Mangue de Pedra, ecossistema raro no mundo sofre ameaças da especulação imobiliária

Há quase 10 anos, moradores e ambientalistas da Região dos Lagos lutaram contra o projeto de um resort no entorno do Mangue de Pedra, exemplo raro desse ecossistema no mundo, que fica na Praia da Gorda e, em 2012, a justiça embargou a obra. Hoje, porém, a pressão urbana continua a ameaçar a preservação do local, relevante pela diversidade ambiental e riqueza cultural dentro da comunidade quilombola. Além da especulação imobiliária, obras de pavimentação e drenagem da prefeitura ligaram o alerta dos especialistas.

mangue de pedra

Os mangues são normalmente formados pelo encontro entre rios e águas salgadas, mas, no caso do Mangue de Pedra – e daí a sua singularidade – não há a passagem de um rio, e ele ocorre na beira da praia, alimentado por um aquífero subterrâneo. Apesar de poucos estudos sobre ele, sabe-se que o Mangue das Pedras, que tem cerca de 10 mil metros quadrados, abriga espécies ameaçadas de extinção e endêmicas (ou seja, que só existem naquela região), como o cacto “cabeça branca” e a Jacquinia brasiliensis. Desde 2018, o manguezal e seu entorno foram transformados em Área de Proteção Ambiental (APA), através de um decreto municipal, mas pesquisadores pleiteiam que se crie uma unidade de conservação com regras ainda mais protetivas, o que seria o caso de um Parque Natural ou de um Monumento Natural (Mona).

Além da importância ecológica, o Mangue de Pedra também possui relevância cultural e histórica, pois está inserido na área quilombola da Rasa. No final do século XIX, após a proibição do tráfico negreiro, embarcações clandestinas com escravizados continuaram a desembarcar naquela praia, o que deu origem, posteriormente, às comunidades quilombolas da região. O mangue costuma receber as chamadas marisqueiras, mulheres que catam crustáceos e mariscos entre a vegetação, além dos pescadores locais.

Uma das vozes mais importantes em prol da preservação do espaço é a geóloga Katia Mansur, da UFRJ, que desde 2011 lidera uma pesquisa no local. Apesar das informações dentro de Búzios, inclusive veiculadas pela própria prefeitura, citarem que o mangue é um dos três únicos de pedras no mundo, ela explica que tal estatística não é comprovada, e ela mesma já conheceu outros exemplares, até em Búzios, na Praia de Manguinhos, em tamanho menor, e em São Luis (MA) e nos Galápagos. Mas o fato é que se trata de um bioma muito raro. E que vem sendo ameaçado pela pressão urbana.

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— Fizemos levantamento, por imagens de satélite, que mostra a evolução da área ocupada no entorno do mangue entre 1976, quando havia apenas 1% de ocupação, e 2018, quando o índice já passava dos 50%. Somente entre 2004 e 2018, houve 14% de aumento, então o mangue tem sido pressionado. Isso nos preocupa, porque quanto mais é ocupado, maior a impermeabilização do solo— explicou Mansur.

A impermeabilização citada por Mansur é uma preocupação por causa do impacto que causaria sobre a existência do mangue. Como ele depende de lençol subterrâneo, é necessário que a água da chuva penetre no solo, hoje de terra, ou pelas rochas porosas. Com pavimentação, a água escoaria pelos ralos e manilhas, desabastecendo o aquífero. A ausência de estudos hidrológicos sobre as águas subterrâneas foi justamente um dos argumentos usados pela justiça para cassar a licença da construção do resort Gran Riserva, em 2012, que seria feito na beira da Praia Gorda.

No início desse ano, com o início da nova gestão, a prefeitura iniciou a pavimentação e drenagem de diversos bairros do município, o que preocupou os ambientalistas pelo risco de afetar o entorno do mangue. Em julho, Mansur esteve com o secretário de Obras, Miguel Pereira, e negociou o uso de paralelepípedos intertravados, que, por serem vazados, não impediriam a penetração da água no solo.

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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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