‘Jardins do diabo’: a árvore amazônica que abriga um ‘exército assassino’

Em meio à densidade da Floresta Amazônica no Peru e no Brasil, existem clareiras misteriosas que contrastam com a diversidade da vegetação, pois nelas só cresce praticamente uma única espécie de árvore.

São os chamados “jardins do diabo”, onde, segundo rezam crenças locais, habitariam espíritos malignos da floresta.

E segundo as lendas de povos indígenas no Peru, essa única árvore seria a favorita desses espíritos malignos, que, à noite, limpariam as ervas daninhas do jardim e evitariam que qualquer outra planta cresça no local. Por isso, ninguém se atreve a entrar nessas áreas após o pôr do sol.

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No entanto, cientistas da Universidade de Stanford, na Califórnia, encontraram outra explicação para o fenômeno inusitado, quase tão fascinante quanto a versão dos habitantes da floresta.

Formigas vivem dentro do caule da árvore

Realidade alternativa

A árvore que domina os jardins do diabo é a duroia (Duroia hirsuta). Ao estudar clareiras na Floresta Amazônica peruana, os cientistas descobriram que as hastes das folhas das árvores têm inchaços por onde entram e saem pequenas formigas da espécie Myrmelachista schumanni, conhecidas localmente como formiga-limão.

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Essas formigas fazem seus ninhos em câmaras ocas dentro da árvore, que protege seus hóspedes, – e seus ovos e larvas – de predadores. A árvore também oferece espaço para as formigas guardarem seus alimentos, como outros insetos.

Interior do caule

No interior do caule, inseto branco serve de alimento

Em contrapartida, no que passou a ser considerado como um exemplo de interação mutualística na natureza, as formigas oferecem um serviço valioso: eliminam seus inimigos e concorrentes.

As formigas atacam insetos que tentam se alimentar das folhas da árvore, mesmo insetos de grande porte – alguns chegam a ser várias dezenas de vezes maiores do que as formigas. Diante do ‘invasor’, esses soldados minúsculos adotam a seguinte estratégia: identificam seu ponto fraco e atacam, até que ele se renda.

Insetor sobre a folha
Inseto que se parece com um galho é uma ameaça à árvore que hospeda as formigas
Formiga morde a pata do inseto
Por maior que seja, o ‘invasor’ tem um calcanhar de Aquiles… e as formigas sabem disso

Regularmente, pelotões de formigas patrulham a vizinhança.

Quando se deparam com um broto novo, fazem uma inspeção. Se descobrem que é da família de seu hospedeiro, deixam-no em paz. Se é um intruso, o ataque começa mordendo seus ramos.

Mas as formigas não se encarregam apenas de repelir animais que podem trazer danos à árvore. Talvez o mais surpreendente é que elas mantêm afastadas também plantas que competem com ela.

Regularmente, pelotões de formigas patrulham a vizinhança.

Quando se deparam com um broto novo, fazem uma inspeção. Se descobrem que é da família de seu hospedeiro, deixam-no em paz. Se é um intruso, o ataque começa mordendo seus ramos.

Centenas de pequenas garras ferem a planta repetidamente, e injetam ácido fórmico em suas feridas, até ela começar a murchar e morrer.

Sintetizado em laboratório e também conhecido como ácido metanoico, o ácido fórmico é usado como conservante no armazenamento de alimentos e rações.

As formigas que vivem na duroia o usam como arma e herbicida – para garantir que apenas a sua árvore protetora cresça no seu habitat. E foi pelo sabor cítrico de seu ácido, que ela recebeu o nome de formiga-limão.

Fomiga injetando veneno
Injeção de veneno
Veneno se dispersando na folha
Veneno se dispersa…
Folha murcha
… até que a folha murche

Ao assegurar à sua anfitriã mais espaço para expandir sem competição, as formigas garantem também mais moradias para que possam se reproduzir e aumentar seus exércitos.

As formigas são as zeladoras dos jardins do diabo. E algumas de suas colônias são enormes, segundo uma das autoras do estudo da Universidade de Stanford, publicado em 2005, Megan Frederickson.

“A maior colônia, que acredito datar de 807 anos atrás, tem 1,3 mil metros quadrados”, escreveu a especialista.

“E é formada por cerca de três milhões de formigas operárias e 15 mil rainhas.”

Fonte: BBC Brasil


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