Fóssil de cogumelo mais antigo do mundo é achado no Brasil

Fungo de 115 milhões de anos encontrado em sítio paleontológico no
Nordeste pode ajudar no estudo da transição das plantas da água para
terra

 Fonte: HEADS, SAM et al./PLUS ONE

O fóssil de um pequeno cogumelo foi capaz de resistir à ação de milhões
de anos até ser encontrado por pesquisadores norte-americanos na bacia
do Araripe, depósito de rochas formadas por sedimentos localizado na
divisa dos estados do Ceará, Piauí e Pernambuco. A descoberta se deu ao
acaso, enquanto o paleontólogo Sam Heads, do Instituto de Pesquisa em
História Natural da Universidade de Illinois, Estados Unidos,
digitalizava uma coleção de fósseis encontrados nessa região do Brasil,
conhecida por ser uma das poucas no mundo a abrigar uma grande variedade
de fósseis muito bem preservados de organismos pré-históricos. Até onde
se sabe, esse é o fóssil de cogumelo mais antigo do mundo, o primeiro
do período Cretáceo, com 115 milhões de anos. Antes dele, o mais antigo
havia sido encontrado em âmbar —resina fossilizada de árvores— no
Sudeste asiático, datado de cerca de 99 milhões.

Para a paleontóloga Mírian Pacheco, do Departamento de Biologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus
de Sorocaba, que não participou da pesquisa, é surpreendente um
cogumelo conseguir resistir à ação do tempo dessa maneira. “Esses fungos
são formas de vida efêmeras e de baixo potencial de fossilização,
preservando-se apenas em condições excepcionais, como as verificadas na
bacia do Araripe”, diz ela. “Trata-se de um achado raro e muito importante para a reconstituição paleoambiental.” O fungo foi batizado de Gondwanagaricites magnificus
pelos pesquisadores norte-americanos, que estimam que o cogumelo tenha
habitado o Nordeste brasileiro no contexto do Gondwana, o
supercontinente formado há cerca de 200 milhões de anos e que agrupava
América do Sul, África, Madagascar, Índia, Oceania e a Antártida. O
fungo tem cerca de 5 centímetros de altura e cor marrom alaranjada.
A hipótese da equipe de Sam Heads é que o cogumelo deve ter caído em um
rio e sido levado a uma lagoa salina, onde foi envolto por camadas
estratificadas de água salgada até ser coberto por sedimentos finos. Com
o tempo, o organismo foi mineralizado, e seus tecidos aos poucos
substituídos por pirita, mineral composto basicamente por ferro e
enxofre, conforme descreveram em um artigo publicado na revista PLOS ONE
no dia 7 de junho. No entanto, análises mais rigorosas da composição
química e mineral do fóssil ainda são necessárias para validar essa
hipótese. Seja como for, destaca o geólogo Gabriel Osés, do Programa de
Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da UFSCar, campus
São Carlos, o achado amplia as perspectivas de pesquisas sobre a forma
como esses fósseis se preservam. “O estudo contribui para calibrar a
evolução das relações de parentescos ente os fungos ao longo do tempo
geológico”, afirma.
Os fungos estão entre os organismos mais diversos deste planeta e
apresentam um papel chave na biosfera e, consequentemente, fazem parte
dos processos que explicam as origens da diversificação biológica entre
organismos macroscópicos. Eles são capazes de decompor a matéria
orgânica, participando ativamente na ciclagem de nutrientes, crucial na
estrutura dos ecossistemas. As evidências científicas coletadas e
analisadas até agora sugerem que, ecologicamente, os fungos tenham tido
um papel muito importante no estabelecimento e na diversificação das
plantas em ambientes terrestres. Desse modo, é possível que o fóssil
apresentado no estudo na PLOS ONE ajude a explicar como se deu a
transição das plantas do ambiente aquático para o terrestre, ainda que
esses organismos pertençam a reinos distintos.
Fontes: Revista Pesquisa Fapesp, HEADS, Sam W. et al. The oldest fossil mushroom. PLOS ONE. 7 jun. 2017. 

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