Melhores resultados em saúde mental estão associados a maiores coberturas arbóreas

Melhores resultados em saúde mental estão associados a maiores coberturas arbóreas

Uma pesquisa realizada em Porto Alegre demonstra a relação do verde no ambiente da cidade com diagnósticos de depressão e ansiedade
Porto Alegre é a cidade mais populosa do Rio Grande do Sul. Foto: Julio Ferreira / PMPA

 

Vista para prédios e pouco contato com a natureza, essa é a realidade de muitos brasileiros que moram nas principais cidades do mundo. A previsão é que esse estilo de vida alcance mais pessoas segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), a expectativa é que quase 75% da população mundial resida em áreas urbanas em 2050. Considerando esse cenário, pesquisadores da Universidade Do Vale Do Rio Dos Sinos (UNISINOS) procuraram entender quais os efeitos que a falta de áreas verdes, consequência da urbanização desenfreada, e as variações do Índice de Desenvolvimento Humano implicam na saúde mental.

Não é de hoje que os benefícios de estar próximo a áreas verdes são constatados. O contato com a natureza tem relação com a diminuição da pressão arterial, redução dos hormônios associados ao estresse, melhora dos batimentos cardíacos, do humor, da função cognitiva, com o controle da ansiedade e depressão, e proporciona calma e tranquilidade. O interesse agora é compreender quais os malefícios causados pela falta desse contato.

A imponência da cidade expõe a população aos estressores ambientais. Simultaneamente à urbanização, diagnósticos de depressão cresceram, os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sugerem um aumento significativo do número de indivíduos que reportaram o diagnóstico em um comparativo entre 2013 e 2019. Casos mundiais de ansiedade também subiram, segundo o relatório da World Health Organization (Organização Mundial de Saúde), atualmente há 264 milhões de casos da doença.

Diante do problema, os pesquisadores do artigo publicado na revista Scientific Reports procuraram entender se é possível associar as doenças mentais com fatores demográficos e socioeconômicos na capital do Rio Grande do Sul. Leonardo D. Araújo, graduado em Ciências Biológicas, mestrando no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da UNISINOS, vinculado ao Centro de Excelência em Geoinformática e Computação Visual (VizLab) e um dos autores do estudo sinaliza a motivação da pesquisa: “Pela necessidade de entender as relações entre as classes de uso e ocupação do solo dos bairros de Porto Alegre e os casos diagnosticados de ansiedade e depressão, visto que há uma falta de dados que explorem essa conexão no ambiente urbano, principalmente no Sul Global onde a urbanização gera maiores estressores ambientais devido aos arranjos urbanos mais complexos”.

Segundo Leonardo, o estudo decorreu a partir de uma integração de dados de sensoriamento remoto com dados censitários de saúde pública. Os números relacionados às classes de uso e ocupação do solo foram extraídos da Agência Espacial Europeia (ESA), e combinados com levantamentos de diagnósticos de saúde mental (ansiedade e depressão) organizados e mantidos pela Diretoria de Vigilância em Saúde, através da Equipe de Doenças e Agravos não Transmissíveis (DVS/EVDANT), da Secretaria de Saúde do município de Porto Alegre. Técnicas de geoprocessamento e machine learning – um campo da inteligência artificial que envolve o desenvolvimento de algoritmos capazes de aprender a partir de dados e fazer previsões – permitiram estabelecer as associações.

As áreas com maiores casos de ansiedade e depressão encontradas foram Mario Quintana, Agronomia, Lomba do Pinheiro, Cascata e Vila São José. Os resultados confirmam os efeitos diretos e indiretos da porcentagem de cobertura arbórea e do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) na saúde mental. Quanto maior a área verde, renda e condições sociais em Porto Alegre, menores são os diagnósticos de depressão e ansiedade reportados.

O artigo evidencia que é crucial reconhecer o fardo desproporcional enfrentado pelas comunidades marginalizadas, incluindo indivíduos de baixos rendimentos e minorias raciais ou étnicas. Estas populações estão sujeitas a viver em ambientes poluídos, com difícil acesso a espaços verdes de qualidade, maior exposição a riscos ambientais e infra-estruturas inadequadas. Também está mais propensa aos impactos de futuros extremos climáticos, e a relação entre o aumento ou diminuição da temperatura urbana local, que possui conexão com impactos na saúde mental.

“[…] de acordo com o relatório mais recente do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) que reforça que as mudanças nos extremos climáticos se intensificarão com o aumento das temperaturas globais, há uma importante dimensão ética nos impactos dessas mudanças sobre a saúde mental, principalmente as populações de menor status socioeconômico. As áreas verdes urbanas e a urbanização sustentável podem mitigar os efeitos negativos das cidades sobre a saúde mental e melhorar a qualidade de vida da população”, conclui Leonardo.

 


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Heloisa Gamero

Jornalista em formação pela UFSM. Focada em jornalismo ambiental e de direitos humanos.

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