Mudanças climáticas: Estudo apontará soluções e políticas públicas

O próximo relatório do IPCC, formado por cientistas independentes de todo o mundo, indicará possíveis soluções para o enfrentamento das mudanças climáticas. Texto também traçará o cenário das políticas de mitigação adotadas até agora
Foto: Ibama via Fotos Públicas

Uma Amazônia com campos avançando sobre a floresta, alta mortalidade de árvores, secas intensas, chuvas extremas, incêndios florestais mais frequentes, perda de biodiversidade e emissão de gás carbônico maior do que a capacidade de absorção.

Tudo isso já está ocorrendo, mas tende a se acelerar ainda mais caso as mudanças climáticas globais e o avanço do desmatamento, ambos resultados da ação humana, não sejam contidos, adverte o segundo volume do sexto relatório do IPCC (sigla em inglês para Painel Intergovernamental de Mudança do Clima da ONU, divulgado nesta segunda-feira (28).

A Amazônia ocupa um lugar de destaque no estudo, realizado por 270 cientistas de todo o mundo. Para analisar a situação da maior floresta tropical do mundo, o IPCC se baseou em dezenas de artigos acadêmicos sobre a crise climática na região tanto para descrever impactos já verificados quanto para projetar cenários climáticos.

Desmatamento na Amazônia pode alcançar área de 15 mil Km² em 2022 de acordo com Plataforma de I.A

Com o tema da mitigação, o relatório vai mostrar o que se tem feito, em várias frentes, para evitar e reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Embora o conceito seja simples, colocá-lo em prática não é fácil. As medidas incluem, em especial, a transição do uso de combustíveis fósseis para energias renováveis, acabar com o desmatamento e restaurar sistemas impactados. O principal instrumento para garantir que isso ocorra é o Acordo de Paris, com o qual 195 países se comprometeram em 2015. Porém, mesmo a meta mais ambiciosa — limitar o aquecimento do planeta a 1ºC acima dos níveis pré-industriais até o fim do século — já parece insuficiente, segundo estudos citados pelo IPCC.

Desde o histórico acordo da capital francesa, porém, o monitoramento das emissões mostra resultados decepcionantes. Os últimos sete anos bateram recorde de calor e, em vez de redução, se observou aumento da produção de gases de efeito estufa — em especial, o CO2 e o metano. Este último, que fica mais tempo na atmosfera que o dióxido de carbono, registrou crescimento entre 2020 e 2021, segundo um relatório do Serviço de Monitoramento do Clima da União Europeia, chegando ao dobro do registrado duas décadas antes.

As mais recentes diretrizes para o enfrentamento da mudança do clima

Em novembro, pesquisadores do Projeto Carbono Global divulgaram outro documento mostrando que as emissões de CO2 dos principais setores poluentes — energia e indústria — aumentaram 4,9%, depois de uma queda de 5,4% alcançada em 2020. A redução anterior não parece resultado de políticas de mitigação, mas, provavelmente, está associada ao lockdown devido à pandemia de covid-19, observou o relatório. O Brasil tem apresentado um desempenho ainda mais desfavorável. Enquanto o restante do mundo passou por uma retração das emissões há dois anos, o país registrou uma elevação de 9,5%, puxada, especialmente, pelo aumento do desmatamento.

 (crédito:  Twitter/Reprodução)
Stela Herschmann, mestre em direito e políticas ambientais pela Duke University, especialista em política climática do Observatório do Clima

“O impacto (das emissões) em eventos extremos em muitas partes diferentes do mundo é dramático. Devemos olhar para os eventos recordes de 2021, como a onda de calor no Canadá e as inundações na Alemanha, como um soco na cara para fazer os políticos e o público acordarem para a urgência da emergência climática. Os contínuos aumentos nas concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera indicam que as causas subjacentes ainda precisam ser abordadas”, critica Rowan Sutton, do Centro Nacional de Ciência Atmosférica da Universidade de Reading, na Inglaterra. União Europeia, Índia e China puxaram para cima as emissões globais da indústria e dos transportes.

“Na Amazônia, o desmatamento exerce uma influência sobre incêndios florestais que pode ser mais forte do que a mudança climática”, diz o relatório.

Foi o caso dos incêndios florestais em Roraima entre 2015 e 2016, quando a seca severa provocada por um “super El Niño”, associada ao aumento de estradas e áreas desmatadas, provocaram a maior queimada registrada nessa região da Amazônia.

Em poucas semanas, o estado perdeu até 14 mil km2, ou 9% de sua cobertura vegetal.

Esses incêndios se tornaram mais frequentes no passado recente e tendem a continuar aumentando, mas o desmatamento fomentado pela agropecuária continua sendo a principal causa de mortalidade de árvores. Entre 1988 e 2020, a cobertura florestal reduziu, em média, 13.900 km2 ao ano na Amazônia brasileira, de acordo com o relatório.

A consequência é que, de 2003 a 2008, a Amazônia como um todo passou de “sumidouro” a emissora de gás carbônico, um dos gases do efeito estufa.

Em quatro lugares específicos, a Amazônia também apresentou emissões de carbono entre 2010 e 2018, em razão de desmatamento e de incêndios.

O relatório adverte de que o aumento do fogo, do desmatamento e das secas pode levar à conversão de até metade da floresta amazônica em campo, “um ponto de virada que pode liberar uma quantidade de carbono que aumentaria substancialmente as emissões globais”.

“Além de causar emissões imediatas de gás carbônico, as queimadas constantes induzem mudanças na vegetação, com perda enorme de biodiversidade e alteração substancial na sua estrutura, reduzindo a capacidade natural da floresta em estocar e reciclar nutrientes. Manter grandes áreas de floresta intacta é fundamental para preservar a biodiversidade e controlar o fogo na região”, afirma a ecóloga Ima Vieira, do Museu Goeldi, de Belém.

“A maior mudança seria no que é a Amazônia hoje: um bioma eminentemente florestal. Ao alterar as condições climáticas, o ciclo hidrológico, a umidade e a biodiversidade, são afetadas a funcionalidade e a sobrevivência da floresta. Já há estudos mostrando que o leste e sul do Pará estão na iminência de cruzar um ponto crítico que as conduzirá à rápida conversão em uma formação vegetal constituída por arbustos, gramíneas e árvores de médio e pequeno portes”, completa a pesquisadora.

Fontes: Correio Braziliense / Midia News


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Lucas Monteiro

Engenheiro Florestal com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Perícia e Auditoria ambiental . Formação de Auditor nos sistemas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 e FSC® (FM/COC). Experiência em Due Diligence Florestal, mitigação de riscos ambientais e Cadeia de suprimentos da Madeira para mercados internacionais (EUDR e Lacey Act).

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