúcar subissem, e a previsão é de que a sexta-feira seja o dia mais frio do ano, segundo o agrometeorologista Marco Antonio dos Santos, sócio-diretor da Rural Clima.

Em boletim divulgado nesta quinta-feira, Santos disse que o sul de Goiás e o sul de Mato Grosso do Sul, importantes Estados produtores de grãos como o milho, devem enfrentar temperaturas muito frias na sexta-feira, conforme a onda de ar frio avança para o norte.

“Há uma massa de ar polar ganhando ainda mais força em grande parte das regiões produtoras do centro-sul do Brasil”, afirmou Santos. “Com isso, as chances de gear em áreas de café, cana de açúcar, laranja aumentaram drasticamente.”

No Rio Grande do Sul, a onda de frio causou nevascas em ao menos 13 cidades na quarta-feira.

Imagens de televisão mostraram turistas e locais tirando fotos e brincando na neve na cidade de São Francisco de Paula, com temperaturas abaixo de zero.

Nos mercados globais, o clima extremo gerou preocupações com as safras do Brasil, grande exportador de commodities agrícolas.

Os contratos futuros do açúcar bruto negociados na ICE atingiram uma máxima de cinco meses na quinta-feira, à medida que investidores seguiam precificando os efeitos da frente fria no maior produtor global do adoçante.

Operadores indianos assinaram pela primeira vez contratos de exportação de açúcar cinco meses antes dos embarques, já que a provável queda de produção no Brasil levou compradores a garantir suprimentos do país asiático com antecedência.

Os preços do café arábica chegaram a tocar uma máxima de quase sete anos nesta semana, também diante do impacto do frio no Brasil, maior produtor de café do mundo. Há expectativas de que empresas repassem os custos mais elevados aos consumidores.

Estimativas preliminares da estatal Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicaram que apenas as geadas da semana passada afetaram de 150 mil a 200 mil hectares, cerca de 11% da área total de café do país.

A segunda safra de milho do Brasil, que representa de 70% a 75% da produção anual, sofreu com a seca e com as geadas inoportunas em momento em que os agricultores começam a colhê-la.

A situação levou operadores de grãos a abandonar contratos de exportação por meio de cláusulas de “washout”, reduzindo drasticamente as perspectivas de exportação do Brasil neste ano e aumentando a necessidade de importações do cereal.

Fonte: g1 / CNN


Descubra mais sobre Florestal Brasil

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Lucas Monteiro

Engenheiro Florestal com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Perícia e Auditoria ambiental . Formação de Auditor nos sistemas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 e FSC® (FM/COC). Experiência em Due Diligence Florestal, mitigação de riscos ambientais e Cadeia de suprimentos da Madeira para mercados internacionais (EUDR e Lacey Act).

View all posts by Lucas Monteiro →

Comenta ai o que você achou disso...