Mato Grosso é um estado privilegiado ambientalmente por acolher três biomas – Pantanal, Amazônia e Cerrado – e, por consequência, ser dotado de extensa vegetação natural. Porém, cada vez mais o Estado vem acumulando perdas ambientais consideráveis. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Mato Grosso é o 2º estado que mais perdeu vegetação natural nos últimos 20 anos, o total de 97,8 mil km quadrados, ficando atrás somente do Pará (123,3 mil km2).
Os dados fazem parte do estudo Contas Econômicas Ambientais da Terra: Contabilidade Física, pesquisa inédita do IBGE que demonstra as mudanças dos estoques do recurso no país de 2000 a 2020. A publicação faz parte dos resultados do Monitoramento da Cobertura e Uso da Terra, realizados e divulgados neste período.
No Brasil, de modo geral, a vegetação campestre e vegetação florestal tiveram uma perda de 513,1 mil km2 entre 2000 e 2020, o equivalente a 6% do território do país. De acordo com o IBGE, grande parte das perdas ocorre na Amazônia Legal.
Em Mato Grosso, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma com a maior área desmatada acumulada é o Cerrado. No entanto, nos últimos anos, a Amazônia é o que tem representado as maiores taxas de desmatamento, que também pode ser atribuída às atividades agrícolas da região.
Segundo o coordenador do Núcleo de Inteligência Territorial do Instituto Centro de Vida (ICV), Vinícius Silgueiro, os resultados da pesquisa do IBGE reforçam os dados do Inpe – que fazem análise e cobertura de solo em Mato Grosso com base em dados do instituto -, em que mostram a expansão do uso da agropecuária sobre áreas de vegetação nativa.
“Especialmente nos últimos quatro anos, o desmatamento na Floresta Amazônica voltou a um alto patamar. É um patamar que, se mantido nos próximos anos, tende a comprometer a própria produção agropecuária. Pois, já é consenso científico e também percebido por quem tá no campo a alteração no regime hídrico e de chuvas, e isso tem uma relação direta com o desmatamento acumulado até agora. Então, é fundamental que se busque uma imediata redução do desmatamento, o melhor aproveitamento das áreas já abertas e a valorização da floresta em pé”, comentou Silgueiro.
Já em relação a expansão de pastagem, o estado mato-grossense tem 45,9 mil km2. Em dois anos, de 2018 a 2020, o Estado ficou em 7º lugar na lista dos estados brasileiros com maior expansão de pastagem com manejo, com 457 km².
A pesquisa do IBGE mostra uma tendência de conversão de uso, onde destaca a expansão de áreas agrícolas sobre as vegetações campestres e pastagem com manejo. As áreas agrícolas têm destaque em Mato Grosso, com 18,1%. De modo geral, no país, de 1985 a 2019, a agropecuária foi responsável por 90% da perda de vegetação natural do Brasil, de acordo com dados do Mapbiomas.
CUIABÁ
Em Cuiabá, houve uma grande degradação, onde obras de infraestrutura também são vetores de degradação do Cerrado. No período das obras do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), por exemplo, foram retiradas do canteiro central de grandes avenidas cerca de 2.500 árvores.
O pesquisador Thadeu Sobral confirmou todos esses dados do IBGE e ressaltou que a perda da vegetação natural é por conta, principalmente, da fronteira agrícola. Segundo ele, o que tem feito o Estado perder cada vez mais a vegetação natural, pelo menos nos últimos oito anos, é a legislação brasileira, que permite o desmatamento.
“Somos um estado, diferente de outros, que temos três tipos de biomas diferentes, temos Pantanal, Amazônia e Cerrado. A grande questão é que a legislação brasileira, mais entre os últimos oito anos, fez o Código Florestal, que permite o desmatamento. Então, quem tem um terreno na Amazônia, por exemplo, vai ter que desmatar menos de quem tem no Cerrado. Mas, basicamente, a perda está relacionada ao quesito do avanço da fronteira agrícola”, explica o professor.
Em relação a qual bioma mais “sofreu” com a perda da vegetação em Mato Grosso, Sobral esclarece que é relativo e cada um sofreu com a sua devida proporção. Porém, ele destaca o Pantanal mato-grossense citando que, nos últimos cinco anos, pessoas tocaram fogo em áreas para grilagem de terra.
Segundo o professor, toda essa perda em Mato Grosso é por questão política, com interesses de uso da terra para agricultura e agropecuária. Para ele, a maioria é irregular e uma forma de evitar mais perdas seria um monitoramento mais severo com imagens de satélites, aplicar multas e, com esses valores, com projetos de preservação do meio ambiente.
“Temos que olhar com dados macro. O que a gente sabe é que estamos desmatando mais do que outros lugares do Brasil. Não importa qual seja o bioma, estamos destruindo tudo, justamente por sermos exportadores de soja, carne. Uma forma de evitar seria aplicar multas mais pesadas, severas, não flexibilizar e investir em um monitoramento para isso. Um monitoramento de satélite em tempo real, de fazer autuação em flagrantes. Fazer esses aditivos e jogar em projetos de conservação e de reflorestamento. E nós sabemos que aqui, na Sema, isso não acontece”, finaliza Sobral.
Fonte: Poconet
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