Fora do Radar na COP30 expõe como riscos territoriais e regulatórios travam investimentos de alta integridade na Amazônia

Com PF e Ibama, encontro relaciona riscos de território e regulação ao fracasso de metas de clima e biodiversidade e pede operações binacionais, previsibilidade jurídica e avaliação de risco desde o desenho dos projetos.

Belém (PA), novembro 2025 – Na programação da Estação Amazônia Sempre, no Museu Paraense Emílio Goeldi, um painel organizado pelo Instituto Igarapé e pela Amazon Investor Coalition (AIC) colocou sob holofotes um tema que costuma passar “fora do radar” de decisões de governo e de financiadores: a convergência entre insegurança territorial, degradação ambiental e fragilidade regulatória como freio para metas de clima e biodiversidade – e para a entrada de capital responsável no Brasil e na Colômbia. O debate marcou a promoção do relatório conjunto lançado em setembro e defendeu uma agenda combinando Estado de Direito efetivo, destinação fundiária e cooperação transfronteiriça.

O encontro reuniu lideranças do setor público, da filantropia, da pesquisa e do investimento de impacto. Na mesa, o diretor de Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal, Humberto Freire, defendeu a presença contínua do Estado e integração internacional de inteligência para sufocar o crime organizado na floresta. “Sem presença duradoura do Estado e coordenação entre países, nós só deslocamos o crime de um lado da fronteira para o outro. É preciso alinhar operações, fechar brechas regulatórias e atacar a corrupção que sustenta as cadeias ilegais”, afirmou Freire, citando grilagem, mineração e madeira ilegais como vetores que corroem a confiança de investidores e comunidades.

Também presente ao evento, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, reforçou que segurança territorial é condição para a transição ecológica. “Não há descarbonização possível onde prevalece a lei do mais forte. Destinação de terras, fiscalização moderna e previsibilidade regulatória são a base para investimentos de alta integridade”, disse. Para ele, tecnologia, inteligência e cooperação com Estados e municípios precisam caminhar com estabilidade normativa para dar escala à bioeconomia e a projetos de conservação.

O presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, reforçou que segurança territorial é condição para a transição ecológica. Foto: Divulgação

 

Ao abrir o painel, Robert Muggah, co-fundador do Instituto Igarapé, e Yane Amoras Lima, Diretora Jurídica de Pesquisa da AIC, resumiram achados do relatório Fora do Radar, que ouviu atores do Brasil e da Colômbia entre outubro de 2024 e abril de 2025. O estudo indica que organizações da sociedade civil relatam maior exposição à violência e a incertezas regulatórias do que atores privados, e recomenda uma dupla estratégia: fortalecer instituições oficiais e adotar modelos híbridos de governança enraizados nas realidades locais – com avaliação de risco territorial e regulatório incorporada desde o desenho dos projetos.

Na dimensão financeira e filantrópica, Lyana Latorre, da Fundação Rockefeller, defendeu capital paciente e instrumentos de mitigação de risco ancorados no território. “Precisamos investir na capacidade dos implementadores locais e remunerar desempenho socioambiental. Integridade e impacto andam juntos quando medimos o que importa e quando o território está protegido”, afirmou.

Entre as prioridades destacadas pelos painelistas estão a cooperação Brasil–Colômbia para evitar “efeito empurra-empurra” do crime entre lados da fronteira e alinhar operações e tipificações; destinação fundiária e ordenamento do território para reduzir conflitos, proteger áreas indígenas e assegurar previsibilidade de longo prazo; regulação clara e estável, com due diligence territorial exigida por investidores e doadores desde a originação dos projetos; e fiscalização 4.0 (satélites, dados e inteligência) combinada com presença permanente de Estado e justiça célere.

O painel integrou a Estação Amazônia Sempre, hub de debates no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi durante a COP30, que reúne mais de uma centena de atividades sobre os desafios e soluções amazônicas.

Contatos para imprensa

Elias Serejo | Jornalista SRTE/Pa 2258 | eliassantos1001@gmail.com | 91991668455


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