Fragmentação florestal ameaça a anta-brasileira na Mata Atlântica

Estudo da Unesp revela que a configuração da paisagem — e não apenas a área total de floresta — define as chances de sobrevivência da anta-brasileira no bioma.

Fragmentação florestal é hoje um dos principais fatores que ameaçam a anta-brasileira (Tapirus terrestris) na Mata Atlântica. Pesquisadores da Unesp monitoraram 42 paisagens em São Paulo e descobriram que não é apenas a quantidade de floresta que influencia a presença da espécie — mas também o arranjo dos fragmentos e o grau de isolamento entre eles. O estudo, publicado na revista Biological Conservation, alerta que a desconexão da paisagem reduz drasticamente a chance de sobrevivência do maior herbívoro da América do Sul, essencial para a regeneração da vegetação e a manutenção do carbono florestal.

Fragmentação florestal
“Jardineiras das florestas”, as antas (Tapirus terrestris) são dispersoras de grandes sementes, contribuindo para a regeneração da vegetação (foto: André Regolin/CBioClima)

As antas são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas tropicais. Conhecidas como as jardineiras das florestas, atuam como dispersoras de grandes sementes, contribuindo para a regeneração da vegetação e para a manutenção do estoque de carbono (leia mais em: agencia.fapesp.br/54992). No entanto, a destruição da Mata Atlântica tem limitado a presença da espécie.

“Essa espécie está distribuída em vários biomas do Brasil, ocorrendo na Caatinga, Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal e Cerrado. Mas o estudo foca nas áreas de interior na Mata Atlântica, onde a vegetação é mais seca. Essas regiões foram desmatadas desde o período colonial, então hoje restam poucos fragmentos”, diz André Regolin, pesquisador do Instituto de Biociências (IB) da Unesp, campus de Rio Claro, e primeiro autor do estudo. “O que mostramos neste estudo é que importa muito o arranjo desses fragmentos. Se estão próximos entre si ou se há um tamanho mínimo adequado, as chances de encontrar a espécie aumentam. À medida que a paisagem se fragmenta, a espécie some.”

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Mauro Galetti, último autor do paper, é um dos coordenadores do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças do Clima (CBioClima) – um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.

Outro ponto importante é que a fragmentação provoca outros efeitos. “O aumento de rodovias cortando áreas naturais eleva o número de atropelamentos. A caça também representa uma ameaça significativa. Quanto mais fragmentada a paisagem, mais fácil é o acesso às áreas e, consequentemente, aumenta a caça”, explica Regolin. “Mesmo quando não há uma divisão completa da floresta, áreas com formatos muito irregulares, cheias de bordas, tornam o interior da mata mais vulnerável.” Seria fundamental, portanto, restaurar e reconectar os fragmentos florestais.

Uma estratégia de conservação consiste em aproximar os fragmentos e restaurar as áreas degradadas entre eles.

As conexões são essenciais por possibilitarem o chamado efeito de resgate, que ocorre quando uma população saudável, com crescimento positivo, pode sustentar outra em declínio.

Trabalhos como esse são fundamentais para identificar onde é necessário proteger, destacar a importância de conectar as áreas e estimar o risco de extinção das espécies, pois é possível compreender a distribuição das populações, estimar seu tamanho e, a partir dessas informações, analisar o risco de extinção em diferentes regiões (leia mais em: agencia.fapesp.br/56062).

O artigo Habitat fragmentation explains the occupancy probability of the largest herbivore in the Neotropical forests pode ser lido em: sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0006320725004501.

  • Gabriela Andrietta é bolsista de Jornalismo Científico da FAPESP vinculada ao CBioClima.

Fonte: Agência FAPESP


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Arthur Brasil

Engenheiro Florestal formado pela FAEF. Especialista em Adequação Ambiental de Propriedades Rurais. Contribuo para o Florestal Brasil desde o inicio junto ao Lucas Monteiro e Reure Macena. Produzo conteúdo em diferentes níveis.

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