Amazônia Legal movimentou mais de 6,5 milhões de m³ de madeira nativa em 2024 e setor ganham destaque às vésperas da COP30

Anuário Timberflow aponta leve retração no volume total, mas reforça avanços em rastreabilidade e manejo florestal sustentável; Pará concentrou 40% das transações e será sede da COP30 em 2025.
A Amazônia Legal movimentou 6,57 milhões de metros cúbicos de madeira nativa em tora em 2024, segundo o Anuário Timberflow 2025, elaborado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora). O levantamento reúne dados oficiais do IBAMA, SEMAS/PA e SEMA/MT, revelando que, mesmo com uma leve retração de 0,32% em relação ao ano anterior, a região mantém forte atividade florestal sob bases legais e sustentáveis.

O destaque do relatório ocorre em um momento simbólico: às vésperas da COP30, que será sediada em Belém (PA), o principal estado produtor de madeira nativa do país. O evento internacional coloca em pauta as soluções amazônicas para o clima — e entre elas, o manejo florestal sustentável surge como um dos modelos mais eficazes de conciliar produção, conservação e desenvolvimento.

Esse sistema de manejo consiste no uso planejado e controlado dos recursos madeireiros, garantindo que apenas o volume autorizado de árvores seja extraído, de forma a permitir a regeneração natural da floresta. Na prática, o modelo mantém a cobertura florestal, gera emprego e renda local e estimula cadeias produtivas legais e rastreáveis, servindo como exemplo de economia verde em escala real. À medida que a COP30 se aproxima, esse modelo ganha relevância global como instrumento para mitigar o desmatamento e alinhar o setor florestal brasileiro às exigências de sustentabilidade impostas pelos novos mercados internacionais.

Exploração de madeira em Rondônia – Foto: Vicente Sampaio/Imaflora

Madeira nativa e o desafio da rastreabilidade

O Anuário Timberflow mostra que a comercialização de madeira amazônica está cada vez mais concentrada e dependente de poucos polos produtivos. Pará, Mato Grosso e Rondônia respondem juntos por quase 80% da madeira em tora transacionada. O Pará lidera com 2,63 milhões de m³ (40,02%), seguido por Mato Grosso (1,62 milhão; 24,7%) e Rondônia (857 mil; 13%).

O Infográfico resume os principais resultados do levantamento. Fonte: Infográfico Imaflora
Raking municipal de venda de todas – Fonte: Infografico Imaflora

Portel e Prainha: polos paraenses no topo do ranking

No mapa municipal, Portel (483 mil m³) e Prainha (309 mil m³) aparecem como os maiores polos de extração e comercializaç

ão da Amazônia, concentrando juntos cerca de 30% da produção estadual. Outros municípios, como Juruti (PA) e Mazagão (AP), também registraram crescimento expressivo, o que reforça a importância da descentralização e do controle territorial.

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Espécies mais exploradas e riscos ambientais

Espécies mais exploradas – Fonte: Infografico Imaflora

A cadeia madeireira amazônica segue ancorada em quatro espécies de alto valor econômico e ecológico: Maçaranduba (Manilkara huberi), Angelim (Dinizia excelsa), Cupiúba (Goupia glabra) e Cumaru (Dipteryx odorata). Juntas, elas somam 1,46 milhão de m³, o equivalente a um quarto do total comercializado em 2024.

De acordo com o Imaflora, a diversificação da base florestal é essencial para garantir a sustentabilidade de longo prazo do manejo, evitando que a demanda se concentre apenas nas espécies mais valorizadas pelo mercado. Além de reduzir o risco ambiental, a diversificação amplia oportunidades de negócio, estimula o uso de madeiras menos conhecidas e favorece o fortalecimento de cadeias regionais mais resilientes. Às vésperas da COP30 em Belém, o tema ganha relevância estratégica, pois conecta diretamente as discussões sobre clima, biodiversidade e economia florestal sustentável. A mensagem do relatório é clara: sem políticas públicas, incentivos e inovação tecnológica que estimulem o uso de múltiplas espécies, o setor florestal amazônico pode comprometer seu próprio potencial de renovação — colocando em risco tanto a floresta quanto a estabilidade de uma das cadeias mais importantes da bioeconomia brasileira.

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Exportações crescem, com EUA e Europa no topo

As exportações de madeira nativa da Amazônia Legal atingiram 203 mil m³ em 2024, um aumento de 196% em relação ao ano anterior. Os Estados Unidos foram o principal destino (27,4% do total), seguidos por Holanda (11,9%) e França (11,6%).

O Pará lidera também nas exportações, com 125 mil m³ enviados ao exterior, enquanto Mato Grosso e Rondônia completam o pódio. Esse desempenho ocorre em meio à entrada em vigor da Regulamentação Antidesmatamento da União Europeia (EUDR) — que exige comprovação da origem legal e rastreável da madeira —, tema que deve ser amplamente discutido durante a COP30.

Paises que mais importaram madeira do Brasil em 2024 – Fonte: Infográfico Imaflora

Concessões florestais federais: exemplo de legalidade

As Concessões Florestais Federais (CFFs) seguem como referência em manejo sustentável e transparência. Em 2024, foram transacionados 379,6 mil m³ de madeira proveniente dessas áreas, sendo 79% oriundos do Pará, especialmente das Flonas Saracá-Taquera, Altamira e Caxiuanã. Essas concessões funcionam como um modelo de escala com regra, combinando previsibilidade, rastreabilidade e redução de riscos de irregularidades.

Raking das Concessões Florestais Federais que mais venderam toras em 2024 – Fonte: Infográfico Imaflora

Transparência e governança florestal

O Imaflora destaca que o Anuário Timberflow transforma dados públicos — como Documentos de Origem Florestal (DOFs) e Guias Florestais (GF) — em indicadores acionáveis, permitindo que governos, empresas e jornalistas compreendam a dinâmica da cadeia da madeira nativa. Essa metodologia fortalece políticas públicas, due diligence e compras responsáveis, especialmente num cenário em que a Amazônia ocupa o centro do debate climático global.

Fontes: Anuário Timberflow 2025 – Diagnóstico da Madeira Nativa na Amazônia Legal (Imaflora, 2025) / Infográfico / O Liberal

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