Logística florestal: Uma integração entre a produção florestal e a distribuição do produto final

É possível chamar de logística florestal o conjunto de sistemas
logísticos que compõem a cadeia produtiva florestal: logística de
abastecimento ou inbound; logística de produção, interna ou industrial; e
logística de distribuição ou outbound.
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Foto: FIBRIA

O setor florestal brasileiro está fortemente focado na produção de
produtos originários de plantios florestais de basicamente dois gêneros:
Pinus spp. e Eucalyptus spp. Segundo dados da Indústria Brasileira de
Árvores, responsável pela representação institucional da cadeia
produtiva de árvores plantadas no Brasil, a área de árvores plantadas
para fins industriais no país totalizou 7,84 milhões de hectares em
2018, sendo responsável por 90% da utilização para fins industriais.
Deste total, 5,84 milhões de hectares são ocupados por plantios de
eucalipto, localizados principalmente nos estados de Minas Gerais, São
Paulo e Mato Grosso do Sul, enquanto os plantios de pinus ocupam 1,6
milhões de hectares, concentrando-se, principalmente, nos estados do
Paraná e Santa Catarina.
Do ponto de vista econômico, o setor de florestas plantadas tem
crescido a cada ano, sendo responsável por 1,1% de toda a riqueza gerada
no País e cerca de 6,2% do PIB industrial. Além disso, a indústria de
árvores plantadas é responsável pela geração de R$ 11,4 bilhões em
tributos federais, estaduais e municipais, correspondendo a 0,9% de toda
a arrecadação do País. Mesmo com o país passando por uma situação
econômica complicada, a indústria de base florestal fechou 2017 com
superávit de US$ 9 bilhões, ou seja, cresceu cerca de 15% em relação a
2016.
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Foto: INFLOR
“Os produtos gerados pelo setor de florestas plantadas representam
quase 4% do total das exportações brasileiras, o que mostra a
importância das operações de logística outbound para o desempenho do
setor”, comenta o professor-doutor Renato Robert, coordenador do
Laboratório de Abastecimento e Mecanização da Universidade Federal do
Paraná (Fone: 41 3360.4273). Renato possui graduação em Engenharia
Florestal pela Universidade Federal do Paraná (1999), mestrado em
Sustainable Forestry And Land Use Management pela Albert-Ludwigs
Universität Freiburg Alemanha (2004) e doutorado em Engenharia Florestal
pela Universidade Federal do Paraná (2013). Atualmente é professor
naquela Universidade e coordena o curso a distância de Logística
Florestal e o MBA em Gestão Avançada em Logística Florestal a ser
lançado em 2020.
Ainda segundo o professor-doutor, as produtividades alcançadas pelas
florestas plantadas brasileiras alcançam índices muito altos quando
comparados com os de outros países. O rápido crescimento das árvores no
Brasil implica em um grande volume de toras e biomassa que deve ser
aproveitado ao máximo a partir da otimização das operações logísticas.
“A importância da logística no setor vem sendo evidenciada a partir
de uma análise simples acerca da estrutura administrativa das grandes
empresas do setor: até pouco tempo atrás, estas empresas não possuíam um
departamento ou gerência específica de logística e, atualmente, esses
setores especializados de gestão logística das empresas, em alguns
casos, vêm incorporando até mesmo a área de colheita de madeira,
mostrando, assim, uma visão mais ampla do conceito de logística na
cadeia produtiva, pois a colheita é fundamental para o planejamento e a
execução do transporte.”
Operação
Em relação a como é a operação neste setor, Renato diz que,
basicamente, é possível chamar de logística florestal o conjunto de
sistemas logísticos que compõem a cadeia produtiva florestal: logística
de abastecimento ou inbound; logística de produção, interna ou
industrial; e logística de distribuição ou outbound.
“As operações são mais complexas e envolvem muitas operações na fase
de abastecimento, uma vez que a carga transportada se encontra na forma
de toras de madeira e cavacos, na sua grande maioria. Já a logística
interna é muito dependente da natureza do produto que será obtido após o
processo de industrialização e pode ter características que envolvem
enorme quantidade de matéria prima com pouca diversidade até pouca
quantidade com alta diversidade de matéria prima – sortimentos de
madeira.”
A natureza do produto a ser manufaturado influencia muito o tempo de
estocagem em campo ou nos pátios das indústrias, uma vez que a madeira
pode ser suscetível a danos devido a pragas, tensões de crescimento e
outros. “Eu diria que esta é uma das razões em que saber e ter
experiência de trabalho com madeira e suas especificidades garante um
bom perfil profissional exigido para a área de logística florestal.”
Diferenciais
Com relação aos diferenciais da logística no setor florestal, o
professor-doutor diz que o grande diferencial está na movimentação, na
característica e na medição da madeira.
Diferentemente de outros produtos, a madeira necessita de métodos
específicos de medição de suas dimensões, sejam estas feitas em madeira
roliça (toras), cavacos, madeira serrada, lâminas, painéis, etc. Uma
floresta é quase sempre inventariada e medida em volume de madeira
presente na mesma, enquanto que, após passar pelas transformações a
partir da derrubada das árvores, este volume deve ser transformado em
peso ou massa devido à exigência legal dos pesos das cargas a serem
transportadas, ou seja, o transporte a partir da carga máxima permitida a
ser transportada é um grande balizador dentro deste processo.
“Fica, portanto, dentro deste processo um grande desafio que consiste
na determinação com acurácia do fator de transformação do volume das
florestas obtido em metros cúbicos para quilogramas ou toneladas, uma
vez que a relação água-madeira é uma questão de grande complexidade.
Como consequência, é comum ouvir que nas operações de transporte de
madeira se paga, além da madeira, a água que vem transportada junto com
ela. Como exemplo eu diria que devem ser analisados com mais detalhes os
modelos de tarifa em reais por tonelada e reais por viagem, em que são
expostas frequentemente a variações de produtividade, mas não de caixa
de carga, o que traz um menor risco em relação aos modelos de tarifa em
reais por tonelada e reais por metro cúbico, que são mais focados na
acurácia e na qualidade das operações logísticas envolvidas no
processo.”
Além destes detalhes – continua Renato – alguns cases logísticos do
setor envolvem a operação com diferentes modais de transporte, como é o
caso do recebimento e expedição dos produtos para a fábrica da Suzano em
Aracruz, no Espírito Santo. A madeira chega por trem, caminhões e por
barcaças pelo mar e é a partir dali exportada pelo Portocell, que é
dedicado a estas operações. A cabotagem de produtos manufaturados também
é um exemplo interessante em alguns casos onde existe uma longa
distância entre o local de produção e o destino do produto e o tempo de
entrega do produto não é tão apertado.
Além disso, realizar o corte e a extração de madeira e o carregamento
e descarregamento exige muita perícia e destreza dos operadores de
máquinas que realizam estas operações, sendo, portanto, necessários o
treinamento e a capacitação desta mão de obra.
Problemas
Renato também fala sobre os problemas enfrentados na logística neste setor, e como poderiam ser solucionados.
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Um dos problemas da logística de abastecimento de madeira é
relacionado à questão da localização dos plantios florestais. Devido a
fatores de valorização dos terrenos destinados a culturas agrícolas,
muitas empresas florestais optam por realizar seus plantios em áreas
onde a topografia do terreno não é agricultável, mas, sim, possível de
ser plantada com espécies florestais. Nestes casos, as declividades dos
terrenos podem chegar até 37 graus, o que implica em dizer que as
estradas para escoar a produção destes locais possuem maiores
declividades e mais curvas, necessitando de mais manutenção e,
consequentemente, menor velocidade dos veículos. Além disso, a
complexidade da colheita de madeira é maior devido a particularidades do
terreno e à necessidade de segurança máxima nas operações.
“De modo geral, a infraestrutura das estradas que escoam a produção
dos produtos florestais, seja de florestas plantadas ou de nativas,
carece de uma atenção mais especial devido à premissa de que onde há
floresta há chuva, ou seja, o desafio aumenta para realizar o transporte
de produtos florestais em estradas não pavimentadas em áreas úmidas e
muitas vezes com declividade e muitas curvas.”
A solução – segundo o professor-doutor – estaria dentro de uma
política de entendimento, por parte dos stakeholders no transporte
florestal, baseada no conceito de que os valores e a força de trabalho
dispensada nas ações de melhoria em estradas florestais não se tratam de
custos e, sim, de investimentos, uma vez que o horizonte de resposta
dado por estas ações é de longo prazo.
Por outro lado, o setor florestal deve estar atento à logística
outbound para que um comportamento similar ao que ocorre com as
commodities agrícolas não ocorra com os produtos florestais, citando
como exemplo os fretes de retorno com origem no Estado do Mato Grosso,
que hoje possuem valores muito altos devido à grande oferta destas
commodities.
Para os produtos florestais de planos de manejo florestal
sustentáveis, o grande desafio está em buscar um mercado que absorva a
produção a preços justos, uma vez que a competitividade dos produtos
legalizados tem uma concorrência muito forte no que se refere a preços
com a de produtos provenientes de áreas de desmatamento.
Novidades
Renato também destaca que são muitas as novidades na logística neste
segmento. A iniciar pela adoção do termo Logística Florestal 4.0 com
mais frequência, mesmo que ainda em processo de consolidação.
“A Logística Florestal 4.0 pode ser definida como a reestruturação
dos processos e atividades logísticas que ocorrem nas operações
florestais, adaptando-os à tecnologia digital e de automação. Estas
tecnologias são promovidas pela transformação nos modelos de negócios em
geral, por meio da adoção de cloud computing; big data; internet das
coisas; telemetria; inteligência artificial; digital twin; machine
learning e outras tecnologias voltadas à conectividade e ao uso
inteligente e preditivo da informação.”
O uso de telemetria e os dados obtidos com esta tecnologia, aliados a
processos de gestão de pessoas, também são características deste setor,
uma vez que diferentemente de outros setores, a indústria florestal
possui um rigoroso sistema de certificação de suas atividades, a
conhecida certificação florestal.
“Posso citar aqui uma situação bastante comum observada no transporte
de toras de madeira. Devido ao porte e pesos dos veículos de transporte
e das condições das estradas ao trafegar em determinados locais, a
geração de poeira pelos veículos é bastante grande. Essa poeira pode
gerar problemas para as comunidades vizinhas à operação de transporte.
Os dados de telemetria e rastreabilidade podem gerar informações sobre a
velocidade em que veículos passaram em locais onde se deve reduzir a
velocidade devido à geração de poeira e, uma vez detectadas as
irregularidades de condução por parte de motoristas, as ações de gestão
podem ser realizadas, como reciclagem e palestras de conscientização dos
motoristas”, explica Renato.
Além disso, existem cabines móveis que permitem o carregamento do
veículo sem que o motorista saia do mesmo e o uso de tecnologias, como
gruas operadas por realidade virtual, como a Hivision. Ela consiste em
um sistema baseado nos recentes avanços dos óculos de realidade virtual,
câmeras e conectividade, permitindo que o usuário possa operar uma grua
florestal de dentro da cabine do caminhão.
“Eu também citaria como novidade o interesse demonstrado por grande
parte de profissionais do setor florestal que estão cada vez mais
buscando aperfeiçoamento nesta área”, finaliza Renato.
Fonte: LogWeb

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Lucas Monteiro

Engenheiro Florestal com especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho e em Perícia e Auditoria ambiental . Formação de Auditor nos sistemas ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001 e FSC® (FM/COC). Experiência em Due Diligence Florestal, mitigação de riscos ambientais e Cadeia de suprimentos da Madeira para mercados internacionais (EUDR e Lacey Act).

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